31 outubro 2013
Transcrevemos a seguir um interessante artigo do padre Oscar González Quevedo (Fonte: Lista “Reflexões” – www.veritatis.com.br) sobre corpos de santos que não se corromperam após a morte.
No livro do Eclesiastes, se lê esta frase: “Lembra-te que és pó. E ao
pó retornarás”. Além de lembrar ao homem sua condição perecível e
transitória, esta sentença recorda a aniquilação física, a decomposição
do organismo, após a morte. A realidade é constatada quase
universalmente. Digo quase universalmente, por se darem exceções, embora
raríssimas, de não decomposição física. Exceção esta conhecida pelo
nome de Incorrupção. A Incorrupção é a preservação do corpo humano da
deteriorização que comumente afeta todo organismo poucos dias após a
morte. É evidente que são excluídas as mumificações, as saponificações e
outros processos químicos de preservação dos corpos dos mortos; pois
seriam incorrupções artificiais.
O primeiro documento de autenticidade indiscutível que relata uma
Incorrupção, data do século IV e é redigido por Paulino, secretário de
Santo Ambrósio, Bispo de Milão: este documento é redigido em forma de
carta dirigida ao Bispo de Hipona, Santo Agostinho. Paulino descreve o
descobrimento feito por Ambrósio: “Por este tempo, ele (Ambrósio)
encontrou o corpo do mártir Nazário que se encontrava enterrado num
jardim fora da cidade de Milão; recolheu o corpo e o transladou para a
Basílica dos Apóstolos. No túmulo foi encontrada a cabeça que fora
decepada pelos inimigos, em perfeito estado, como se tivesse apenas sido
colocada junto ao corpo, do qual emanava sangue vivo e uma fragrância
que superava todos os perfumes”. Tinham transcorrido 200 anos do
martírio.
Mais preciso e mais digno de crédito é o relato de Eugippius acerca
do corpo de São Severino, bispo de Noricum, morto em 482. Seis anos após
sua morte, o corpo foi encontrado incorrupto.
Embora existam muitos outros casos a partir do século IV até o século
XVI, interessam-nos mais as preservações a partir do século XVI, por
possuirmos fontes históricas mais comprovadas e mais fidedignas.
Em 19 de outubro de 1634, falecia a Madre Inês de Jesus, priora de
Langeac. Seu corpo, sem sofrer qualquer processo de extração de
entranhas ou de embalsamento, foi sepultado na sala capitular, ao lado
de outros membros da comunidade. Passados alguns anos, o Sr. Bispo, em
vista do processo de Beatificação, ordenou que seus restos fossem
exumados. O corpo foi encontrado sem sinal de decomposição.
Transladações e verificações foram realizadas até o ano de 1770. Em 1698
e 1770, cientistas, cirurgiões e médicos declararam que humanamente, a
preservação do corpo era inexplicável.
São Vicente de Paula faleceu em 1660, para atender aos pedidos de
canonização a exumação do corpo foi feita em 1712, depois de mais de 50
anos de sua morte. Aberto o túmulo, na expressão de uma testemunha
ocular “tudo estava como quando foi enterrado”.
Quantos puderam vê-lo, observaram que seu corpo estava em perfeitas
condições e os médicos atestaram que o corpo não podia ter sido
preservado por meio natural algum, durante tanto tempo.
A beata Maria Ana de Jesus, terciária da ordem de Nossa Senhora da
Redenção, nascida em Madrid e falecida na mesma cidade em 1642; teve o
corpo preservado da decomposição. Pouco depois de sua morte, o Cardeal
Treso, Bispo de Málaga e presidente da Castela; que a conhecera
pessoalmente em vida, no processo de beatificação, declara ter estado
presente na primeira exumação e afirma: “Eu vi e me assombrei ao
presenciar que o corpo morto há anos, sem que tivessem sido retiradas as
vísceras ou embalsamado, pudesse estar tão perfeitamente conservado que
nem sequer o abdômen e nem as faces oferecessem sinal de
deteriorização, com exceção de uma mancha nos lábios, embora esta já a
tivesse em vida”.
Em 1731, tendo já transcorridos 107 anos da morte da Serva de Deus,
teve lugar uma inspeção oficial e mais completa, por ordem das
autoridades eclesiásticas interessadas na causa da Beatificação. Os
restos mortais se apresentavam suaves, flexíveis e elásticos ao tacto.
Esta investigação teve lugar em Madrid, tendo sido fácil reunir médicos e
peritos. Nove professores de medicina e cirurgia tomaram parte nas
investigações e depuseram como testemunhas. Foram feitas incisões na
parte carnosa e no peito; foram estudados os orifícios naturais por onde
poderiam Ter sido introduzidos preservativos contra a putrefação. Foi
uma verdadeira dissecação.
Após completar as investigações, os médicos declararam: “Os órgãos
internos, as vísceras e os tecidos carnosos, estavam todos eles
intactos, sãos, úmidos e elásticos”.
Baseada nesse testemunho, a Congregação dos Ritos aceitou a
preservação como fato milagroso, apesar de 35 anos mais tarde, antes que
fosse publicado o decreto de beatificação, uma terceira inspeção
revelasse que na oportunidade, o corpo já não era mais flexível e
brando. Os tecidos tinham endurecido, mas não estavam decompostos.
Do relato aparece claramente que o corpo da Beata fora preservado da
corrupção, não devido a um processo de saponificação ou de mumificação.
Seria incrível que competentes cirurgiões, após as incisões e os exames
das vísceras, descrevessem os tecidos como sãos e intactos se os mesmos
se tivessem se convertido numa massa adipoeira. Além do mais, eles
insistem que o corpo, cem anos depois da morte, estava elástico e
perfeitamente flexível, enquanto que outros corpos enterrados na mesma
cripta, tinham seguido a lei natural da decomposição.
Uma outra narração nos chama a atenção; é a do mártir jesuíta André
Bobola, que tendo combatido com sua palavra, os cismáticos russos,
tornando-se conhecido como o “apóstolo de Pinsk”, atraiu o ódio de seus
adversários, os cossacos; e foi submetido a um cruel martírio. Em mãos
dos cossacos, e recusando-se a aceitar o cisma russo, foi açoitado,
ultrajado de uma maneira incrível. Foi praticamente esfolado vivo,
cortada uma mão, enfiados estiletes de madeira por debaixo das unhas,
arrancada sua língua, e sua fisionomia tão deformada que mal parecia
homem. “Sangrava, afirmava uma testemunha, como um boi no matadouro”.
Após horas de tormento, saciados já os sanguinários e dando apenas
sinais de vida, desferiram-lhe um golpe de espada na garganta. Após
jogar o deformado cadáver numa esterqueira, retiraram-se os cossacos e
os católicos recolheram os restos mutilados e os enterraram às pressas
na cripta da Igreja dos Jesuítas, em Pinsk.
Quarenta e quatro anos mais tarde, o reitor do colégio dos jesuítas
de Pinsk, por uma visão ou sonho que acreditou ser sobrenatural, fez uma
investigação para encontrar o corpo do mártir. Foi encontrado, segundo
todas as aparências, exatamente no mesmo estado em que fora depositado:
com as mutilações, continuava integro e incorrupto; as articulações
continuavam flexíveis; a carne, nas partes menos afetadas pelas
mutilações era elástica e o sangue que cobria o cadáver parecia
recém-coagulado.
O último exame ordenado pela Santa Sé, teve lugar em 1730 – setenta
anos depois da morte. Seis eclesiásticos e cinco médicos mantiveram as
declarações anteriores. Também eles declararam que o corpo, exceto as
feridas causadas pelos assassinos, estava intacto; a carne conservava-se
flexível e que sua preservação não poderia ser atribuída a uma causa
natural.
Em 1835, a preservação do corpo foi aceita pela Congregação dos
Ritos, como um dos milagres exigidos para a beatificação. Segundo
testemunhas, nenhum corpo dos depositados na cripta onde se encontrava o
corpo de André Bobola foi preservado.
Não se pode afirmar que tal fato pertença somente aos séculos
passados; Santa Madalena Sogia Barat, fundadora da sociedade do Sagrado
Coração, faleceu em 1865; vinte e oito anos mais tarde, seu corpo foi
encontrado quase perfeitamente inteiro, embora o ataúde estivesse
parcialmente podre e recoberto de mofo.
Imunidade idêntica foi outorgada a João batista Vianney, o célebre
Cura De Ars que morreu em 1859 e foi beatificado em 1905. Idêntico
privilégio coube à vidente de Lourdes, Bernardete Soubirous; faleceu em
1879 com a idade de 34 anos. Em 1909, passados 30 anos, o corpo foi
exumado e uma testemunha afirma: “Não havia o menor indício de
corrupção. Seu rosto aparecia levemente escurecido e os olhos um tanto
afundados, parecendo estar dormindo”. O corpo foi novamente encerrado
num ataúde juntamente com um informe do estado em que foi encontrado.
Poderíamos continuar a enumerar fatos, mas os já citados são
suficiente para dar um ideia do fenômeno da Incorrupção e sua
inexplicabilidade. Digo inexplicabilidade, porque, apesar de existirem
outros tipos de incorrupção, não coincidem com a exposta.
Corrupção total do corpo e preservação integral de certos órgãos – Se
a preservação total ou parcial da corrupção de alguns corpos é um
assunto intrigante para a ciência e enigmático também para a Igreja,
para a qual a simples constatação da incorrupção não é critério de
santidade, e portanto, milagre evidente, muito mais intrigante e
enigmática é a preservação de um determinado membro de um corpo que foi
reduzido a pó. Será, logicamente, muito mais difícil para a ciência
encontrar uma explicação para tal preservação e um caminho muito mais
aberto e claro para a Igreja afirmar o fato como miraculoso.
Nenhum exemplo poderia ser mais sugestivo para discernir a
Providência Divina do que a preservação parcial do coração de santa
Brígida, da língua de Santo Antonio, de São João Nepomuceno e da beata
Batista Varani.
Santa Brígida, da Suécia faleceu em 23 de julho de 1373. Seus restos
mortais foram exumados; tudo estava reduzido a pó encontrando-se o
coração incorrupto. A atitude da Igreja Católica mostrou-se sempre muito
cautelosa perante fatos inusitados, inclusive perante a incorrupção dos
corpos de pessoas santas. Num levantamento feito pelo competente e
autorizado estudioso de Parapsicologia, Pe. Herbert Thurston, S.J, com
42 santos célebres por sua vida, obra e santidade, entre os quais muitos
foram encontrados incorruptos depois de anos, assevera o mesmo autor
que nenhum deles foi canonizado por ter sido preservado da corrupção.
Há aqueles que afirmam que a sobriedade na comida e na bebida,
característica de todos os ascetas, podem modificar completamente as
condições do metabolismo normal e tende a eliminar certa classe de
micróbios que são mais ativos no processo de putrefação; poderíamos
replicar que existem muitas pessoas pobres ou doentes ou por opção que
são abstêmias, e uma vez mortas, a lei da decomposição as acompanha
normalmente.
A experiência comum mostra que não concorrendo condições extremas
excepcionais, por exemplo, um frio intenso, a decomposição chega, mais
cedo ou mais tarde e que antes de passados 15 dias da morte, são
visíveis os primeiros sinais. E o problema tornar-se-á ainda mais
insolúvel para o cientista ao constatar que as incorrupções são
verificadas em místicos e santos (em ambiente religioso).
Muitos segredos da natureza já foram desvendados, dado o contínuo
progresso das diversas ciências. Há outros, entretanto, que são
indecifráveis porque não só superam as forças e leis da natureza, como
também, e isto é significativo, são característicos do catolicismo, e só
dele.
Não consta historicamente, apesar de aprofundadas pesquisas na
procura, que pessoas de outros credos e em qualquer outro tempo, tenham
manifestado ausência de rigidez cadavérica.
No catolicismo, ela é exclusiva de pessoas que em vida, manifestaram
uma santidade excepcional, mas não de todos os grandes santos, pois
nenhum milagre tem regras fixas.
O primeiro caso de que temos notícias data de 1160 e a primeira
pessoa em que foi verificado foi Rainerio de Pisa. Quem relata o fato é
um contemporâneo e, ao que tudo indica, digno de crédito. “Seus membros
não demonstravam depois da morte, nenhum sinal de rigidez. Pelo
contrário, conservavam-se úmidos e molhados de suor e eram tão flexíveis
como os de um homem vivo”.
Pouco mais de meio século depois (1226), ocorreu a morte de São
Francisco e Assis. O novo superior da Ordem, o irmão Elias, num
comunicado aos demais confrades, descreveu minuciosamente como durante
os últimos dias, Francisco era incapaz de levantar a cabeça. Seus
membros “estavam rígidos como os de um morto”. Mas depois de sua morte…
os membros antes rígidos se tornaram flexíveis.
Pelo menos 50 casos bem estudados de ausência de rigidez cadavérica
existem entre santos da Igreja católica, desde o século 12 até nossos
dias.
Exemplos - Parece oportuno agora falar um pouco sobre o aspecto fisiológico da questão do “Rigor mortis”.
Thurston revisou os manuais clássicos ingleses, franceses, alemães,
espanhóis e italianos sobre jurisprudência médica: “Não descobri nenhum
que reconhecesse a possibilidade de alguém estar isento da rigidez
cadavérica”.
Há alguma variação com respeito a hora do aparecimento e término da
rigidez: pode variar algumas horas dependendo do clima e do continente.
Para a Inglaterra, por exemplo, o Prof. Glaister declara:
“Ordinariamente a rigidez começa no pescoço, mandíbula e no rosto,
cinco ou seis horas após a morte. Após dez horas, abrange toda a parte
superior do corpo, e doze a dezoito horas após a morte, afetará todo o
corpo”.
Segundo E. Harnack, médico alemão, na maioria dos casos, a rigidez chega a ser completa no prazo de 5 a 6 horas após a morte.
“Com toda a probabilidade, a rigidez terminará na maioria dos casos,
transcorridas 36 horas”, dando origem à corrupção. Segundo os clássicos
alemães, porém, a rigidez cadavérica dura habitualmente 72 horas.
O “rigor mortis” pode demorar em aparecer até 16 horas após a morte e
permanecer até 21 dias, mas ambos são casos e circunstâncias
raríssimas, como determinadas substâncias usadas na medicação. Nas
doenças de consumpção, de curta ou prolongada duração, a rigidez pode
começar imediatamente após a morte e desaparecer logo, iniciando-se
imediatamente a putrefação.
O número de casos em que não se verificaram traços de rigidez
cadavérica é grande para enumerar e discutir um por um. Cadáveres que
destilam óleo – Surpreendente constatação:
Certos cadáveres, anos após a sepultura e até séculos depois,
destilam um líquido semelhante ao óleo vegetal. Outros, em idênticas
condições, sem causa que o justifique, emitem água. É relativamente
comum que este líquido brote de qualquer incisão feita nos corpos
preservados da corrupção.
Os católicos gregos, antes do cisma da Igreja oriental, tinham um
nome especial para determinados e numerosos casos de cadáveres de
santos: “movoblútai”, isto é, “destiladores de óleo”.
O Papa Bento XIV exige (e garante nestes casos) para afirmar a
realidade do prodígio da água e do óleo, que tenham sido removidas todas
as causas naturais, como a infiltração da água ou a possibilidade de
ter sido colocado algum líquido. Os restos mortais devem ficar em lugar
apropriado e completamente seco, excluindo-se qualquer possibilidade de
intervenção humana.
Aqui nos defrontamos com um fenômeno de todo inusitado e inexplicável
para o qual a ciência não pode encontrar nenhuma explicação razoável e
satisfatória, apesar de tratar-se de casos fáceis de examinar e
constatar qualquer vestígio de explicação, caso esta fosse possível. A
evidência do fato é indiscutível.
A Parapsicologia não encontra sequer uma hipótese que possa dar uma
pista ou tênue esperança de solução. A Parapsicologia no seu caminhar no
estudo do maravilhoso, se defronta, uma vez mais, com o absoluto Senhor
da Vida, que pode manifestar-se igualmente na morte, para testemunhar a
Doutrina e santidade de seus santos.
_____________________Do Livro: “O Culto dos Santos, Imagens e Relíquias”
Fonte: Prof. Felipe Aquino
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