ihu - Embora as conversas sobre as finais da liga de futebol
americano foram o assunto predominante nos EUA no último fim de semana,
tivemos um outro momento bastante ocupado com histórias envolvendo o
atual papa, fato que vem sendo comum durante este papado cujo líder
máximo não tem um botão de “desligar”. O que se segue é um apanhado de
histórias que bombaram e que jogaram luz sobre alguns aspectos da
história do Papa Francisco.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por National Catholic Reporter, 20-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Bergoglio nasceu em uma família de imigrantes
italianos na Argentina e agora está retornando o favor como bispo de
Roma. Isso pode ajudar na explicação da paixão especial que ele tem por
imigrantes, que está entre as características de seu papado e que ficou
em evidência novamente no domingo, durante a visita feita à paróquia
romana de Sacro Cuore di Gesù a Castro Pretorio.
A paróquia administrada pelos salesianos, localizada próximo da principal estação de trem de Roma (a Estação Termini), é conhecida pelo seu trabalho junto aos desabrigados e à população de imigrantes.
Durante sua visita paroquial, Francisco fez questão
de se encontrar com um grupo de 60 desabrigados e com cerca de 100
jovens imigrantes, além de voluntários da paróquia que com eles
trabalham.
Durante o discurso de Ângelus, na manhã de domingo, o Papa Francisco
falou aos imigrantes que “vocês estão próximos do coração da Igreja” e
disse que ele muitas vezes pensa nas dificuldades que muitos deles são
forçados a suportar.
Empregando uma linguagem dura, o papa citou o beato Giovanni Battista Scalabrini,
bispo italiano do século XIX, fundador de uma ordem religiosa
especializada no trabalho com os imigrantes e refugiados. Na ocasião,
condenou os “mercadores de carne humana” que traficam migrantes.
O papa também pediu aos países ricos para “acolherem” os imigrantes e para “preservarem seus valores”.
O dia 19 de janeiro é considerado pela Igreja Católica como o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados.
Numa mensagem para a ocasião, divulgada em agosto do ano passado, o
pontífice insistiu que os imigrantes não são “peões no tabuleiro da
humanidade”.
Esta foi a quarta visita do papa a uma paróquia romana desde sua
eleição. Tal como tem feito em outras ocasiões, ele não teve texto
preparado para sua homilia, que se focou na leitura do evangelho de João
Batista, dizendo de Jesus: “Eis o cordeiro de Deus que tirai os pecados
do mundo”.
Entre outras coisas, o primeiro papa jesuíta convidou seus ouvintes a se juntarem numa miniversão dos famosos Exercícios Espirituais inacianos, fechando os olhos e se imaginando na cena do Evangelho, dizendo algo a Jesus no silêncio de seus corações.
Papa Pio XII
Na semana passada, um amigo de longa data do papa, o rabino Rabbi Abraham Skorka, de Buenos Aires, esteve em Roma liderando uma delegação judaica da Argentina. Em 2010, os dois publicaram um livro intitulado “Sobre o céu e a terra”.
Apos a reunião que tiveram na semana passada, Skorka concedeu uma entrevista ao jornal Sunday Times, na qual se lê que, entre outras coisas, o papa e o rabino discutiram sobre a possível santidade do Papa Pio XII,
o pontífice dos tempos de guerra cujos arquivos sobre o holocausto
permanecem como um ponto de discórdia entre católicos e judeus.
De acordo com Skorka, Francisco expressou a opinião
de que uma decisão a respeito da beatificação e canonização não deverá
ser feita até que os arquivos do Vaticano, datados da Segunda Guerra
Mundial, sejam completamente abertos, o que vem sendo uma exigência
central por parte dos críticos.
Quando Pio XII foi declarado “venerável”, em dezembro de 2009, um comunicado do Yad Vashem,
um memorial para o holocausto em Jerusalém, classificou como
“deplorável” a possibilidade de ele ser feito santo antes que “todos os
documentos” sejam estudados.
“O assunto é muito delicado, e precisamos continuar analisando”, afirmou Skorka.
Entrevistado pelo jornal Corriere della Sera, D. Sergio Pagano,
responsável pelos Arquivos Secretos do Vaticano, disse que há seis anos
o departamento vem se esforçando para finalizar o catálogo de todos os
documentos daquela época e que, provavelmente, levará mais um 18 meses
para terminar o trabalho.
Os documentos restantes do período da Segunda Guerra que ainda estão à
espera de catalogação incluem correspondências das embaixadas papais,
anotações da Secretaria de Estado e documentos de trabalho de várias
congregações romanas.
Alguns especialistas duvidam que tais materiais irão acrescentar
muita coisa aos registros já estabelecidos no conjunto de documentos
composto de 12 volumes sobre a Segunda Guerra Mundial publicado pelo
Vaticano em 1965. Porém, o comentário de Skorka parece sugerir que Francisco está disposto a esperar.
Em seu livro publicado em 2010 junto do rabino, futuro papa escreveu: “Os argumentos que ouvi a favor de Pio XII parecem fortes, porém tenho que admitir que não examinei todos os arquivos”.
O papa e a mídia
No último sábado (18-01-2014), o papa teve uma audiência com os funcionários da emissora estatal italiana RAI, que está celebrando o 90º aniversário de sua rádio e o 60º aniversário de seus serviços televisivos.
Dado que a RAI possui muitos funcionários para a realização de seus
serviços, a sessão aconteceu na sala de audiências Paulo VI, que ficou
completamente cheia.
O Papa Francisco mostrou alguns pensamentos
interessantes sobre o jornalismo e as empresas de comunicação do
momento, ao dizer que estes serviços não são apenas para “informar” como
também para “formar”, o que implica uma dimensão moral.
O pontífice disse que o jornalismo serve ao bem público quando se
distancia claramente da “desinformação, difamação e da calúnia”,
deixando a impressão de que ele não pensa ser este sempre o caso
necessariamente.
Em comentários improvisados, o Francisco também pediu que a mídia dê especial atenção às “periferias do mundo”, que é um outro tema constante de seu jovem papado.
Escândalos
O fim de semana também trouxe dois desenvolvimentos novos em dois escândalos recentes.
Primeiro, novos detalhes surgiram na história de Roxana Rodriguez, uma irmã (freira) de 33 anos, natural de El Salvador, da congregação Pequenas Discípulas de Jesus, que apareceu em um hospital na cidade italiana de Rieti, na semana passada, reclamando de dores estomacais e acabou dando à luz um bebê.
De acordo com um funcionário da Caritas local, a organização católica para caridade, a Irmã Rodriguez havia retornado a El Salvador
em março e abril de 2013 para renovar seu passaporte, quando ela
brevemente também renovou um romance que havia tido na juventude. Ela
não acreditava que alguma coisa havia ficado dessa experiência; ao
final, ficou sabendo que estava grávida.
Membros da congregação dizem terem percebido que ela vinha, de alguma
forma, ficando maior nas últimas semanas, mas nem imaginavam que algo
de errado pudesse estar acontecendo. Em princípio, a irmã chamou uma
ambulância para levá-la ao hospital na terça-feira de noite e, quando
foi informada de que estava grávida, disse ao médico: “”Não posso ter um
bebê, sou uma freira!”
O bispo local anunciou que Rodriguez teria que
deixar a vida religiosa e que a diocese iria ficar à disposição para
oferecê-la qualquer ajuda de que viesse precisar. Uma amiga foi citada
em um jornal local dizendo que ela poderá voltar a El Salvador para se juntar-se ao pai.
Não há nenhuma conexão do papa com esta história, senão esta: Rodriguez chamou de Francisco a criança em homenagem, afirmou ela, ao nosso “belo papa latino-americano”.
Enquanto isso, um ex-comandante da Guarda Suíça deu uma entrevista
para uma revista de seu país na qual afirma haver um “lobby gay” no
Vaticano, algo como uma “sociedade secreta”, e que poderia representar
uma risco “à segurança do papa”.
Elmar Mäder, 51 anos de idade, serviu como comandante da Guarda Suíça de 2002 a 2008.
Mäder disse que gays no Vaticano “têm a tendência de
apoiar uns aos outros, o que os faz serem mais leais entre si do que
para a instituição”. Ele também disse ter aconselhado seus homens a
ficarem longe de algumas autoridades vaticanas que ele considerava
especialmente “lascivas”.
Duas semanas atrás a mesma revista suíça publicou uma entrevista
anônima com um ex-membro da Guarda Suíça, que dizia ter estado em
situações indesejadas promovidas por alguns altos funcionários do
Vaticano, incluindo alguns cardeais.
À época, um porta-voz da Guarda desmentiu a reportagem, dizendo que
“rumores de um lobby gay no Vaticano não estão entre os nossos
problemas”.
O próprio papa disse coisas um pouco diferentes sobre um suposto “lobby gay”.
A bordo do avião papal que retornava do Brasil em julho, ele pareceu
descartar a ideia, brincando que “ainda preciso encontrar em uma
carteira de identidade vaticana a palavra ‘gay’”.
No entanto, em uma sessão privada com líderes de ordens religiosas
latino-americanas na mesma época, o papa supostamente dissera: “O ‘lobby
gay’ é mencionado, e é verdade, ele está lá (...). Precisamos ver o que
podemos fazer com isso”.
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