quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Padres envolvidos em abusos podem ser presos na Espanha a qualquer momento

ihu - A denúncia de Daniel (vítima de abusos sexuais por parte de vários sacerdotes) e o apoio explícito do Papa Francisco marcaram a atualidade social e religiosa de nosso país (Espanha) desde ontem à noite. As investigações, que são realizadas pelo Juizado de Instrução número 4 de Granada, estão sendo acompanhadas de perto pelo Promotor Geral do Estado, Eduardo Torres-Dulce, e não se descarta que nas próximas horas ocorram as primeiras detenções.
Fonte: http://goo.gl/5XZVWl
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 17-11-2014. A tradução é do Cepat.
Após a tíbia nota da Arquidiocese de Granada, reconhecendo os fatos e procurando demonstrar que se havia atuado com contundência - foram afastados três sacerdotes, mas sendo substituídos por outros três envolvidos -, o Tribunal Superior de Justiça de Andaluzia confirmou, nesta tarde, que o Juizado de Instrução número 4, de Granada, iniciou atividades de investigação penal contra dez sacerdotes diocesanos e dois leigos, por supostos abusos sexuais cometidos contra menores, na última década.
Como nós apontamos, a investigação - que está a ponto de ser concluída - continua sob secreto judicial. Conforme informa o Alto Tribunal, por meio de um comunicado, o juizado iniciou atividades de investigação penal, em inícios de novembro, para esclarecer o assunto, depois que Daniel prestou sua primeira declaração (a fins de setembro) e que esta foi formalizada (já em outubro). A Promotoria Superior de Andaluzia inaugurou um processo informativo e instou a Promotoria Provincial a denunciar os fatos.
Foi nesse momento que a diocese, incentivada pela Santa Sé - Francisco quer que o jovem faça parte da comissão de vítimas de abusos criada por ele -, colocou-se à disposição do Juizado e tomou algumas medidas. Entre elas, a de afastar três dos envolvidos de suas tarefas sacerdotais, impedindo-lhes a administração dos sacramentos, tanto pública como privada. No entanto, fez a substituição deles – em paróquias e em algum posto de responsabilidade diocesana – por outros que são investigados como acobertadores.
A nota da Arquidiocese indica que “impôs as medidas cautelares aos sacerdotes diretamente acusados dos abusos, retirando-os do exercício do ministério sacerdotal”. Lamentavelmente, a nota se limita única e exclusivamente aos sacerdotes “diretamente acusados dos abusos”, e não aos seus supostos acobertadores, que continuam exercendo o ministério com total impunidade.
Além de Daniel, ao menos outros quatro menores foram vítimas de abusos sexuais por parte dos sacerdotes. Paralelamente à ação do Juizado de Instrução número 4, o Vaticano abriu uma investigação após solicitar que o arcebispo de Granada, Francisco Javier Martínez, esclareça os fatos e atue com contundência.
A sensação nas passagens de Añastro – compartilhada, em boa medida, pela Congregação para a Doutrina da Fé – é que o arcebispo de Granada atuou “sozinho e sem contar com ninguém”. De fato, há alguns dias os serviços jurídicos da Conferência Episcopal receberam uma notificação do dicastério vaticano perguntando o que sabiam sobre o assunto.
Oficialmente, Javier Martínez não se dirigiu a nenhum órgão da Conferência Episcopal para dar explicações ou sequer informar sobre o ocorrido. “Limitou-se a nos enviar uma nota, que além de mal redigida, deixa o campo aberto à especulação”, afirmam fontes episcopais, que esperam que, nesta terça-feira, o arcebispo se una aos debates na Conferência Episcopal para que lhe sejam solicitados os esclarecimentos pertinentes.
“O arcebispo procurou esconder os fatos”, explicaram em diferentes meios e ligações telefônicas alguns sacerdotes de Granada, que temiam que um caso como este pudesse ocorrer. Para além das resoluções judiciais, a atuação canônica em Granada está sendo mínima. “Não se pode mencionar as normas vaticanas para depois somente suspender a divinis os presumíveis autores físicos dos abusos. Essas mesmas normas falam claramente da obrigação de também levar à Justiça os acobertadores”, destacam os padres, que apontam que, desde ontem, toda a diocese está repleta de rumores.
No entanto, todos concordam em destacar a prudência e o “amor à Igreja” do jovem denunciante, e a “resposta magnífica” do Papa Francisco, que sem sombra de dúvidas “marca um antes e um depois na atitude da Igreja frente aos abusos”. “O Papa nos indicou claramente que já não é possível haver retrocesso”, indicou um bispo na rua Añastro.
Uma atitude referendada pelo próprio presidente do Episcopado, Ricardo Blásquez, que destacou, respondendo aos jornalistas, sua rejeição absoluta aos abusos sexuais, ao mesmo tempo em que garantiu que a Igreja está disposta a “colaborar” com a Justiça para esclarecer os casos de abusos sexuais.
“Estamos dispostos a colaborar, é claro, com o Arcebispo de Granada, com as autoridades, com o Papa, com a Cúria e os serviços da Igreja para estas questões e também com os juízes”, afirmou Blázquez, após a abertura da CIV Assembleia Plenária da CEE.
O bispo admitiu que não havia lido o comunicado publicado pela arquidiocese de Granada sobre o caso, mas que, de qualquer modo, a Igreja espanhola “sempre rejeita absolutamente o abuso de pessoas” e “de crianças especialmente”, pois se trata de casos “com uma singular gravidade”.

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