domingo, 30 de agosto de 2015

Mentes manipuladas pela teologia da prosperidade

[afeexplicada]


Atualmente vivemos submersos em uma sociedade em que há incontáveis quantidades de senhores. Falamos dos soberanos de empresas religiosas aqui e dos dominadores das consciências acolá. E assim, determinadas realidades vão sendo construídas nas quais as pessoas valem mais por aquilo que produzem e fazem do que pelo que são de fato.
Na civilização do mercado, evidencia-se o detrimento constante em relação à verdade mais profunda do ser humano: sua dignidade, seus valores, sua história. No entanto, a tradição ultramoderna faz com que a pessoa seja deixada de lado, para que a primazia do poder possa se elevar sobre toda e qualquer realidade existencial importante. Quantas mentes são manipuladas pela chamada teologia da prosperidade, e, deste modo, vamos construindo uma cultura de títulos, em que até mesmo o título passa a denominar quem é a pessoa humana em sua totalidade? Conseqüentemente, para estes últimos, perder um título é perder uma identidade. Não possuir mais o título adquirido é permitir o esmaecimento da própria história. Sem título não há pessoa, é o que prega o atual sistema sociocultural e também neopentecostal, que somos convidados a transformar mediante a escola evangélica do serviço livre e desinteressado de Jesus de Nazaré.
Neste sentido, podemos falar do título primordial de Jesus como contestação a um conjunto de verdades inventadas pela lei do mercado neoliberal. Para tal, é a comunidade primitiva dos cristãos que nos orienta na proclamação de que Jesus é o único Senhor! Destarte, proclamar o senhorio de Jesus é, ao mesmo tempo, reconhecer sua condição divina emanada das trilhas históricas de Nazaré e, por conseguinte, entremostrar sua dimensão de serviço testemunhada no lava-pés. A partir de então, o Senhorio de Jesus torna-se uma verdade de fé, testemunhada até mesmo com o sangue dos mártires. Estes últimos entregavam a vida por não aceitarem o senhorio de outras divindades pagãs e muito menos do Imperador Romano. É nesta comunidade de fé que o Senhor se faz presente de modo místico e corpóreo em cada um dos fiéis.
No Senhorio de Jesus, a Igreja se faz povo novo e resgatado. A verdade de fé que imprime a marca indelével da comunidade cristã é a que todos os batizados são povo de Deus. O laicato, os religiosos, as religiosas, os bispos, os metropolitas, o colégio cardinalício e o Sumo Pontífice são povo de Deus, com ministérios diferentes, pois todos pertencem ao mesmo Senhor. Pela consagração batismal todos ensinam, todos governam, todos santificam, todos têm a responsabilidade de organizar a comunidade eclesial e, por fim, todos são separados e reservados para a missão específica da Igreja. Toda a vida cristã está fundamentada no Batismo. Por meio dele, somos incorporados à vida do Senhor. Pelo batismo formamos a comunidade de fé capaz de comungar de uma mesma carne e de um mesmo sangue para formar um só corpo. Justamente por isso que a Igreja pode ser chamada de escola de irmãos em que o poder ou o senhorio se transforma em serviço livre e desinteressado, tendo Jesus como o modelo Daquele que tirou o manto, “símbolo do poder”, cingiu a cintura para lavar e beijar com o próprio ser a história salvífica de seus discípulos e discípulas. Falaríamos hoje de beijar os pés de toda a humanidade sofrida e dilacerada pelo pecado social.
De fato, perde-se muito quando o Senhorio deixa de ser atribuído a Jesus de Nazaré e passa a ser associado a determinadas empresas religiosas, intituladas “igrejas” ou, então, a alguns membros destas instituições. Vale ainda ressaltar que, ao utilizar o Senhorio de Cristo como forma de alienação, estamos usurpando sua história. Evangelho que prega vida fácil, que fala de prosperidade o tempo todo não é Evangelho de Jesus Cristo. O Senhorio redentor nos faz assumir uma nova visão de Deus, na categoria de quem desce dos céus para nos encontrar, que vem do atemporal para o temporal, que surge do infinito para redimir o finito humano. Também nos faz descobrir um novo rosto de Igreja Católica, na qual os cristãos vão se apresentando como servos e não na condição de senhores. Por fim, o Senhorio nos faz compreender as novas e futuras relações na comunidade de fé e na sociedade em vista da implantação cotidiana do Reino de Deus.

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