quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Cardeal Cordes respalda pedido de esclarecimento ao Papa sobre Amoris Laetitia

Cardeal Paul Josef Cordes


16 Dez. 16


ROMA, (ACI).- O Presidente Emérito do Pontifício Conselho Cor Unum, Cardeal Paul Josef Cordes, expressou seu respaldo à consulta apresentada por quatro cardeais ao Papa Francisco a respeito de cinco pontos da exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, em um documento conhecido como “dubbia” (dúvidas).

A “dubbia” foi assinada pelos cardeais alemães Walter Brandmüller e Joachim Meisner, o italiano Carlo Caffarra e o norte-americano Raymond Burke. Foi remetida ao Santo Padre em setembro deste ano. Ao não receber resposta, os quatro cardeais decidiram publicar o seu documento em 14 de novembro.As cinco perguntas dos cardeais estão focadas na possibilidade de que os divorciados em nova união pudessem ter acesso aos sacramentos da penitência e da Eucaristia.
Os cardeais foram apresentados por diversos meios de comunicação como “rebeldes” e inclusive “hereges”, confrontados com o Papa Francisco.Entrevistado pelo site austríaco ‘Kath.net’, o Cardeal Cordes assinalou que os quatro cardeais apresentaram as suas inquietações ao Papa “de forma objetiva” e lamentou que “fossem recebidos com um protesto desproporcionado. Não consigo entender esta indignação”.
“Também tenho dúvidas se o motivo dessa indignação era o desejo de procurar a verdade”, assinalou.O Cardeal Cordes mencionou que “esclarecer discussões, tensões e inclusive dolorosos conflitos faz parte da história da Igreja”.
“Houve o Primeiro Concílio em Niceia, o qual reagiu contra a heresia de Ário, que negou que Jesus Cristo era igual a Deus Pai”. “Antes do Concílio, os hereges tinham ganhado quase toda a Igreja para o seu lado”, disse e assinalou que havia “confusão e caos na maioria das dioceses”.
Em defesa da Igreja, recordou o Cardeal Cordes, apareceu nessa época Santo Atanásio: “um lutador da divindade de Cristo, o santo bispo Atanásio de Alexandria” que “sobreviveu a vinte exílios” que “não foram peregrinações”.O Cardeal também recordou os tempos difíceis para a Igreja durante os séculos XV e XVI, “sobre os quais a televisão é tão aficionada em nos mostrar”, assim como durante o século XX, quando um grupo de professores alemães liderou uma “onda de agressão contra São João Paulo II” com a Declaração de Colônia, em 1989. Neste documento, lembrou, os teólogos “acusaram o Papa de, entre outras coisas, ter uma ‘postura absolutista’”.
Em seguida, o Cardeal Cordes assinalou que, “desde os primeiros tempos da Igreja, a teologia e a pastoral procuraram uma forma para que os homens e mulheres em uma situação canônica irregular pudessem receber os sacramentos da reconciliação e da eucaristia”. Entretanto, precisou, “como ensina o Evangelho de Mateus, o próprio Senhor proibiu qualquer novo matrimônio”.
Segundo o Cardeal, a inquietação foi assumida por importantes teólogos do início do cristianismo, como Orígenes ou São Basilio o Grande, assim como no Concílio de Trento e no Concílio Vaticano II e também no Sínodo dos Bispos sobre a Família em 1980, com São João Paulo II.“Ninguém viu uma possibilidade” da comunhão para os divorciados, disse.
“E agora, de repente, encontrou-se uma solução doutrinal! Sua autorização aparece em uma nota no pé de página na exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, com o argumento de que, em certas circunstâncias, a recepção do sacramento poderia ser de utilidade para o crescimento da fé e do amor nesses cristãos”, assinalou.Entretanto, para o Cardeal “a justificativa teológica dessa concessão de nenhuma forma é mandatória. Sua responsabilidade formal (uma nota no pé de página) certamente não tem o alcance de dogma”.
No parágrafo 305, a exortação apostólica Amoris Laetitia assinala, sobre os divorciados em nova união, que “por causa dos condicionalismos ou dos fatores atenuantes, é possível que uma pessoa, no meio de uma situação objetiva de pecado – mas subjetivamente não seja culpável ou não o seja plenamente –, possa viver em graça de Deus, possa amar e possa também crescer na vida de graça e de caridade, recebendo para isso a ajuda da Igreja”.Na nota de rodapé da página 351, o documento do Papa Francisco assinala que este auxílio da Igreja, “em certos casos, poderia haver também a ajuda dos sacramentos”.

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