Por Theresa Noble
Pode até não ser o que gostaríamos de ouvir, mas Jesus nos mostrou como encontrar a vida através do sofrimento e da morte
“Jesus deu então um grande brado e disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, dizendo isso, expirou.” (Lucas 23:46)
Certa vez, pedi a uma amiga teóloga para me explicar como é possível 
que Deus, o Criador do Universo, possa morrer e ainda manter o mundo em 
existência. Minha amiga me disse que era possível porque Jesus, uma 
Pessoa Divina, é Deus verdadeiro e verdadeiro homem. O Filho de Deus 
teve uma morte humana, mas sua divindade não morreu.
Claro que isso é verdade, e por um tempo eu me senti satisfeita com a
 resposta. Mas este momento paradoxal do Deus-homem morrendo na Cruz – 
tão cheia de significado e mistério – continuou me fascinando.
Você já refletiu sobre os últimos momentos da vida de Jesus na Terra?
Muito frequentemente, nós achamos naturais os mistérios da nossa fé 
mas, às vezes é preciso quebrar a monotonia, fazer suposições e e olhar 
para nossa fé com outros olhos.
Refletir sobre os momentos finais da vida de Jesus pode fazer-nos 
mergulhar em uma escuridão de paradoxo e admiração, o que nos aproxima 
do mistério de nosso Deus Triúno.
O Deus da Vida morreu na cruz para que Ele nos trouxesse a vida. A 
vida veio para a terra e enfrentou a morte por amor a nós. Um hino 
latino do século VI, “Vexilla Regis” (“A Bandeira do Rei”), capta este 
paradoxo numa estrofe pungente:
Agora brilha o mistério da Cruz;
Sobre ela, a vida enfrentou a morte,
E ainda pela morte alcançou a vida.
Grande parte desse mistério está além da compreensão humana, mas o 
conceito da morte como causadora da vida foi possível graças à morte de 
Jesus. Esse modelo redentor se repete em nossas vidas todos os dias.
Jesus mostrou-nos como encontrar a vida através do sofrimento e da 
morte. Não é a resposta que gostaríamos de ouvir, mas na nossa jornada 
pela vida espiritual, percebemos que encontramos a vida precisamente 
quando desistimos de alguma coisa e lembramos que precisamos Dele mais 
do que tudo. Às vezes isso acontece na tragédia, sem a nossa vontade ou 
desejo. Às vezes, isso acontece em momentos de mal terrível, momentos 
que sabemos que Deus nunca orquestraria, mas só os permitiria por alguma
 razão insondável.
Finalmente, despojado de tudo, somos como Jesus, nus na Cruz. Mas 
nesta pobreza e simplicidade, paradoxalmente, encontramos alegria e paz.
 No meio da dor, ficamos surpresos ao encontrar sinais de vida vigorosa.
Através da Via Sacra de nossas vidas, encontramos a graça da Ressurreição.
Este ideal parece tão distante para a maioria das pessoas que se 
apega a pequenas coisas, como se nossas vidas dependessem do nosso 
programa de TV favorito, da nossa auto-imagem, do nosso perfil na mídia 
social, dos nossos talentos ou da nossa saúde . Nós achamos que 
precisamos disso para sermos felizes. Nossas vidas estão cheias de 
pequenos amores, bons e maus, que competem para afastar Deus e se 
colocarem no centro.
Mas de vez em quando, geralmente através de um grande sofrimento ou 
tristeza, somos expulsos da porta giratória de nossas vidas. E através 
desse sofrimento, se estivermos abertos, receberemos grandes graças para
 colocarmos novamente Deus em primeiro lugar. Às vezes abrimos mão de 
alguma coisa para termos de volta o que quer que seja ou quem quer que 
tenha sido arrancado de nós. Mas às vezes isso é impossível. Então, 
agradecemos a Deus pela luz que ele acendeu na escuridão.
Recentemente, uma irmã religiosa, uma Filha de São Paulo, faleceu na 
Índia. Antes de morrer, disse a suas irmãs: “Estou feliz! Não tenho nada
 porque dei tudo a Deus … estou pronta para morrer “. Este é o paradoxo 
da vida espiritual, à qual também somos convidados.
Como Jesus, somos convidados a nos despojarmos de cada coisa que 
amamos em nossas vidas, até mesmo as pessoas que mais amamos, sabendo 
que vamos vê-las novamente. Fazemos isso para que, nos últimos momentos,
 possamos dizer com grande alegria: “Pai, eu te dei tudo, o bem, o mal, 
até mesmo algumas das pessoas que mais amo, e agora te dou a última 
coisa que tenho: minha vida … Em suas mãos eu confio o meu espírito. “
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