terça-feira, 11 de setembro de 2018

Se quisermos reformar a igreja, vamos escolher mulheres cardeais

[domtotal]
Por James Keenan*

Nos últimos 40 anos, as mulheres não apenas entraram em campo, mas se tornaram teólogas com muita autoridade, liderando o campo hoje.

 


Nas reformas mencionadas à luz da crise contemporânea na Igreja Católica, vejo muitas propostas punitivas, mas não vejo modelos suficientemente construtivos de empoderamento.
Acredito que até o momento em que as mulheres tenham poder na igreja, não viveremos uma verdadeira reforma.
Pensando no poder, não acho que fazer mulheres diaconisas seja um grande passo; mas acho que fazê-las cardeais o seja.
Durante o consistório, ou assembleia de cardeais, de junho de 2017, o novo cardeal sueco Anders Arborelius sugeriu que o papa pensasse em criar um órgão consultivo especial de mulheres para o Colégio dos Cardeais a fim de oferecer mais oportunidades de liderança das mulheres na Igreja.
Reconhecendo em uma entrevista à National Catholic Reporter que "o papel das mulheres é muito, muito importante na sociedade, na economia", acrescentou Arborelius, "na igreja às vezes ficamos um pouco para trás".
Ele disse que o órgão consultivo "poderia se tornar mais oficial": "Temos um Colégio de Cardeais, mas poderíamos ter um Colégio de mulheres que pudesse dar conselhos ao Papa".
Quando ouvi isso, pensei na conversa de alguns anos atrás sobre fazer mulheres cardeais. Eu prefiro essa proposta que a dele, a de ter um conselho consultivo de mulheres, como sugere o cardeal sueco. De fato, lembrou-me a frase de "separados, mas iguais" - uma afirmação que nunca se torna verdadeira. Um conselho consultivo de mulheres seria inevitavelmente secundário se as mulheres fossem excluídas do Colégio dos Cardeais
Foi há apenas cem anos que a lei canônica decretou que os cardeais deviam ser ordenados. Antes disso, o Colégio dos Cardeais era formado por homens ordenados e leigos.
Pelo que entendi, o então "novo" Código de Direito Canônico de 1917 estava procurando uma maneira de conter os abusos na nomeação de cardeais. Alguns homens tinham pouco conhecimento de teologia e outros eram bem jovens.
Por exemplo, quando o Papa Clemente XII fez de Luis Antonio de Borbón, filho do rei Felipe V da Espanha, cardeal, ele tinha apenas 8 anos de idade. A exigência de ordenação sacerdotal refreou esses abusos. Em 1983, outro código foi desenvolvido (Canon 351) que exigiu a ordenação episcopal para ser feito cardeal.
O Papa pode facilmente remover os requisitos para a ordenação sacerdotal e episcopal.
Acho agradável pensar em leigas como cardeais. Se o Papa quer fazer de um grupo de oito ou nove cardeais seus conselheiros mais confiáveis, por que todos deveriam ser ordenados? E por que todos eles deveriam ser homens?
A ideia existe por aí. Em 2012, outro cardeal, Timothy Dolan, disse ao padre franciscano, Benedict Groeschel, em uma entrevista na EWTN: "Na verdade, devemos entender melhor isso, e eu ouvi de mais de uma pessoa que uma vez alguém disse ao beato João Paulo II: 'Você deve fazer da Madre Teresa de Calcutá uma cardeal' ... E o Papa disse: 'Eu perguntei a ela, e ela não quer ser uma'".
De fato, o então cardeal Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI) também relatou a oferta.
Em uma entrevista de 2013 com o The Irish Times, pouco antes do primeiro consistório do Papa Francisco, o padre jesuíta Federico Lombardi, então diretor da Assessoria de Imprensa da Santa Sé, analisou a questão das mulheres cardeais.
"Teologicamente e teoricamente, é possível", disse Lombardi. "Ser cardeal é um desses papéis na igreja para os quais, teoricamente, você não precisa ser ordenado".
Mas na véspera do primeiro consistório, ele acrescentou, "entender isso como uma sugestão de que o Papa nomeará mulheres cardeais para o próximo consistório não é nem remotamente realista".
Minha proposta, como a do cardeal sueco, permanece teológica e teoricamente possível.
Outro cardeal, o alemão Reinhard Marx, membro do Conselho dos Cardeais, disse recentemente: "Precisamos de uma nova imagem do que a igreja deve ser - ou seja, uma igreja mundial liderada por homens e mulheres de todas as culturas trabalhando juntos".
O cardeal estava comentando quantas mulheres têm cargos executivos em dioceses e notou um crescimento significativo em toda a Alemanha e Áustria. Ele crê, como a maioria de nós, que precisamos ver as mulheres com autoridade na Igreja.
Você não precisa me ouvir nem ao cardeal Marx. Dê ouvidos a Lucetta Scaraffia, professora da Universidade Sapienza de Roma, colaboradora do L'Osservatore Romano e editora do suplemento mensal Donne Chiesa Mondo ("Women Church World"). Ouça-a pedir que as mulheres recebam posições de autoridade reais e existentes que correspondam à sua competência.
Quando penso em mulheres líderes de verdade, penso em mulheres teólogas. Se você quiser ver a liderança da igreja, dê uma olhada nelas. Existe uma liderança autorizada e bem sustentada.
Pense em M. Shawn Copeland, Lisa Sowle Cahill, Ir. Elizabeth Johnson, Ir. Margaret Farley, Cathleen Kaveny, María Pilar Aquino, Irmã Dominicana Mary Catherine Hilkert, Susan Wood, Phyllis Zagano, C. Vanessa White, e a irmã do Imaculado Coração de Maria, Mary Ann Hinsdale.
De todo o mundo, pense em Linda Hogan, Agnes Brazal, Philomena Maura, Maria Clara Bingemer, Marianne Heimbach Steins, Virgínia Saldanha, Ivone Gebara, a Irmã Beneditina Teresa Forcades, a Irmã de Jesus Menino Teresa Okure e centenas de outras.
Há uma lição a ser aprendida sobre mulheres teólogas. Antes de 1975, você poderia contar o número de mulheres teólogas em todo o mundo nos dedos de uma mão. Nestes 40 anos que se sucederam, as mulheres não apenas entraram em campo, mas se tornaram teólogas com muita autoridade, liderando o campo hoje.
Ao trabalharmos para ver as mulheres emergirem nos ofícios eclesiais - seja como cardeais leigas, conselheiras privilegiadas, diaconisas ordenadas, administradoras diocesanas ou em qualquer outra posição -, é bom reconhecermos que, uma vez que cheguem a essas outras posições eclesiais, se tornarão líderes também aí.
E essa é a reforma singular mais necessária para a igreja: mulheres empoderadas e iguais aos homens em autoridade. Se elas conseguirem a autoridade, elas com certeza liderarão.
Primeiro passo, então: Fazer oito mulheres cardeais. Elas não precisam ser ordenadas (isso pode levar anos!) Deixe as mulheres terem um lugar à mesa agora, a mesa onde o Papa se encontra com seus assessores mais confiáveis.
Tornar as mulheres cardeais e dar-lhes esse lugar lançaria alguma reforma evidente. Eu acho que isso também daria esperança e vida renovadas à igreja.

National Catholic Reporter - Tradução: Ramón Lara
*O padre jesuíta James Keenan é um teólogo moral, fundador da Ética Teológica Católica na Igreja Mundial, e Professor e diretor do Instituto Jesuíta Canisius da Faculdade de Boston.

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