Por James Keenan*
Nos últimos 40 anos, as mulheres não apenas entraram em campo, mas se tornaram teólogas com muita autoridade, liderando o campo hoje.
Nas reformas mencionadas à luz da crise 
contemporânea na Igreja Católica, vejo muitas propostas punitivas, mas 
não vejo modelos suficientemente construtivos de empoderamento.
Acredito que até o momento em que as mulheres tenham poder na igreja, não viveremos uma verdadeira reforma.
Pensando no poder, não acho que fazer mulheres diaconisas seja um grande passo; mas acho que fazê-las cardeais o seja.
Durante
 o consistório, ou assembleia de cardeais, de junho de 2017, o novo 
cardeal sueco Anders Arborelius sugeriu que o papa pensasse em criar um 
órgão consultivo especial de mulheres para o Colégio dos Cardeais a fim 
de oferecer mais oportunidades de liderança das mulheres na Igreja.
Reconhecendo em uma entrevista à National Catholic Reporter
 que "o papel das mulheres é muito, muito importante na sociedade, na 
economia", acrescentou Arborelius, "na igreja às vezes ficamos um pouco 
para trás".
Ele disse que o órgão consultivo "poderia se tornar 
mais oficial": "Temos um Colégio de Cardeais, mas poderíamos ter um 
Colégio de mulheres que pudesse dar conselhos ao Papa".
Quando 
ouvi isso, pensei na conversa de alguns anos atrás sobre fazer mulheres 
cardeais. Eu prefiro essa proposta que a dele, a de ter um conselho 
consultivo de mulheres, como sugere o cardeal sueco. De fato, lembrou-me
 a frase de "separados, mas iguais" - uma afirmação que nunca se torna 
verdadeira. Um conselho consultivo de mulheres seria inevitavelmente 
secundário se as mulheres fossem excluídas do Colégio dos Cardeais
Foi
 há apenas cem anos que a lei canônica decretou que os cardeais deviam 
ser ordenados. Antes disso, o Colégio dos Cardeais era formado por 
homens ordenados e leigos.
Pelo que entendi, o então "novo" Código
 de Direito Canônico de 1917 estava procurando uma maneira de conter os 
abusos na nomeação de cardeais. Alguns homens tinham pouco conhecimento 
de teologia e outros eram bem jovens.
Por exemplo, quando o Papa 
Clemente XII fez de Luis Antonio de Borbón, filho do rei Felipe V da 
Espanha, cardeal, ele tinha apenas 8 anos de idade. A exigência de 
ordenação sacerdotal refreou esses abusos. Em 1983, outro código foi 
desenvolvido (Canon 351) que exigiu a ordenação episcopal para ser feito
 cardeal.
O Papa pode facilmente remover os requisitos para a ordenação sacerdotal e episcopal.
Acho
 agradável pensar em leigas como cardeais. Se o Papa quer fazer de um 
grupo de oito ou nove cardeais seus conselheiros mais confiáveis, por 
que todos deveriam ser ordenados? E por que todos eles deveriam ser 
homens?
A ideia existe por aí. Em 2012, outro cardeal, Timothy 
Dolan, disse ao padre franciscano, Benedict Groeschel, em uma entrevista
 na EWTN: "Na verdade, devemos entender melhor isso, e eu ouvi de mais 
de uma pessoa que uma vez alguém disse ao beato João Paulo II: 'Você 
deve fazer da Madre Teresa de Calcutá uma cardeal' ... E o Papa disse: 
'Eu perguntei a ela, e ela não quer ser uma'".
De fato, o então cardeal Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI) também relatou a oferta.
Em uma entrevista de 2013 com o The Irish Times,
 pouco antes do primeiro consistório do Papa Francisco, o padre jesuíta 
Federico Lombardi, então diretor da Assessoria de Imprensa da Santa Sé, 
analisou a questão das mulheres cardeais.
"Teologicamente e 
teoricamente, é possível", disse Lombardi. "Ser cardeal é um desses 
papéis na igreja para os quais, teoricamente, você não precisa ser 
ordenado".
Mas na véspera do primeiro consistório, ele 
acrescentou, "entender isso como uma sugestão de que o Papa nomeará 
mulheres cardeais para o próximo consistório não é nem remotamente 
realista".
Minha proposta, como a do cardeal sueco, permanece teológica e teoricamente possível.
Outro
 cardeal, o alemão Reinhard Marx, membro do Conselho dos Cardeais, disse
 recentemente: "Precisamos de uma nova imagem do que a igreja deve ser -
 ou seja, uma igreja mundial liderada por homens e mulheres de todas as 
culturas trabalhando juntos".
O cardeal estava comentando quantas 
mulheres têm cargos executivos em dioceses e notou um crescimento 
significativo em toda a Alemanha e Áustria. Ele crê, como a maioria de 
nós, que precisamos ver as mulheres com autoridade na Igreja.
Você
 não precisa me ouvir nem ao cardeal Marx. Dê ouvidos a Lucetta 
Scaraffia, professora da Universidade Sapienza de Roma, colaboradora do 
L'Osservatore Romano e editora do suplemento mensal Donne Chiesa Mondo 
("Women Church World"). Ouça-a pedir que as mulheres recebam posições de
 autoridade reais e existentes que correspondam à sua competência.
Quando
 penso em mulheres líderes de verdade, penso em mulheres teólogas. Se 
você quiser ver a liderança da igreja, dê uma olhada nelas. Existe uma 
liderança autorizada e bem sustentada.
Pense em M. Shawn Copeland,
 Lisa Sowle Cahill, Ir. Elizabeth Johnson, Ir. Margaret Farley, Cathleen
 Kaveny, María Pilar Aquino, Irmã Dominicana Mary Catherine Hilkert, 
Susan Wood, Phyllis Zagano, C. Vanessa White, e a irmã do Imaculado 
Coração de Maria, Mary Ann Hinsdale.
De todo o mundo, pense em 
Linda Hogan, Agnes Brazal, Philomena Maura, Maria Clara Bingemer, 
Marianne Heimbach Steins, Virgínia Saldanha, Ivone Gebara, a Irmã 
Beneditina Teresa Forcades, a Irmã de Jesus Menino Teresa Okure e 
centenas de outras.
Há uma lição a ser aprendida sobre mulheres 
teólogas. Antes de 1975, você poderia contar o número de mulheres 
teólogas em todo o mundo nos dedos de uma mão. Nestes 40 anos que se 
sucederam, as mulheres não apenas entraram em campo, mas se tornaram 
teólogas com muita autoridade, liderando o campo hoje.
Ao 
trabalharmos para ver as mulheres emergirem nos ofícios eclesiais - seja
 como cardeais leigas, conselheiras privilegiadas, diaconisas ordenadas,
 administradoras diocesanas ou em qualquer outra posição -, é bom 
reconhecermos que, uma vez que cheguem a essas outras posições 
eclesiais, se tornarão líderes também aí.
E essa é a reforma 
singular mais necessária para a igreja: mulheres empoderadas e iguais 
aos homens em autoridade. Se elas conseguirem a autoridade, elas com 
certeza liderarão.
Primeiro passo, então: Fazer oito mulheres 
cardeais. Elas não precisam ser ordenadas (isso pode levar anos!) Deixe 
as mulheres terem um lugar à mesa agora, a mesa onde o Papa se encontra 
com seus assessores mais confiáveis.
Tornar as mulheres cardeais e
 dar-lhes esse lugar lançaria alguma reforma evidente. Eu acho que isso 
também daria esperança e vida renovadas à igreja.
        
        
                
                 National Catholic Reporter - Tradução: Ramón Lara
         *O padre jesuíta James Keenan é um teólogo moral, fundador da 
Ética Teológica Católica na Igreja Mundial, e Professor e diretor do 
Instituto Jesuíta Canisius da Faculdade de Boston. 
 
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