[aleteia]
Por Luis Santamaría
Ambos, cristianismo e Nova Era, propõem uma perspectiva espiritual da vida, mas o que um tem que o outro não tem?
A Nova Era (New Age) é uma corrente espiritual contemporânea. Mas
ainda é uma nova manifestação do pensamento gnóstico clássico. Portanto,
não é irracional buscar nos ensinamentos do grande pensador e bispo
Santo Agostinho de Hipona (354-430) uma resposta cristã à Nova Era.
Os epicuristas achavam que com a morte tudo acaba, de modo que a vida de cada pessoa deveria concentrar-se na busca e desfrute do prazer. Já os estóicos se fixavam nas coisas do espírito. Mas os cristãos iam mais longe, propondo o Deus revelado em Jesus Cristo como o significado da história e do universo, Senhor de todos, salvador de todos.
Esta divisão tríplice de Santo Agostinho serve-nos para compreender o mundo de hoje, sem contar os pertencentes a religiões não-cristãs: por um lado, as pessoas que vivem no materialismo, sem considerar um horizonte de sentido que vai além o que pode ser visto e tocado; por outro lado, muitos que professam uma espiritualidade difusa – que chamamos de “New Age” ou Nova Era. Em terceiro lugar, os cristãos.
E aqui vem a pergunta: se é verdade que os novos estóicos, aqueles que defendem uma religião ou transformação da consciência universal holística, e os cristãos compartilham uma perspectiva espiritual da vida… qual é a singularidade do Cristianismo? A proposta cristã continua válida para o homem e a mulher de hoje? Além disso, existe alguma possibilidade de fundir a fé cristã e a Nova Era, como muitos afirmam?
O que Santo Agostinho diria hoje? Fomos ver seus escritos, onde encontramos estas dez respostas:
Diante disso, Santo Agostinho deixa claro que a salvação é um dom de Deus, e não fruto do esforço humano. Sua experiência de conversão foi ação da graça de Deus. Depois de uma intensa busca pela verdade, ele escreveu: “Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em Ti”.
Diante disso, Santo Agostinho enfatiza a humildade da fé, a confiança em um Deus que é maior que o conhecimento humano. Uma fé que pode atingir a todos e que não se limita a alguns privilegiados. A humildade é uma característica fundamental da espiritualidade cristã, que tem em seu centro um Deus que se humilhou, como aponta Agostinho, que coloca essas palavras nos lábios do Senhor: “Eu desço a ti porque tu não podes subir a mim”.
Mas há algo fundamental em Agostinho: a distinção radical entre Deus e nós, entre o Criador e a criatura. Na introspecção, na meditação, na contemplação, não nos descobrimos como divinos, mas encontramos Deus dentro de nós como Alguém diferente. E neste sentido falamos de “divinização”. Assim diz o bispo de Hipona:
“Nós, por sua graça, fomos feitos o que não éramos, isto é, filhos de Deus; Nós éramos certamente algo, mas muito menos, isto é, filhos de homens. Ele desceu, então, para que nós pudéssemos ascender”. Assim, ele deixa claro que “Um é o Filho de Deus e com o único Pai Deus. Os outros são divinizados pela graça, mas não nascem da Sua substância”.
Santo Agostinho teve que lutar contra a doutrina dos maniqueus, muito semelhante. Para eles, Cristo era um ser celestial enviado ao mundo para ensinar às almas o retorno à sua origem divina; e sua crucificação teria um significado meramente simbólico. Agostinho responde sublinhando a humanidade de Cristo, a verdade da encarnação e, portanto, a realidade da Paixão e Morte de Jesus, não era um evento simbólico, mas um fato histórico.
No entanto, Santo Agostinho entende a existência cristã como uma “luta interior”, uma luta contra as forças do mal, que perseguem o homem dentro e fora: “nosso coração é um campo contínuo de batalhas. Um único homem luta contra uma multidão dentro dele”. Nesse sentido, ele afirma que é preciso imitar Cristo se quisermos vencer o mundo.
Diante do determinismo e do fatalismo, Santo Agostinho fala do “espírito de liberdade” do cristão. E ele não entende isso como uma simples ausência de condicionamento, mas como uma liberdade de alcançar o fim próprio do homem, que não é outro senão Deus, o bem supremo. Assim, haveria dois níveis de liberdade: um mínimo (livre arbítrio ou capacidade de escolha) e outro máximo (a possibilidade de escolher a plenitude da vida). E no fundo, para sermos realmente livres, feridos como somos pelo orgulho e pelo pecado, precisamos ser libertados por Jesus Cristo.
Dessas ideias o bispo de Hipona já sabia, e escreveu: “em nenhum outro artigo, a fé cristã é tão rejeitada como no da ressurreição da carne”. “Nossa esperança é na ressurreição dos mortos, nossa fé é na ressurreição dos mortos”, diz Santo Agostinho, que também diz claramente: “Cristo morreu uma só vez pelos nossos pecados; ressuscitado dos mortos, Ele não morre mais, e a morte não tem domínio sobre Ele. Nós também, depois da ressurreição, sempre estaremos com o Senhor”.
Mas para Santo Agostinho, a espiritualidade cristã é profundamente eclesial. Não é um simples sentimento de pertencer a uma comunidade espiritual, nem algo puramente interior. A Igreja é uma mediação necessária da ação de Cristo, e é por isso que o Bispo de Hipona exorta: “ame a Igreja, que te gerou para a vida eterna”.
Santo Agostinho, pelo contrário, insiste que a oração é um diálogo com quem vive em nós, mas é diferente de nós. Isto é, que em oração não estamos falando conosco: “fale a nós Deus em suas lições, e falemos a Deus com nossas orações. Se escutarmos com submissão a quem nos fala, em nós vive aquele a quem nossa oração é dirigida”. Em muitos momentos, ele retorna à mesma ideia, como quando diz: “sua oração é a sua conversa com Deus”.
Santo Agostinho sabe claramente: “meu amor é meu peso; por ele sou levado para onde quer que eu seja levado”. O amor, que é um dom de Deus, é, em primeiro lugar, amor a Deus. E somente desta maneira pode realmente ser amor pelos outros. Quando Santo Agostinho explica o duplo mandamento de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, ele escreve: “dois são os preceitos e uma a caridade. Não ama o próximo senão a caridade que ama a Deus. E com a caridade com que se ama o próximo, também se ama a Deus”.
Três tipos de pessoas
Por volta do ano 413 ou 414, em um de seus sermões na cidade de Cartago (no norte da África), ele fez uma classificação curiosa das pessoas em três grupos, tendo em vista as grandes correntes filosóficas do seu tempo. Assim, disse o bispo de Hipona, os homens seriam divididos em epicuristas, estóicos e cristãos.Os epicuristas achavam que com a morte tudo acaba, de modo que a vida de cada pessoa deveria concentrar-se na busca e desfrute do prazer. Já os estóicos se fixavam nas coisas do espírito. Mas os cristãos iam mais longe, propondo o Deus revelado em Jesus Cristo como o significado da história e do universo, Senhor de todos, salvador de todos.
Esta divisão tríplice de Santo Agostinho serve-nos para compreender o mundo de hoje, sem contar os pertencentes a religiões não-cristãs: por um lado, as pessoas que vivem no materialismo, sem considerar um horizonte de sentido que vai além o que pode ser visto e tocado; por outro lado, muitos que professam uma espiritualidade difusa – que chamamos de “New Age” ou Nova Era. Em terceiro lugar, os cristãos.
E aqui vem a pergunta: se é verdade que os novos estóicos, aqueles que defendem uma religião ou transformação da consciência universal holística, e os cristãos compartilham uma perspectiva espiritual da vida… qual é a singularidade do Cristianismo? A proposta cristã continua válida para o homem e a mulher de hoje? Além disso, existe alguma possibilidade de fundir a fé cristã e a Nova Era, como muitos afirmam?
O que Santo Agostinho diria hoje? Fomos ver seus escritos, onde encontramos estas dez respostas:
1. DOM E GRAÇA, não mero esforço pessoal
Os antigos estóicos se esforçavam para dominar suas paixões, permanecer insensíveis ao sofrimento e encontrar harmonia interior. Assim eles seriam iguais aos deuses, conquistando a serenidade plena. A Nova Era propõe o mesmo hoje, convidando a desenvolver todas as nossas potencialidades internas, já que dentro de nós estaria o segredo da existência, a solução para todos os problemas. Para isso, a Nova Era apresenta uma grande diversidade de técnicas.Diante disso, Santo Agostinho deixa claro que a salvação é um dom de Deus, e não fruto do esforço humano. Sua experiência de conversão foi ação da graça de Deus. Depois de uma intensa busca pela verdade, ele escreveu: “Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em Ti”.
2. A HUMILDADE DA FÉ, não a soberba do conhecimento
Em uma fase de sua vida, Santo Agostinho experimentou a arrogância de acreditar que possuía uma verdade que o tornava superior aos outros homens. A Nova Era tem muito sentimento elitista, que exerce uma grande atração sobre muitas pessoas que se sentem depositárias de um conhecimento exclusivo, reservado aos iniciados e eleitos.Diante disso, Santo Agostinho enfatiza a humildade da fé, a confiança em um Deus que é maior que o conhecimento humano. Uma fé que pode atingir a todos e que não se limita a alguns privilegiados. A humildade é uma característica fundamental da espiritualidade cristã, que tem em seu centro um Deus que se humilhou, como aponta Agostinho, que coloca essas palavras nos lábios do Senhor: “Eu desço a ti porque tu não podes subir a mim”.
3. O DEUS PESSOAL, mas diferente de nós
Os defensores da Nova Era usam erroneamente os grandes místicos e santos cristãos para justificar sua própria doutrina, que no fundo supõe a imanência de Deus, caindo em uma posição panteísta: tudo é Deus, ou melhor, tudo é divino. E assim eles interpretam fora de contexto esta frase de Santo Agostinho: “Não saia, volte para si mesmo; a verdade mora no interior do homem”.Mas há algo fundamental em Agostinho: a distinção radical entre Deus e nós, entre o Criador e a criatura. Na introspecção, na meditação, na contemplação, não nos descobrimos como divinos, mas encontramos Deus dentro de nós como Alguém diferente. E neste sentido falamos de “divinização”. Assim diz o bispo de Hipona:
“Nós, por sua graça, fomos feitos o que não éramos, isto é, filhos de Deus; Nós éramos certamente algo, mas muito menos, isto é, filhos de homens. Ele desceu, então, para que nós pudéssemos ascender”. Assim, ele deixa claro que “Um é o Filho de Deus e com o único Pai Deus. Os outros são divinizados pela graça, mas não nascem da Sua substância”.
4. JESUS CRISTO, Deus encarnado
A Nova Era fala de Cristo. Ou melhor, da “consciência crística” ou da energia de Cristo. É necessário esclarecer que por trás dessa ambiguidade terminológica calculada esconde-se uma ideologia muito distante da fé cristã. Para a Nova Era, o “Cristo” seria um grande mestre, um sábio, um ser divino que teria encarnado em Jesus de Nazaré e em outros seres humanos ao longo da história, e que agora vai voltar como Maitreya, o Messias da Nova Era. Portanto, o importante para eles é o “Cristo” espiritual.Santo Agostinho teve que lutar contra a doutrina dos maniqueus, muito semelhante. Para eles, Cristo era um ser celestial enviado ao mundo para ensinar às almas o retorno à sua origem divina; e sua crucificação teria um significado meramente simbólico. Agostinho responde sublinhando a humanidade de Cristo, a verdade da encarnação e, portanto, a realidade da Paixão e Morte de Jesus, não era um evento simbólico, mas um fato histórico.
5. O COMBATE ESPIRITUAL, não a harmonia mágica
A Nova Era, em suas muitas técnicas e práticas, busca a harmonia integral do ser humano, a paz interior, a iluminação, a ascensão no nível de consciência ou “vibração”, a unificação da pessoa. E tudo que é negativo, tudo que supõe sofrimento, tudo obscuro, deve ser deixado de lado, com uma atitude quase mágica que se cristalizou na popular “lei da atração”, segundo a qual as pessoas atraem o que pensam, e seria suficiente banir de nós os pensamentos negativos que o mal iria para longe da nossa vida.No entanto, Santo Agostinho entende a existência cristã como uma “luta interior”, uma luta contra as forças do mal, que perseguem o homem dentro e fora: “nosso coração é um campo contínuo de batalhas. Um único homem luta contra uma multidão dentro dele”. Nesse sentido, ele afirma que é preciso imitar Cristo se quisermos vencer o mundo.
6. LIBERDADE, nada de eneagramas
Na Nova Era cai com muita frequência no determinismo. Toda postura mágica ou esotérica acaba sendo determinista. Pense, por exemplo, no eneagrama e sua distribuição de seres humanos em nove tipos de personalidade com suas características, valores e deficiências correspondentes, possibilidades de relacionamento e desenvolvimento etc. O mesmo acontece em tantas propostas que predestinam o ser humano ou o tratam, ao final, como uma marionete nas mãos do universo, de uma inteligência divina, das estrelas.Diante do determinismo e do fatalismo, Santo Agostinho fala do “espírito de liberdade” do cristão. E ele não entende isso como uma simples ausência de condicionamento, mas como uma liberdade de alcançar o fim próprio do homem, que não é outro senão Deus, o bem supremo. Assim, haveria dois níveis de liberdade: um mínimo (livre arbítrio ou capacidade de escolha) e outro máximo (a possibilidade de escolher a plenitude da vida). E no fundo, para sermos realmente livres, feridos como somos pelo orgulho e pelo pecado, precisamos ser libertados por Jesus Cristo.
7. RESSURREIÇÃO, nada de reencarnação
Se há algo fundamental na Nova Era – e em qualquer doutrina comum a todas estas correntes esotéricas –, é a ideia de reencarnação das almas, que se espalha como erva daninha no Ocidente. Tudo é passível de revisão, nada é permanente, porque em uma concepção cíclica da vida e da história, a morte não é mais do que uma das muitas possibilidades de existência.Dessas ideias o bispo de Hipona já sabia, e escreveu: “em nenhum outro artigo, a fé cristã é tão rejeitada como no da ressurreição da carne”. “Nossa esperança é na ressurreição dos mortos, nossa fé é na ressurreição dos mortos”, diz Santo Agostinho, que também diz claramente: “Cristo morreu uma só vez pelos nossos pecados; ressuscitado dos mortos, Ele não morre mais, e a morte não tem domínio sobre Ele. Nós também, depois da ressurreição, sempre estaremos com o Senhor”.
8. IGREJA, nada de espiritualismo individual
A popularidade da Nova Era deve-se, entre outras coisas, a uma concepção de espiritualidade que foge de qualquer pertencimento institucional. Na pseudo-filosofia da Nova Era, fala-se do signo astrológico de Aquário como a superação de Peixes, que passaria de uma preponderância do cristianismo para superar as divisões religiosas, manifestando o divino e espiritual que seria comum a todos os seres humanos. O protagonista seria meramente individual, e é rejeitada a pertença a uma comunidade normativa. Alguém até poderia ser cristão, por exemplo, mas sem pertencer à Igreja, sem estar sujeito a um grupo humano, muito menos se for dogmático e hierárquico.Mas para Santo Agostinho, a espiritualidade cristã é profundamente eclesial. Não é um simples sentimento de pertencer a uma comunidade espiritual, nem algo puramente interior. A Igreja é uma mediação necessária da ação de Cristo, e é por isso que o Bispo de Hipona exorta: “ame a Igreja, que te gerou para a vida eterna”.
9. ORAÇÃO, não mera meditação
Na Nova Era, a oração é nada mais que introspecção, diálogo consigo mesmo, descoberta da própria divindade interna, contemplação do “eu divino”. “Não há ninguém para contemplar… você se torna Deus”, diria o popular Osho. A meditação fecha o ser humano em si mesmo, porque não há alteridade e, portanto, não pode haver encontro ou diálogo com o Outro divino.Santo Agostinho, pelo contrário, insiste que a oração é um diálogo com quem vive em nós, mas é diferente de nós. Isto é, que em oração não estamos falando conosco: “fale a nós Deus em suas lições, e falemos a Deus com nossas orações. Se escutarmos com submissão a quem nos fala, em nós vive aquele a quem nossa oração é dirigida”. Em muitos momentos, ele retorna à mesma ideia, como quando diz: “sua oração é a sua conversa com Deus”.
10. CARIDADE verdadeira, não “boas vibrações”
A espiritualidade da Nova Era é profundamente individualista. É verdade que muitas de suas propostas buscam fazer o bem aos outros. Mas no final o que se busca é a própria ascensão no nível de consciência, sentindo-se bem.Santo Agostinho sabe claramente: “meu amor é meu peso; por ele sou levado para onde quer que eu seja levado”. O amor, que é um dom de Deus, é, em primeiro lugar, amor a Deus. E somente desta maneira pode realmente ser amor pelos outros. Quando Santo Agostinho explica o duplo mandamento de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, ele escreve: “dois são os preceitos e uma a caridade. Não ama o próximo senão a caridade que ama a Deus. E com a caridade com que se ama o próximo, também se ama a Deus”.
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