quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

'Maximum illud': a Igreja não é estrangeira para nenhum povo

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Por Rádio Vaticano 

A carta apostólica completa 100 anos e deu um novo vigor à ação missionária da Igreja



A história conhece Bento XV (papa de 1914 a 1922) como o papa que chamou a guerra de “massacre inútil”. Célebre expressão com a qual definiu dolorosamente o absurdo da Primeira Guerra Mundial, depois de muitos apelos à paz e esforços para mediação. Mas Bento XV pode também, como todo direito, ser recordado como o “Papa das Missões”, pois graças às suas inúmeras iniciativas que o anúncio do Evangelho retomou um impulso já durante a guerra e principalmente depois do desastre bélico.
A ação de Bento XV levou as Igrejas locais, divididas e agravadas pelos sentimentos nacionalistas fomentados pelo conflito, a recuperarem em uma visão universal, e com novo dinamismo, o mandato de Jesus aos discípulos: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura”.

Grande visão

A Carta Maximum illud, assinada em 30 de novembro de 1919, é o instrumento com o qual o papa se serve para abrir novos horizontes. Na realidade, o terreno sobre o qual amadurecem as páginas do documento, revelam a capacidade de ver e providenciar à Orbe sem sair da Urbe. As provas são a instituição do Dia Mundial do Migrante e Refugiado (1915) e a criação da Congregação para as Igrejas Orientais (1917)

Missões além das fronteiras

Alguns estudos ligam a criação da Carta Apostólica a situação do início do século 20 quando aumentavam os riscos, na Europa e na Ásia, de expulsão dos missionários que estavam em campo. Mais uma vez o motivo é o nacionalismo que se espalha, por isso, por exemplo, os missionários alemães tornam-se pessoas indesejáveis na Inglaterra. Ou são os sentimentos anti-colonialistas que, principalmente no Oriente, acreditam que a ação missionária sirva os interesses das potências ocidentais e portanto é uma presença a ser erradicada. Propaganda Fide conserva numerosas correspondências da época que contam o quanto era grande a preocupação neste sentido. Preocupação que Bento XV conhece muito bem.
“Recordai-vos que não deveis difundir o reino dos homens, mas o de Cristo; não vos compete aumentar o numero de cidadãos para a pátria terrena, mas para a pátria celeste”

Carta profética

Em 2017 o papa Francisco destacou que a Carta que nasceu deste e outros pensamentos tem um “espírito profético e franqueza evangélica” bem mais amplas do que as contingências nas quais foi concebida. No início do texto Bento XV cita o nome de alguns grandes apóstolos que levaram o Evangelho nos continentes e não esconde uma certa surpresa em constatar que “apesar dos exemplos de fortaleza”, o número dos batizados não somariam “um bilhão”. Por isso, decide articular o documento em três partes. Na primeira dirige-se aos que têm a responsabilidade principal do anúncio: os bispos, os vigários apostólicos, os superiores religiosos. O papa estimula-os ao “zelo exemplar” para que todos seus colaboradores percebam uma proximidade cheia de “bondade e caridade”. Ao contrário, desonra o comportamento dos que considerassem a missão que lhe fora confiada "como propriedade exclusiva, com inveja que outros a toquem”.

Casa de todos os povos

Na segunda parte, Bento XV recorda, com particular sagacidade, que o missionário deve ter no coração principalmente o “bem espiritual” das pessoas às quais anuncia Cristo, porque, sustenta, as populações que não conhecem o Evangelho identificam perfeitamente a presença de interesses que não sejam apostólicos. Por fim, na terceira parte, o papa da Igreja pede aos simples fiéis o apoio da oração, a única verdadeira coluna de toda a experiência de missão. Mas toda a Carta poderia  ser sintetizada em uma frase, válida para todas as épocas, como revelou o papa Francisco:
“A Igreja de Deus é universal, e portanto não é estrangeira para nenhum povo” 

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