segunda-feira, 17 de maio de 2021

Qual é a medida de todas as coisas? A Virgem Maria nos ensina

Tal como a Virgem Maria, também nós devemos iluminar as realidades da vida com a moderação que dela aprendemos


 

Por Vitor Roberto Pugliesi Marques

 

Diante das diversas circunstâncias da vida, perguntamo-nos, com frequência, qual é o modo como Deus deseja que nos comportemos. Tal questionamento é muito salutar, pois se damos uma resposta às coisas de modo iluminado pela sabedoria do Senhor, temos a certeza de que não nos confundimos nem erramos. Mas qual é essa medida? Diante de uma feliz notícia, de um desafio proposto ou de uma pesarosa realidade, como se comportar? Iluminados pelos ensinamentos da Virgem Maria, gostaríamos de propor algumas reflexões.

Em seu primoroso livro “A Vida da Virgem”, São Máximo, o Confessor, tece comentários sobre o mistério da Anunciação do Anjo à Virgem Maria. Quando o Anjo diz: “Eis que conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus” (Lc 1,31), Maria interpela o Anjo dizendo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?” (Lc 1, 34) e obtém a resposta precisa de que o Espírito Santo descerá sobre ela e, assim, ela será a Mãe do Filho de Deus (cf. Lc 1,35). Somente após esse entendimento vai se dar a magistral abertura da Virgem ao plano de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Diz-nos São Máximo que a Virgem perturbou-se como convinha, dotando uma posição “intermediária entre Isaías em sua obediência cega e Zacarias e sua incredulidade imensurável” (cf. A Vida da Virgem, São Máximo, o Confessor. Tradução Priscila Catão – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2020, p 32.). Expliquemos. 

No ano da morte do rei Ozias, o profeta Isaías viu o Senhor, sentado num trono muito elevado, ladeado por serafins que o louvavam como Sumo Santo e Rei do Universo (Is 6,1-3). Um dos serafins voou na direção do profeta, aplicou em sua boca uma brasa viva, que tinha tomado do altar, com uma tenaz, e com isso apagou os seus pecados e faltas (Is 6,6-7). Em seguida, Isaías ouve a voz do Senhor a perguntar: “Quem enviarei eu? E quem irá por nós?” (Is 6,8) e o profeta responde sem qualquer questionamento, nem mesmo pedindo esclarecimentos do que deveria fazer: “Eis-me aqui, enviai-me” (Is 6,9). No segundo ano do reinado de Dario, o profeta Zacarias, filho de Baraquias, filho de Ado, teve uma visão noturna revelada por um anjo em que, entre as plantas no fundo de um vale, um homem montado num cavalo vermelho tinha ao fundo cavalos ruços, alazões e brancos. Ao contrário de Isaías, ele pede explicações do que isso significaria. O anjo porta-voz coloca-se, então, a explicar o significado da visão juntamente com o homem montado a cavalo. Os cavalos ao fundo representavam mensageiros (entenda-se anjos) que o Senhor havia enviado para vigiar toda a terra. E, por meio do anjo porta-voz, Deus diz que pretende reedificar Israel (cf. Zc 1,7-17). Notamos uma postura diferente do profeta Zacarias com relação ao profeta Isaías: Zacarias perscruta, busca entender com minúcias tudo o que se passava na revelação.  

É interessante pensar que São Máximo coloca os dois profetas em dois extremos, sendo que, na postura de ambos, há coisas elogiáveis e coisas questionáveis. No profeta Isaías, é louvável a sua disposição em querer servir a Deus com prontidão, todavia não questionar o modo pelo qual Deus deseja ser servido poderia levá-lo a se perder no meio do caminho. Já no profeta Zacarias, é louvável sua disposição em querer entender de forma concreta e prática o que Deus lhe está revelando, entretanto a postura de extremo questionamento pode nos levar a crer que conseguiremos entender todos os mistérios de Deus em nossa vida, o que não é possível, pois Deus é de uma infinitude não totalmente tangível ao homem. Nesse ponto, a Virgem Maria faz o “meio termo ideal”: alegra-se com a visita do Anjo e a ação de Deus em sua vida, interpela os meios pelos quais Deus agiria, e, tendo uma compreensão da caminhada que deve fazer, por mais que não a entenda por completo, abre-se com o sim que Deus esperava dela desde todo o sempre. 

Tal como a Virgem Maria, também nós devemos iluminar as realidades da vida com a moderação que dela aprendemos. Se temos uma notícia alegre, devemos nos alegrar com ela, mas também buscar entender os modos de verdadeiramente desfrutar dessa alegria. Se nos é proposto um desafio, devemos nos colocar a compreender os meios de melhor superá-lo, mas sabendo que, quando o nosso esforço for insuficiente, a graça de Deus virá em nosso auxílio. Diante de uma notícia triste, é justo nos entristecermos, mas não devemos nos desesperar, pois Deus nunca nos abandona ou nos deixa desassistidos. 

Que alegria Deus nos ter dado a Virgem Maria como mãe e saber que nos acontecimentos da vida ela é exemplo a nos iluminar!

 

Fonte - aleteia

 

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