segunda-feira, 19 de julho de 2021

Propostas para um rito amazônico da missa

Com a intenção de me distanciar da avalanche de análises precipitadas sobre o motu proprio papal Custodes traditionalis, pretendo, nestas linhas, tratar de algo que nada tem, mas nada a ver: o futuro rito amazônico da Missa.

rito amazônico

 

Os entusiastas do último sínodo universal, supostamente dedicado à Amazônia, ficaram tão frustrados com o motu próprio papal que recolheram suas propostas, ignorando as principais, que perderam todo o interesse pelas demais iniciativas, inclusive uma das Mais inovadora: a encomenda à Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos de uma forma litúrgica específica de Santa Missa para os povos amazônicos.

Aquilo que tanto repete o século que “a diversidade é a nossa força” foi compreendido por nossa Igreja há milênios, e assim existem hoje 23 ritos diferentes, todos igualmente válidos. Sei que o referido rito ainda está em preparação, as dificuldades não são pequenas, por isso, no espírito de lutar contra o nefasto clericalismo, eu, um mero leigo, arrisco-me a fazer algumas propostas para estruturar o novo rito.

Vou começar com a língua. A princípio prevaleceria a regra do uso do vernáculo, mas neste caso parece mais conveniente, pois falamos de 'povos amazônicos' como se fosse uma unidade mais ou menos monolítica, reforçando aquela ideia de união pelo mesmo. linguagem para todos eles. Mas qual? Existem aproximadamente um milhão de indígenas, agrupados em 400 grupos étnicos que falam 300 línguas. Não há nenhuma que se situe significativamente acima das demais, e escolher o português como 'língua franca', além de neocolonial, seria discriminatório para a Amazônia dos países de língua espanhola. Optar pelo inglês ou outra língua estendida seria imperialismo ao quadrado, por isso proponho escolher uma língua que não pertence a ninguém, que nenhum poder pode reivindicar como sua e que tem uma relação inequívoca com a nossa Igreja.Que tal latim?

Outra inovação que acho interessante é a posição do padre durante o rito. A aceitação da Pachamama durante o sínodo como símbolo dessas terras, apesar de ser uma divindade propriamente quíchua, remete-nos ao culto andino, estruturado em torno do sol. Por isso me atrevo a propor que o padre permaneça durante a celebração como um cacique conduzindo seus guerreiros na batalha ou na caça, na direção do nascer do sol, isto é, ad Orientem. Isso, além disso, ajudaria a enfraquecer o viés clericalista que deriva do padre caminhando em uma direção oposta à dos fiéis. Dessa forma, eles seriam um.

Por outro lado, os ritos das potências coloniais têm, desde a reforma de São Paulo VI, enfatizado o aspecto convivial, de um banquete, da Santa Missa, atenuando seu aspecto de Sacrifício. Isso deve ser transformado em um rito que visa distanciar-se da visão eurocêntrica de nossa liturgia. Voltando às raízes incas, o aspecto central que o Sacrifício tinha em seus cultos não deve ser esquecido. Sendo assim, entendemos que os indígenas receberão como algo mais natural, mais próximo de sua experiência religiosa, fazendo do Sacrifício o centro da celebração.

Por fim, o próprio sínodo nos lembrou como a experiência indígena supõe, entre outras coisas, a rejeição daquele progresso sem alma que destrói suas florestas e ameaça sua conexão com suas próprias raízes e sua vida simples. Por isso aventuramos que, como inspiração para o novo rito, sejam descartadas formulações modernas que lembrem o tempo da máquina e da industrialização predatória, voltando a uma era pré-industrial mais simples. Nesse sentido, me ocorre que a inspiração das rubricas amazônicas, conectando-se com a rica vida da Igreja, pode ser encontrada na Missa de São Pio V.

 

Fonte - infovaticana

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