sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O purgatório: necessária purificação para o encontro com Deus!

24.06.2009 - Audiência do Papa João Paulo II, no dia 4 de agosto de
1999
1. Como vimos nas duas catequeses precedentes, com base na opção
definitiva a favor de Deus ou contra Ele, o homem encontra-se diante de
uma das alternativas: ou vive com o Senhor na bem-aventurança eterna, ou
permanece longe da sua presença.
Para quantos se encontram em condição de abertura a Deus, mas de modo
imperfeito, o caminho rumo à plena bem-aventurança requer uma
purificação, que a fé da Igreja ilustra através da doutrina do
«purgatório» (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 1030-1032).
2. Na Sagrada Escritura podem-se captar alguns elementos que ajudam a
compreender o sentido desta doutrina, embora ela não seja enunciada de
modo formal. Eles exprimem a convicção de que não se pode aceder a Deus
sem passar através de alguma purificação.
Segundo a legislação religiosa do Antigo Testamento, aquilo que é
destinado a Deus deve ser perfeito. Por conseguinte, a integridade
também física é particularmente necessária para as realidades que entram
em contacto com Deus no plano sacrifical, como por exemplo os animais a
serem imolados (cf. Lv 22, 22), ou institucional, como no caso dos
sacerdotes, ministros do culto (cf. Lv 21, 17-23). A esta integridade
física deve corresponder uma dedicação total, dos indivíduos e da
coletividade (cf. 1 Rs 8, 61) ao Deus da aliança, segundo os grandes
ensinamentos do Deuteronômio (cf. 6, 5). Trata-se de amar a Deus com
todo o próprio ser, com pureza de coração e testemunho de obras (cf.
ibid., 10, 12 s.).
A exigência de integridade impõe-se evidentemente depois da morte, para
o ingresso na comunhão perfeita e definitiva com Deus. Quem não tem esta
integridade deve passar pela purificação. É um texto de São Paulo que o
sugere. O Apóstolo fala do valor da obra de cada um, que será revelada
no dia do juízo, e diz: «Se a obra construída subsistir, o construtor
receberá a paga. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá a perda. Ele,
porém, será salvo, como que através do fogo» (1 Cor 3, 14-15).
3. Para alcançar um estado de perfeita integridade, às vezes é
necessária a intercessão ou a mediação de uma pessoa. Por exemplo,
Moisés obtém o perdão do povo com uma oração, na qual evoca a obra
salvífica realizada por Deus no passado e invoca a sua fidelidade ao
juramento feito aos antepassados (cf. Êx 32, 30 e vv. 11-13). A figura
do Servo do Senhor, delineada pelo Livro de Isaías, caracteriza-se
também pela função de interceder e de expiar a favor de muitos; no final
dos seus sofrimentos ele «verá a luz» e «justificará muitos», tomando
sobre si as suas iniquidades (cf. Is 52, 13-53, v. 12, especialmente
53, 11).
Segundo a perspectiva do Antigo Testamento, o Salmo 51 pode ser
considerado uma síntese do processo de reintegração: o pecador confessa
e reconhece a própria culpa (cf. v. 6), pede insistentemente que seja
purificado ou «lavado» (cf. vv. 4.9.12 e 16) para poder proclamar o
louvor divino (cf. v. 17).
4. No Novo Testamento Cristo é apresentado como o intercessor, que
assume as funções do sumo sacerdote no dia da expiação (cf. Hb 5, 7; 7,
25). Mas n?Ele o sacerdócio apresenta uma configuração nova e
definitiva. Ele entra uma só vez no santuário celeste, com a finalidade
de interceder diante de Deus em nosso favor (cf. Hb 9, 23-26,
especialmente v. 24). Ele é Sacerdote e ao mesmo tempo «vítima de
expiação» pelos pecados de todo o mundo (cf. 1 Jo 2, 2).
Jesus, como o grande intercessor que nos expia, revelar-Se-á plenamente
no final da nossa vida, quando Se expressar com a oferta da
misericórdia, mas também com o inevitável juízo sobre aquele que rejeita
o amor e o perdão do Pai.
A oferta da misericórdia não exclui o dever de nos apresentarmos puros e
íntegros diante de Deus, ricos daquela caridade, que por Paulo é chamada
«vínculo de perfeição» (Cl 3, 14).
5. Durante a nossa vida terrena, seguindo a exortação evangélica a
sermos perfeitos como o Pai celeste (cf. Mt 5, 48), somos chamados a
crescer no amor para nos encontrarmos firmes e irrepreensíveis diante de
Deus Pai, «por ocasião da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos
os seus santos» (1 Ts 3, 12 s.). Por outro lado, somos convidados a
«purificar-nos de toda a imundície da carne e do espírito» (2 Cor 7, 1;
cf. 1 Jo 3, 3), porque o encontro com Deus requer uma pureza absoluta.
Todo o vestígio de apego ao mal deve ser eliminado; toda a deformidade
da alma há-de ser corrigida. A purificação deve ser completa, e é
precisamente assim que a doutrina da Igreja entende o purgatório. Este
termo não indica um lugar, mas uma condição de vida. Aqueles que depois
da morte vivem num estado de purificação já estão no amor de Cristo, o
qual os alivia dos resíduos da imperfeição (cf. Conc. Ecum. de Florença,
Decretum pro Graecis: DS 1304; Conc. Ecum. de Trento, Decretum de
iustificatione: DS 1580; Decretum de purgatorio: DS 1820).
Deve-se esclarecer que o estado de purificação não é um prolongamento da
situação terrena, como se depois da morte se desse uma ulterior
possibilidade de mudar o próprio destino. O ensinamento da Igreja a
respeito disto é inequívoco e foi reafirmado pelo Concílio Vaticano II,
que assim ensina: «Como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que,
seguindo a recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que
no termo da nossa vida sobre a terra, que é só uma (cf. Hb 9, 27),
mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados entre
os eleitos (cf. Mt 25, 31-46), e não sejamos lançados, como servos maus
e preguiçosos (cf. Mt 25, 26), no fogo eterno (cf. Mt 25, 41), nas
trevas exteriores, onde ?haverá choro e ranger de dentes? (Mt 22, 13 e
25, 30)» (Lumen gentium, 48).
6. O último aspecto importante, que a tradição da Igreja sempre
evidenciou, deve ser hoje reproposto: é o da dimensão comunitária. Com
efeito, aqueles que se encontram na condição de purificação estão
ligados tanto aos bem-aventurados, que já gozam plenamente a vida
eterna, como a nós que caminhamos neste mundo rumo à casa do Pai (cf.
Catecismo da Igreja Católica, n. 1032).
Assim como na vida terrena os crentes estão unidos entre si no único
Corpo místico, assim também após a morte aqueles que vivem no estado de
purificação experimentam a mesma solidariedade eclesial que opera na
oração, nos sufrágios e na caridade dos outros irmãos na fé. A
purificação é vivida no vínculo essencial que se cria entre aqueles que
vivem a vida do século presente e os que já gozam a bem-aventurança
eterna.
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/

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