12/04/2012
IHU - "A coragem também é mostrada pelo mameluco, a obediência é o ornamento do cristão". A frase, tirada da balada de Schiller A luta contra o dragão,
é sintomática de um modo de pensar que dominou por muito tempo as altas
esferas da Igreja Católica. O que não é ordenado ou, pelo menos,
aprovado do alto não deve ocorrer.
A reportagem é de Heiner Boberski, publicada no sítio Wienerzeitung.at, 06-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reportagem é de Heiner Boberski, publicada no sítio Wienerzeitung.at, 06-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Isso
não favorece necessariamente atividades e responsabilidades pessoais
dos católicos, mas lhes permite ver de vez em quando como se comportam
os bispos em uma situação difícil e problemática. Nas relações com as
ditaduras, como vimos, pastores "condescendentes" e os seus rebanhos
estavam principalmente do lado seguro, enquanto aqueles que agiam
obedecendo mais à sua consciência do que ao exemplo da sua hierarquia
corriam o risco de perseguição, tortura e execução capital.
O Concílio Vaticano II – será celebrado no fim do ano o 50º aniversário da sua abertura – definiu a consciência na constituição pastoral Gaudium et Spes
como "o núcleo mais secreto" e "o sacrário do homem" e, finalmente,
como voz de Deus e lei à qual o homem deve obedecer. Segundo a doutrina
católica, uma "consciência formada" deve se orientar naturalmente
segundo o ensinamento da Igreja, mas isso não significa que o indivíduo
não possa chegar a conclusões diferentes, se delas estiver honestamente
convencido.
Isso certamente se torna crítico quando um grupo inteiro lança um Apelo à desobediência,
como ocorreu no ano passado na Áustria. Com a palavra-tabu
"desobediência" conscientemente escolhida, os promotores da iniciativa
assustaram não só a hierarquia local, mas também a central de Roma. Se
outros apelos críticos, de grupos menores ou maiores de teólogos, foram
mais facilmente ignorados – no máximo, se negava aos signatários o
acesso a uma cátedra –, agora, com relação à "desobediência" austríaca, o
Papa Bento XVI pessoalmente tomou posição. Justamente na Quinta-Feira Santa,
em uma das celebrações mais importantes do ano, ele perguntou
retoricamente na sua pregação: "Será a desobediência um caminho?".
Do
ponto de vista do papa, ela certamente não é um caminho, principalmente
não uma desobediência que deve ignorar "decisões definitivas do
Magistério, como, por exemplo, na questão relativa à Ordenação das
mulheres, a propósito da qual o beato Papa João Paulo II declarou de maneira irrevogável que a Igreja não recebeu, da parte do Senhor, qualquer autorização para o fazer".
Por
outro lado, ele concede aos autores que é a "solicitude pela Igreja que
os move, quando afirmam estar convencidos de que se deve enfrentar a
lentidão das Instituições com meios drásticos para abrir novos caminhos,
para colocar a Igreja à altura dos tempos de hoje".
Bento XVI ressaltou
na sua rejeição à desobediência, expressa somente na forma de questões
críticas, que, na história da época pós-conciliar, pode-se reconhecer "a
dinâmica da verdadeira renovação" e chamou a atenção para o fato de que
"para uma nova fecundidade, se requer o transbordar da alegria da fé, a
radicalidade da obediência, a dinâmica da esperança e a força do amor".
A
questão é se a "radicalidade da obediência" – além do mais uma
obediência que manifestamente o papa requer não só para com Deus e para
com a consciência, mas também para com as autoridades eclesiásticas –
realmente forma um todo com as três colunas cristãs da fé, da esperança e
da caridade. Bento XVI já dedicou encíclicas à
esperança e à caridade. Resta saber se agora ele quer tematizar em um
ensinamento por escrito, juntamente com a fé, o muitos pressupõem,
também a obediência.
Surpreendeu o fato de o papa ter intervindo dessa forma a propósito da Iniciativa dos Párocos Austríacos,
assim como o tom bastante moderado. Nenhuma menção a sanções contra os
reformadores da Igreja por parte do bispo de Roma, que, em seu tempo
como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, havia recebido o apelido de Panzerkardinal,
mas sim uma advertência a eles, especialmente para mudar de opinião com
relação a temas sobre os quais atualmente não se pode discutir, como a
ordenação das mulheres (benévolos expoentes do clero da Áustria, como o bispo auxiliar emérito de Viena, Helmut Krätzl, já haviam aconselhado isso aos "desobedientes").
Na Áustria,
no entanto, as palavras do papa foram recebidas não negativamente, mas
sim como um encorajamento – tanto pelo presidente da Conferência
Episcopal, o cardeal Christoph Schönborn, quanto pelo primeiro representante da Pfarrer-Initiative, Helmut Schüller, que se mostrou "agradavelmente surpreso".
A reação papal mostra, de todos os modos, que as exigências dos padres austríacos são levadas a sério no Vaticano.
Não parece ser, de momento, uma ameaçadora ruptura, mas sim,
certamente, um processo de diálogo longo e complicado. O fato de o papa
ter abordado o tema torna mais alegre o som dos sinos da Páscoa. Para
chegar a um verdadeiro evento de Pentecostes, em que conservadores e
reformadores não só se entendam linguisticamente, mas cheguem a soluções
amplamente compartilhadas, o caminho a ser percorrido, porém, ainda é
muito longo.
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