quinta-feira, 19 de setembro de 2013

''Acolham os casais que moram juntos'': o papa e a regra da cordialidade

ihu - A centralidade da misericórdia, a ideia de que "a verdade não se esgota na definição dogmática", mas "se insere no amor e na plenitude de Deus". O Papa Francisco encontra os padres de Roma e pede a eles e à Igreja – uma Igreja "que não desmorona", porque "a santidade é maior do que os escândalos" – que mostrem "o rosto da acolhida", uma "uma acolhida cordial", em especial com relação aos "casais que moram juntos".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 17-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O raciocínio do pontífice é sutil, não se trata de ser rígidos, nem liberais, diz, porque ambas as atitudes não são misericordiosas: trata-se de "dizer sempre a verdade", sabendo, porém, que o aspecto "dogmático" e "moral" devem ser "sempre acompanhados pelo amor de Deus".
Ainda durante a viagem ao Brasil, no fim de julho, Francisco tinha convidado a mudar de "atitudes" e tinha se perguntado, considerando as pessoas que fogem da Igreja como os discípulos no caminho de Emaús: "Ainda somos uma Igreja capaz de aquecer o coração?". A Igreja "aberta" e "próxima" de Bergoglio não deve excluir ninguém.
Assim, o padre misericordioso, explica o papa aos sacerdotes da sua diocese na Basílica de São João, é aquele que "diz a verdade", mas, depois, acrescenta: "Não se assustem, o Deus bom nos espera, vamos juntos". Ele que "acompanha" as pessoas como Jesus acompanhou, no episódio evangélico de Emaús, os dois discípulos perdidos.
Ao responder as perguntas dos sacerdotes, Francisco também voltou sobre a questão dos divorciados em segunda união excluídos dos sacramentos: e confirmou que o tema será abordado tanto pelo "grupo de conselho" dos oito cardeais no início de outubro, quanto pelo próximo Sínodo dos bispos.
Um problema que "não pode ser reduzido apenas" à questão "se se pode fazer ou não a comunhão": isso significa "não entender qual é o verdadeiro problema, um problema grave de responsabilidade da Igreja com relação às famílias que vivem nessa situação". Essa "é uma verdadeira periferia existencial", afirmou o papa: uma daquelas "periferias" às quais a Igreja deve ir.
Mas há mais: Francisco disse que é preciso "encontrar um outro caminho, na justiça", lembrou como para o próprio Bento XVI esse era "um problema grave", e acrescentou que a Igreja "neste momento deve fazer algo para resolver os problemas das nulidades matrimoniais". Isso significa que Bergoglio está pensando na mesma solução sobre a qual Ratzinger havia convidado a refletir: a possibilidade de anular o primeiro matrimônio por "falta" ou "carência" de fé dos cônjuges e regularizar, assim, as "segundas uniões".
Mas a "acolhida cordial" diz respeito a todos, Francisco fala sarcasticamente daqueles que, em uma paróquia, estão mais preocupados em pedir dinheiro para uma certidão de sacramento. "Se as pessoas veem um interesse econômico, elas se afastam". Além disso, a proximidade do papa também diz respeito aos seus padres: Francisco falou da "fadiga do coração" dos sacerdotes, quando "o padre se interroga sobre a sua existência, ele olha para trás" e pensa nas renúncias, nos "filhos que não teve", pergunta-se se a sua vida "fracassou". Então, quando se experimenta "a escuridão da alma", aconselhou, deve-se rezar: "Até adormecer diante do Tabernáculo, mas estar ali".

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