Cardeal Josef Cordes, Foto: Catholic Charities USA |
29 Mar. 15
ROMA, (ACI).-
Um cardeal alemão defendeu publicamente a doutrina católica diante das palavras de outros dois bispos que sugeriram que a Igreja no país pode estabelecer suas próprias políticas sem a direção de Roma.
O Cardeal Josef Cordes publicou uma carta no começo deste mês objetando
os pronunciamentos de importantes líderes da Igreja na Alemanha que
disseram que a conferência dos bispos seguirá o seu próprio programa de
cuidado pastoral para matrimônios e famílias sem importar os resultados
do Sínodo da Família de outubro.
Em 25 de fevereiro, na conferência de imprensa depois da assembleia
plenária dos bispos alemães, o Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de
Munique e Frisinga, que também é Presidente do episcopado, assinalou que
“não somos uma sucursal de Roma. Cada conferência de bispos é
responsável pelo cuidado pastoral e seu contexto cultural e deve pregar o
Evangelho em sua própria e original maneira. Não podemos esperar pelo
sínodo para nos dizer como temos que moldar o trabalho pastoral com
matrimônios e famílias”.
O Cardeal Marx, um dos três delegados alemães para o Sínodo de outubro,
referiu-se a “certas expectativas” da Alemanha para ajudar a Igreja a
abrir as portas e “encontrar novos caminhos”, e que “em doutrina, também
aprendemos da vida”.
O Cardeal foi secundado pelo Bispo de Osnabruck, Dom Franz-Josef Bode,
que chamou o Sínodo sobre a família de um momento de "importância
histórica" e uma "mudança de paradigma", insistindo em que "a realidade
dos homens e do mundo" seja uma fonte para a compreensão teológica.
Diante destas declarações, o Cardeal Cordes –ordenado sacerdote da
Arquidiocese de Paderborn e presidente emérito do Pontifício Conselho
Cor Unum–, publicou uma enérgica objeção às declarações públicas de seus
companheiros bispos em uma carta em 7 de março ao editor do Die
Tagespost, um importante jornal católico de língua alemã. O texto da
carta original foi traduzido do alemão ao inglês por Jan Bentz do CNA,
agência em inglês do grupo ACI.
“Visto que as palavras do mais alto representante dos católicos na
Alemanha têm um caráter de linha-guia e criam substanciais rebuliços na
mídia, tem sentido objetar publicamente alguns dos enunciados para
diminuir a confusão que causaram”, escreveu o Cardeal Cordes.
Recordou que a conferência de imprensa de fevereiro esteve enfocada no
Sínodo da família e em particular na proposta do também alemão Cardeal
Walter Kasper, para admitir a comunhão para os divorciados em nova
união. “O problema foi abordado com belas palavras de ‘novas soluções’ e
‘portas abertas’”, advertiu.
Inclusive respondeu às palavras do Cardeal Marx, que afirmou que a
Igreja na Alemanha é um exemplo. “Se ele quis expressar que a Alemanha é
um exemplo na condução dos fiéis para o encontro com Cristo, então
penso que o bispo está enganado por ilusões. O atual aparelho eclesial
alemão é completamente incapaz de trabalhar contra a crescente
secularização”, sentenciou.
“Não sem razão”, acrescentou, Bento XVI insistiu encarecidamente à Igreja Alemã que seja menos mundana durante a sua visita de 2011.
“Em temas de fé, o realismo conta acima de tudo”, refletiu o Cardeal
Cordes. “Portanto é preciso considerar os fatos”. Nesse sentido,
recordou que um estudo mostra que entre os católicos da parte ocidental
alemã, apenas 16 por cento acredita que Deus é pessoal. “O resto de
católicos vê em Deus uma providência sem rosto, um destino anônimo”, ou
“simplesmente negam sua existência”.
Depois, responde às propostas do Cardeal Marx sobre os divorciados
recasados. “O presidente discute sobre o drama dos divorciados
recasados! Este assunto vai além das particularidades regionais de
natureza pragmática, de uma mentalidade dada e antecedente cultural.
Este assunto está ligado ao centro mesmo da teologia. Neste terreno nem
sequer um cardeal pode afrouxar um nó górdio tão complexo com um só
golpe de espada. Ele tem a teologia sacramental do Concílio de Trento.
Também tem as palavras de Bento XVI, que recentemente (21 de janeiro de
2012), disse à Rota Romana, a corte ordinária da Sé Apostólica, que
ninguém pode simplesmente varrer sobre a legislação vinculante da Igreja
quando se trata de assuntos pastorais”.
“Um pastor responsável não pode ser guiado por uma ‘misericórdia’
imprecisa. E enquanto o presidente repete que em relação ao Magistério,
ele quer ‘permanecer dentro da comunidade da Igreja’, ele ou ignora os
limites que este Magistério dá ao cuidado pastoral, ou está
despreocupado em fazer uma declaração que o faça ficar bem”.
O Cardeal Cordes lamentou que nos comentários do Cardeal Marx, a ideia
da comunhão –entre bispos e com o Bispo de Roma–, era muito escassa,
“embora os bispos tenham prometido expressamente ‘unidade com o Colégio
dos Bispos sob o Sucessor de Pedro’ durante sua consagração episcopal. A
sentença: ‘não podemos esperar por um sínodo para nos dizer como temos
que moldar o cuidado pastoral para matrimônios e famílias aqui, não está
infundida com um espírito de ‘Comunhão’”.
Além disso, denunciou que a mensagem enviada pelo Cardeal Marx “parece
ser o resultado de uma ‘obediência que segue adiante’, uma estratégia
profundamente política com a qual criar ‘fatos’ para dominar o processo
de tomada de decisões e pressionar os seus colegas”.
“Particularmente deplorável são as declarações dadas durante a
conferência de imprensa de que as ‘novas soluções’ –cada um sabe o que
significa- podem ser teologicamente justificadas”, advertiu o Cardeal
Cordes. “Ele quer dizer que o dogma da indissolubilidade do matrimônio
se torna intolerável pelas situações de vida das pessoas recasadas?”,
questionou.
Logo, referiu-se às declarações de Dom Bode, que citou a constituição
Gaudium et spes para basear a sua conclusão de que “não só a mensagem
cristã tem que encontrar ressonância nos homens, mas também os homens
devem encontrar ressonância conosco”.
O Cardeal Cordes recordou que enquanto a Gaudium et spes assinala que
“não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no
coração dos discípulos de Cristo”, os padres do Concílio Vaticano II
“chegaram à conclusão que seria errôneo ver ‘os sinais dos tempos’ na
vida dos homens como uma ‘fonte de fé’…e formalmente excluída a
vergonhosa falácia de que nenhum desafio da Igreja como tal seria uma
fonte da fé”.
Pelo contrário, assinalou, a constituição dogmática do Vaticano II sobre
a divina revelação, Dei Verbum, “não deixa dúvidas de que a fé na
Igreja Católica se alimenta unicamente da Sagrada Escritura e do
Magistério”.
“Independente desta direção inequívoca, seria paradoxal atribuir a uma
pequena parte da Igreja, que vive em uma situação espiritualmente
lamentável, mas objetivamente ainda irregular, a função de uma fonte da
fé”, acrescentou
Concluiu escrevendo que “pode ser que os pastores reunidos em Roma neste
outono também deem orientação à maioria dos membros praticantes da
Igreja sobre como aprofundar seu matrimônio para enraizá-lo em Jesus
Cristo, e assim possam ser testemunhos do poder de Deus na vida do homem
para seus coetâneos”.
“Pode ser que os padres sinodais cheguem à conclusão de pronunciar um
profundo respeito por aqueles que nunca se casaram pela segunda vez –que
por fidelidade a seu primeiro compromisso matrimonial não ingressaram
em uma segunda união–. Esses casos também existem”, expressou.
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