sábado, 11 de julho de 2015

A voz dos católicos ''irregulares''

[unisinos]

Gianfranco e Raffaella, divorciados em segunda união, que optaram por não se aproximar dos sacramentos, "respeitando as proibições impostas pela doutrina da Igreja". Há Ezio e Elena, também eles divorciados recasados, que mudam de igreja a cada domingo depois de terem se dado contra de que, na paróquia do seu bairro, eles eram "motivo de escândalo". E há Fabio, casado na Escócia com Luciano, que se aproxima da Eucaristia "todas as vezes que eu posso, mas sinto falta do partir do pão em uma comunidade que vive, cresce, se ajuda e compartilha a vida". A reportagem é de Luca Kocci, publicada na revista Adista, n. 24, 04-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eles são os "fiéis irregulares" (mesmo que, na audiência geral da quarta-feira, 24 de junho, o Papa Francisco disse que não gosta da palavra "irregular", nos documentos da Igreja eles são chamados assim) que "se dirigem ao Sínodo" dos bispos sobre a família, como explica o subtítulo do belo livro de Aldo Maria Valli, vaticanista do canal Tg1, que reúne 20 histórias de divorciados, divorciados em segunda união, casais homossexuais, mais os testemunhos de dois párocos que se defrontam com esses temas e, especialmente, com essas pessoas em busca de acompanhamento e de respostas (Chiesa ascoltaci! Gli “irregolari” credenti si rivolgono al Sinodo [Igreja, escute-nos! Os fiéis "irregulares" se dirigem ao Sínodo. Roma: Ancora, 2015, 158 páginas).
Histórias de vida que contam as vicissitudes de casais que se debateram com dificuldades e fracassos, mas que souberam e quiseram começar outra história. Ou de pessoas do mesmo sexo, que, apesar da indiferença, da desconfiança ou da marginalização sofrida por parte da própria comunidade, vivem a sua relação como cristãos.
"O que as une – escreve Valli –, além da situação de 'irregularidade' em relação às normas fixadas pela Igreja, é a fé. Uma fé, diríamos, apaixonada."
"Às vezes, temos a sensação de que o magistério assimile a condição do recasado com a de quem sofre de uma doença terrível e incapacitante, até mesmo desvinculada, no caso do cônjuge 'inocente', de culpas pessoais. Uma espécie de pecado original, que retorna depois do batismo e infecta todo o futuro", explica Gianfranco e Raffaella.
"Depois de termos feito uma promessa errada para a pessoa errada, realmente não podemos fazer mais nada?", perguntam-se, até porque, por enquanto, é justamente isso, a partir do momento em que, "se se tem a infelicidade de não se encaixar em nenhum dos casos taxativos de nulidade, restam apenas duas possibilidades: reconstituir uma família e renunciar à Eucaristia ou ser admitidos à Eucaristia renunciando a reconstruir uma família". E é "realmente difícil ler em tudo isso a misericórdia de Deus".
Mas nem todos os "irregulares" pensam dessa forma. Simona e Federico, divorciados recasados: "Nós pensamos que mudar a doutrina do matrimônio, no sentido de admitir aos sacramentos os divorciados em segunda união, não se traduziria em um ato de maior misericórdia, mas em uma degradação do matrimônio católico".
Por isso, do Sínodo, "esperamos uma atenção cada vez maior pelas pessoas feridas, mas não uma perda do patrimônio de fé e de valores expressado pela doutrina católica".
"Pedimos à Igreja que se comporte como uma mãe amorosa que acolhe os seus filhos, não como uma mãe severa que os pune", porque "uma mãe certamente deve apontar o erro cometido pelo filho, mas não pode lhe lembrar a todo o momento que ele errou", diz Elio, divorciado e recasado com Helga.
"A minha esperança é de que a Igreja Católica possa seguir um dia a práxis da Igreja Ortodoxa, de modo que, depois de um caminho penitencial, o casal possa ter as bodas abençoadas."
Andrea e Dario, casados no Canadá, com três filhos, olham para a próxima assembleia do Sínodo com esperança: "Esperamos em uma comunidade eclesial que saiba cuidar das pessoas homossexuais que sentem arder dentro de si mesmas o desejo de uma vida afetiva de casal e que saiba incluir os casais homossexuais, abraçá-los e orientá-los, libertando-se das batalhas ideológicas, fortalecida com a consciência de que o amor de Cristo é para todos, e para todos é fonte da vida em abundância".
Tantas histórias que compõem um mosaico daquela que realmente é a comunidade cristã, feita de mulheres e homens inervados pela fé e imersos na história. Todos falam aos bispos, que, em outubro, se reunirão para a assembleia ordinária do Sínodo sobre a família, e ao Papa Francisco, que, no fim, deverá decidir.
Eles pedem para ser ouvidos e acolhidos, porque "ser tolerados não nos basta", dizem Liliana e Paolo, também eles divorciados em segunda união.
À espera, com esperança. Será assim?

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...