O caminho que culminará em 2023 com o Sínodo dos Bispos apresenta pelo menos três buracos negros. A primeira é que sua conduta não é nada sinodal, o que confirma a atitude imperativa de Francisco. O segundo buraco negro diz respeito à escuta, viciado pelo fato de já ter sido decidido o que ouvir e o que não ouvir. A terceira é a ideia de introduzir a democracia liberal na Igreja. Tudo isso distorce a própria Igreja.
Por Stefano Fontana
O caminho sinodal sobre a sinodalidade, que terminará em 2023 com o sínodo real dos bispos após a longa "fase de escuta", tem vários buracos negros que o tornam muito problemático e exige não ser ingênuo.
O primeiro desses buracos negros é que sua realização não é nada sinodal. O documento final do Sínodo dos Estados Unidos afirma que 0,01% dos fiéis participaram da fase de escuta. Na prática, um pequeno grupo que apenas ouvia a si mesmo e falava acima de si mesmo. Quem aperta o acelerador é o Papa Francisco, e o faz de forma não sinodal, mas imperativa. Seu pontificado é caracterizado por nada menos que 53 motu proprio, mais do que os de seus dois antecessores combinados. Os bispos estão "encaixotados" entre ele e as conferências episcopais, e a sinodalidade impede a colegialidade. As nomeações no topo da liderança do Sínodo já demonstram o desejo de liderá-lo ou mesmo determiná-lo. Afinal, este também foi o caso dos sínodos anteriores, começando com a Mãe de todos os sínodos, o da família em 2014/2015. Que a sinodalidade é uma via de mão única é demonstrado pelos slogans que são repetidos servilmente nos documentos finais dos sínodos diocesanos e na bibliografia de referência fornecida aos participantes. Entre tudo isso, gostaria de destacar a biografia da diocese de Pádua, completamente marcada pelo progressismo: com base nisso, já se podia adivinhar o resultado do Sínodo de Pádua.
Mesmo os teólogos mais favoráveis ao sínodo, como Mons. Giacomo Canobbio, apontam a contradição de um sínodo promovido centralmente sobre sinodalidade. No atual número do "Studia Patavina", Canobbio vê uma armadilha também no ensinamento/comportamento do Papa Francisco: por um lado, ele quer envolver todos no processo sinodal, por outro, ele continua sendo aquele que determina o caminhos das Conferências Episcopais, incluindo a italiana. Essa pressa de queimar as etapas da sinodalidade por imposição lança uma luz política ambígua sobre todo o processo em curso e confirma que se trata de uma sinodalidade decidida e imposta a priori.
Um segundo buraco negro refere-se à atitude de escuta, considerada fundamental nesta fase de preparação para o sínodo. Todo mundo vê que é uma escuta falha na medida em que já está orientada a ouvir certas coisas e não outras. É também uma escuta instrumental para levar as coisas para onde se quer que sejam levadas. Além disso, a atitude de escuta é comprometida por uma confusão entre o sensus fidei dos fiéis e a categoria de pessoas próprias da correspondente "teologia do povo". Essa conexão problemática foi teorizada por Francisco em várias ocasiões. o sensus fideiou “instinto/senso de fé”, segundo Francisco, é produzido com o sopro do Espírito e faz com que os fiéis batizados gozem de certa conaturalidade com as realidades divinas, das quais deriva a sabedoria no discernimento. Nisto ele baseia a necessidade de escutar dentro da Igreja, para evitar o verticismo e o clericalismo. A isso ele então associa a teologia do povo, pois uma certa assistência conatural do Espírito Santo existiria também fora da Igreja, no povo como povo. Por isso, a escuta também deve ser dirigida a quem está distante. Por pessoas entendemos a humanidade, o mundo, para que haja um paralelismo entre a Igreja e o mundo, uma igualdade na escuta. A ideia é certamente coerente com muitas correntes da teologia contemporânea, mas nem por isso não é motivo de preocupação. O perigo de pensar o povo em um sentido sociológico está se aproximando e o movimento para afirmar que o sopro do Espírito está presente nas demandas LGBT de hoje é imediato. Nesta base, o sínodo tem uma fundação profundamente errada.
O terceiro buraco negro é que ele quer introduzir a democracia liberal moderna na Igreja. O já mencionado Giacomo Canobbio o afirmou com clareza: "Imaginar que a verificação [sic!] do sensus fidelium não abre a porta para formas de democratização da Igreja é cair em uma forma de espiritualização da vida eclesial". Para que a sinodalidade – continua Canobbio – se traduza em decisões em um sínodo, “as experiências tiradas das sociedades democráticas não podem ser deixadas de lado”. Do seu ponto de vista ele tem razão: se a democracia verifica [sic!] o sensus fidelium, então a Igreja deve ser democrática. Hoje, as decisões dos sínodos são colocadas nas mãos do bispo ou do papa, mas a perspectiva é a de uma nova sinodalidade, na qual as decisões dos sínodos, tomadas democraticamente, não terão mais que ser submetidas ao papa ou o bispo, porque neste caso recairia no clericalismo; "Se ele [o Papa] continuar a dizer a última palavra, corre-se o risco de abrir caminho para novos verticismos". O voto democrático atestaria a presença do Espírito Santo nas decisões sinodais. Uma promoção radical da democracia processual moderna, que remonta a nada menos que as exigências da Encarnação, mas que na verdade é um historicismo.
Se juntarmos esses três buracos negros, nos perguntamos se a Igreja que sairá do sínodo sobre a sinodalidade ainda será a Igreja Católica. O alarme é grande, embora muito poucos o digam.
Fonte - brujulacotidiana
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