Por Josemar Oliveira
Tomás de Aquino, um dos pensadores mais influentes da filosofia e teologia cristã, viveu no século XIII e dedicou sua vida a conciliar a razão com a fé. Em sua obra monumental, “Summa Theologica”, ele apresenta cinco argumentos — conhecidos como “as cinco vias” — que buscam demonstrar a existência de Deus. Esses argumentos são fundamentais para a filosofia cristã e continuam a ser debatidos e estudados até hoje. Vamos explorar cada uma dessas vias em mais detalhes.
1. Via do Movimento
A primeira via de Tomás de Aquino parte da observação do movimento no mundo. Ele argumenta que tudo que se move é movido por algo. Essa cadeia de movimento não pode ser infinita; portanto, deve haver um Primeiro Movedor que não foi movido por nada, que é Deus. Este argumento se baseia na ideia de que, para que algo se mova, deve haver uma causa externa. Por exemplo, uma bola sendo empurrada por uma pessoa ilustra como o movimento exige uma causa.
Reflexão
A via do movimento nos convida a considerar a origem de tudo no universo. Se tudo é resultado de um movimento, qual é a fonte desse movimento inicial? Essa questão leva a uma busca por algo que não precise de uma causa externa — um ponto de partida.
2. Via da Causa Eficiente
A segunda via se concentra na causalidade. Tomás argumenta que todo efeito tem uma causa. Se seguirmos a cadeia de causas, não podemos ter uma série infinita de causas; portanto, deve haver uma Causa Primeira que não foi causada por nada, que é Deus. Um exemplo simples é a árvore que cresce a partir de uma semente; sem a semente, a árvore não existiria.
Reflexão
Esse argumento nos leva a contemplar a interconexão de tudo que existe. A busca pela causa primeira é uma jornada filosófica que desafia a ideia de que tudo pode ser explicado por causas naturais, sugerindo a necessidade de uma origem divina.
3. Via da Contingência
Na terceira via, Tomás de Aquino observa que tudo que existe pode não existir — ou seja, é contingente. Se tudo fosse contingente, em algum momento nada existiria. Portanto, deve haver um ser necessário que não depende de nada e que é a causa de tudo, que é Deus. Este argumento nos leva a refletir sobre a natureza da existência.
Reflexão
A ideia de contingência nos mostra que a existência não é garantida. A presença de um ser necessário nos dá uma base para explicar a existência do universo. Essa via desafia a noção de que o universo é autossuficiente.
4. Via dos Graus de Perfeição
A quarta via aborda os graus de perfeição que observamos nas qualidades humanas, como bondade, verdade e beleza. Para que possamos avaliar esses graus, deve haver um padrão supremo de perfeição, que é Deus. Quando dizemos que algo é “bom”, estamos nos referindo a uma ideia de bondade perfeita.
Reflexão
Este argumento nos leva a pensar sobre os padrões que usamos para avaliar o mundo ao nosso redor. A busca pela perfeição moral e estética sugere que há uma fonte absoluta dessas qualidades, que, segundo Tomás, é Deus.
5. Via do Design (ou do Finalismo)
Por fim, a quinta via observa a ordem e a finalidade na natureza. A complexidade e o funcionamento harmonioso dos sistemas naturais indicam um designer inteligente. As coisas que não têm inteligência, como uma flecha, são direcionadas a um fim por algo inteligente, que é Deus. Este argumento é muitas vezes associado à ideia de que o universo não é apenas um acidente, mas um sistema ordenado.
Reflexão
A via do design nos convida a ver o mundo como algo intencional e planejado. A beleza e a complexidade da vida revelam um propósito maior, o que leva à reflexão sobre a existência de um Criador.
Conclusão
As cinco vias de Tomás de Aquino oferecem uma estrutura racional para a discussão sobre a existência de Deus. Elas não apenas proporcionam uma base filosófica para a fé, mas também convidam à reflexão profunda sobre a natureza do universo e nosso lugar nele. Em um mundo onde a ciência e a filosofia frequentemente se encontram em desacordo, os argumentos de Tomás permanecem relevantes, incentivando um diálogo contínuo entre razão e fé. Ao explorarmos essas vias, somos desafiados a considerar não apenas a existência de Deus, mas também o significado mais profundo de nossa própria existência.
Fonte - apostolado21
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