segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Verdadeiro misticismo e falso misticismo (III)

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Por SIM SIM NÃO NÃO

FALSO MISTICISMO

Agora que lidamos com a verdadeira mística 11, precisamos ver sua falsificação,

“O primeiro caminho expurgado do desenvolvimento espiritual ou da vida ascética, corresponde aproximadamente à puberdade (12-14 anos), quando o ser humano começa a se desenvolver fisiologicamente e psicologicamente e a se tornar um homem capaz de gerar, e deixa de ser uma criança. A segunda rota, iluminativa ou mística inicial, corresponde à adolescência, na qual continua a crescer a partir da puberdade e tende à maturidade, entre 15 e 20 anos. A terceira, uma rota mística unitiva ou perfeita, corresponde à maturidade do adulto que terminou seu desenvolvimento e atingiu a maturidade fisiológica e psicológica. Cresceu ao longo dos anos e tem alguma medida de discernimento, prudência, julgamento e equilíbrio. Ou seja, alcançou o pleno desenvolvimento de suas faculdades intelectuais e morais, sua plenitude e perfeição. É imperfeito entre 21 e 35 anos de idade e perfeito a partir de 35” (Garrigou-Lagrange). A espiritualidade implica todos esses elementos (conhecimento de Deus e amor por Ele, por si mesmo e pelo próximo; isto é, levar uma vida moral saudável no indivíduo e no social).

É um erro ignorar o desenvolvimento saudável da esfera afetiva no caminho espiritual, que é adquirido com as primeiras experiências familiares e nos permite dominar mais facilmente nossas reações, modificar e corrigir sentimentos negativos (desconfiança, falta de autoestima, vergonha, culpa, medo). Esses sentimentos negativos têm origens remotas. Eles estão enterrados em nossa memória, mesmo que não tenhamos plena, verdadeira e explícita consciência deles, e possam influenciar nossa vida individual e social. As falhas causadas por deficiências afetivas podem ser corrigidas pela direção espiritual, exame de consciência, meditação, autoconhecimento e, acima de tudo, confiança em Deus.

Cristianismo verdadeiro e falso

A verdadeira vida não é apenas sobre comer, beber, se divertir e experimentar emoções e prazeres. Nenhuma dessas coisas leva a lugar nenhum, e faltam fins e ideais; levam à morte sem esperança de ressurreição. É uma vida puramente animal que carece do essencial, o que nos faz homens: o elemento racional, isto é, conhecer a Verdade e amar o Bem com uma perspectiva sobrenatural e eterna. O homem é certamente um animal racional (Aristóteles). O cristão, além de ser um homem, possui em si a ordem sobrenatural: Deus, presente em sua alma através da graça santificante, ainda que de forma finita e limitada.

O cristianismo integral é uma coisa. Não conhece meias tintas ou compromissos; não é acomodativo ou mistura de princípios. De princípios que são certezas absolutas (fé e moral) tira conclusões lógicas que levam a uma vida fundada no conhecimento da Verdade (fé) e amor do Bem (caridade). Agora é impossível conhecer a Verdade sem combater a falsidade e o erro; não se pode amar o Bem sem abominar o mal ou separar-se dele. Milícia es vita hominis super terram, como disse Jó. É necessário ser totalmente integral e intransigente em princípios, mas elástico, misericordioso e compreensivo com fragilidade e limites humanos em termos de meios e práticas.

A graça não destrói a natureza; pressupõe e aperfeiçoa-a (São Tomás de Aquino, Soma I Teológica, q. 1, a. 8, ad 2). Por essa razão, devemos primeiro ser verdadeiros homens, e depois bons cristãos. De fato, a vida natural consiste na união da alma com o corpo, e o sobrenatural ou cristão é a união da alma com Deus. A morte é a separação entre alma e corpo, e condenação, a separação da alma de Deus por causa do pecado.

Ser um cristão verdadeiro e integral significa caminhar em direção a um objetivo que é Deus sem virar à direita ou à esquerda dentro do que as limitações humanas nos permitem. Uma das recomendações que devemos sempre fazer é nunca mentir para nós mesmos ou para Deus que vê tudo, mesmo os pensamentos mais ocultos. Mesmo que não gostemos ou estamos revoltados, temos que nos ater à verdade.

O cristianismo autêntico é o oposto do modernismo (síntese e sumidouro de todas as heresias, como disse São Pio X na encíclica Pascendi, 1907). Para o modernismo, não há verdade absoluta, objetiva e estável; tudo é produto das exigências ou caprichos do homem. Deus é o produto do homem! É absurdo, depravação ou grande degeneração? O modernismo é uma religião de cabeça para baixo, inferior, degenerada e invertida. Por outro lado, o verdadeiro cristianismo integral tem um único fim, um único objetivo que exige estar disposto a fazer tudo, até mesmo negar a nós mesmos ou dizer não, desistir de nossos caprichos, interesses, gostos e prazeres. Resumindo: ao eu corrompido pelo pecado original, ao qual o modernismo subjetivista idolatra. Aí está o contraste irreconciliável entre o cristianismo e o modernismo, entre Cristo e Satanás, entre a luz e as trevas, entre o falso e o seu ferido e Deus.

Essa é a nossa fé, mas “a fé sem obras é inútil” (São. 2.20). Portanto, é necessário tirar conclusões a partir dele e aplicá-las à vida prática diária. Conhecer e querer caminhar juntos. O mero conhecimento incha, e a vontade sozinha cega. “Fomos criados para conhecer, amar e servir a Deus e, assim, salvar a nossa alma” (Catecismo de São Pio X).

A boa gestão das criaturas é indispensável para viver a vida cristã autêntica e justa. As criaturas (entre as quais nos encontramos) são meios ou instrumentos que nos permitem compreender o fim último, que é um: Deus. Portanto, não devemos servi-los, mas servir-nos a eles (no bom sentido do termo, não no utilitário). Ou seja, “as coisas são boas ou ruins, pois ajudam mais ou menos a alcançar esse fim” (Santo Inácio de Loyola). Também nós somos criaturas e meios para o serviço dos outros. Não podemos ficar com o fim. Seria o narcisismo desordenado em vez do cristianismo. Ordem é o meio ordenado até o fim.

A desordem ocorre quando o homem se coloca no lugar de Deus. Todos os males são derivados de tal desordem, que consiste na inversão da ordem divina. Essencialmente, o modernismo é essa revolução antropocêntrica. Não é um pecado de fraqueza ou fraqueza, mas de espírito e intenção, cientificamente estudado e vividamente desejado. Deus não é o princípio ou o Fim no intelecto ou na vontade, nem mesmo na sensibilidade do homem, mas o próprio homem é o fim (Gaudium et spes, 24), e Deus... uma criação dele!

Orgulho e humildade. A verdadeira humildade de coração, não de palavra simples, consiste na verdade. Nossa vida foi criada e dada a nós por Deus e a Deus. A falsidade é pensar que somos nós que dirigimos nossas vidas para nossos próprios fins.

Mansidão e força são as duas virtudes que o verdadeiro cristão precisa suportar, aceitar e agir. Docilidade para aceitar e masculinidade para agir. Sem docilidade, a fortaleza degeneraria em crueldade, e sem força a docilidade se tornaria covardia. É necessário combinar ambas as virtudes, como o intelecto e a vontade. Vejamos um exemplo: temos amigos, mas também inimigos. Com amigos é fácil viver (embora na realidade só haja um verdadeiro Amigo que nunca traia: Jesus Cristo). “O inimigo de hoje pode ser amigo de amanhã, e amigo de hoje o inimigo de amanhã.” – Kempis Humanamente, é difícil viver com inimigos. Daí a necessidade de saber sobrenaturalmente tirar proveito das alegrias que alguns nos dão e do desconforto causado por outros para exercitar as virtudes da paciência e da força. O luto e a alegria são meios que se destinam a nos ajudar a alcançar o fim, que é Deus. Tudo tem que contribuir para o nosso crescimento espiritual, seja louvor ou afronta. Viver apenas para o nosso deleite não é colocar Deus em primeiro lugar. Considerando que, quando Deus é o fim último de nossa vida, as alegrias que nossos amigos nos trazem e as dores que nossos inimigos nos causam serão instrumentos que nos permitem unir a Deus. Peçamos-lhe a graça de “saber suportar nossos adversários e fugir daqueles que nos lisonjeiam e lisonjeiam” (Kempis).

Aceitar e fazer. Tal é a vida cristã. Aceitando o quanto Deus permite, mesmo aquilo que nos enoja, fazer a Sua vontade, mesmo que Ele nos crucifique. A palavra cruz vem do latim cruciare, que significa sofrer tormento. Quem rejeita o tormento rejeita a Cruz e Jesus, que é excluído do Paraíso. A verdadeira união com Deus é a união moral ou a vontade, para uniformizar a vontade de alguém com o Deus. Estarei verdadeiramente em comunhão ou união de vida em comum com Deus se aceitar a Sua vontade em tudo o que me acontece e cumprir o meu dever mesmo que ela pese sobre mim ou não gosto.

Mais uma vez, nos deparamos com uma oposição diametral entre o cristianismo e o modernismo. O primeiro aceita tudo o que Deus tem reservado para ele, tristezas e alegrias. “Deus me deu, Deus tirou de mim. Que o nome do Senhor seja abençoado!" (Jó). O segundo nos diz que Deus é um produto das necessidades do subconsciente humano que visa o homem ser feliz e satisfeito consigo mesmo na experiência ou no sentimentalismo religioso. Deus é uma conseqüência do egoísmo humano que serve para tornar o homem principalmente satisfeito consigo mesmo, e pode ser qualquer coisa que o homem use para se realizar mais como homem. O oposto do cristianismo!

Aparência e realidade. Exterioridade e substância. Tudo o que o egoísmo chama de adversidade ou felicidade é a aparência, a superfície, sob a qual a substância está oculta: a vontade de Deus, assim como Jesus está realmente presente sob as aparências ou espécies da Hóstia do Pão. Bem, se queremos fazer a vontade de Deus, temos que aceitar tudo o que nos ordena, alegrias e tristezas. A vontade de Deus está em toda parte, e temos que nos contentar em todas as ocasiões, mesmo na aparência de adversidade, vendo a substância da vontade de Deus, que é a única coisa que pode dar paz de espírito à nossa alma. Certamente que a paz, essa imperturbabilidade do coração que não altera nada nas profundezas da alma, não é fruto de nossos esforços, mas da Graça de Deus. Vamos perguntar a Ele. É o presente mais valioso que podemos ter; ser calmo e sereno tanto na alegria quanto na dor.

Verdadeira paz social: não existem profissões indignas, apenas homens indignos. Qualquer ofício e condição social são a vontade de Deus. Assim como no corpo humano há pés, pernas, coração e cabeça, o corpo social também tem vários membros. E assim como os pés não podem dispensar a cabeça, ele não pode desprezar os pés por sua condição baixa (Tito Lívio, Apologia de Menênio Agripa).

A meditação não tem a intenção de pedir a Deus que faça a nossa vontade, mas a ganhar força para fazer a Sua própria. Fazer antes de tudo a oração mental significa aproximar-se de Deus, entrar em comunhão de pensamentos e vontade com Ele. Se todos os nossos pensamentos e reflexões forem orados, encontraremos a verdadeira união com Deus e a verdadeira paz interior.

Tudo isso parece exagerado e impossível. De uma perspectiva puramente natural, é. Agora, “eu posso fazer todas as coisas naquele que me consola” (São Paulo). No entanto, o egoísmo, o conforto e os caprichos pessoais são pouco menos do que onipresentes em nossas obras e nossa natureza ferida pelo pecado original. Devemos sempre voltar aos princípios do cristianismo, prontos para segui-los até as consequências finais sem acomodá-los aos nossos caprichos. Estes princípios não suportam adaptações: 2 + 2 são 4. Sempre 4, não quase 4 ou 4 e pico. Em vez disso, em questões de método, de como fazer as coisas, podemos ser elásticos e pontuais. Firmeza de princípio porque acredita-se; suavidade na mídia porque é amado. Se nos deixarmos dominar pelos caprichos quando se trata de princípios seremos como varas agitadas ao vento. Por definição, os caprichos estão em constante mudança e sem razão. Se os princípios estão faltando ou diluídos, os verdadeiros cristãos acabarão sendo meio-cristãos. O cristão deve esforçar-se para ser um alter Christus. Agora: 1) Cristo é Deus, e porque Deus não mudou. Da mesma forma, o cristão tem que se esforçar para não alterar continuamente seus princípios de ação. 2) Cristo é o verdadeiro homem, e é por isso que não devemos destruir nossa natureza humana, mas educá-la e elevá-la sobrenaturalmente. 3) Em Cristo estão unidos a natureza humana e divina na Pessoa da Palavra. Juntos, mas não revoltados. As Pessoas divinas mantêm cada uma a sua perfeita integridade sem se confundir. Assim, o cristão deve procurar libertar-se de sua falsa personalidade humana ferida pelo pecado original para que a Pessoa de Cristo viva nele. "Eu vivo, iam non plus ego, sed Christus vivit in me"; "Mihi vivere Christus est et mori lucrum" (São Paulo). Somente os santos que fizeram Cristo viver perfeitamente neles e perderam sua antiga personalidade ferida e desordenada são homens normais e cristãos perfeitos e integrais, porque aniquilaram o cisma do falso eu a respeito do eu de Cristo. Por esta razão, devemos: 1) esforçar-nos pelo aperfeiçoamento do elemento divino em nós através da graça santificante; 2) pela do elemento humano, através da educação e submissão da sensibilidade ao intelecto e à vontade; 3) unir a nossa pessoa humana ao divino, afastando todo obstáculo que nos separa de Deus; e 4) renunciar totalmente à nossa vontade ou personalidade ou uniformizá-la com o divino, deixando-nos conduzir por Deus.

São Paulo exorta-nos com as seguintes palavras: “Pusemos a armadura de Deus, para que vos sustentes contra os enganosos ataques do diabo. Pois para nós a luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados, contra os poderes, contra os poderes mundanos destas trevas, contra os espíritos da maldade no celestial. Tome, portanto, a armadura de Deus, para que você possa resistir no dia mau e, tendo cumprido tudo, ficar de pé. Então você tem firme, aconchega os lombos com a verdade e vestido com a couraça da justiça, e você enfia os pés com a presteza do Evangelho da paz. Abrace em todas as ocasiões o escudo da fé, com o qual você pode desligar todos os dardos ardentes do Maligno. E receber o capacete da saúde, e a espada do Espírito" (Ef. 6.10-17).

Não podemos ficar pelos assaltos ao que é mais valioso para nós do que qualquer coisa: nossa Fé, nossa Religião, nosso Deus e Sua Igreja. Se conseguirmos permanecer fiéis à rigidez dos princípios e à disciplina marcada, não haverá nada que nos intimide, e a vitória final será nossa, e sobretudo de Deus conosco. Se tivermos certas idéias em nossas cabeças e não as diluírmos, no coração amor sobrenatural e na vontade, e nas veias sangue regenerado pelo sacrifício de Cristo, podemos fazer qualquer coisa, mesmo no mundo atual. De fato, há uma força que não é nossa, mas que podemos participar, e que neste mundo triunfa sobre tudo: a nossa Fé (1 Jo. 5.4).

Natureza do falso misticismo

O falso misticismo perverte antes de tudo o conceito de estado passivo do misticismo, que não é chamado de passivo em um sentido absoluto ou total, mas em relação à Graça superbundante do Espírito Santo. Na realidade, o misticismo consiste em não colocar obstáculos à ação de Deus em nossa alma. Mas não consiste na passividade absoluta do homem em termos de agir espiritualmente, com a ajuda do Paracleto, vivendo de forma heróica as virtudes infundidas, em particular as teológicas.

Ascetas consistem sobretudo no esforço humano habitual (esforço askéo = me) assistido pela graça corrente ordinária ou suficiente de Deus para viver num estado de graça santificante, lutando contra o pecado mortal e fazendo uma oração mental principalmente discursiva (primeiro caminho, purgativa ou iniciante); depois consiste na imitação das virtudes de Cristo e numa oração mental principalmente afetada (segundo caminho, esclarecedora ou2 Enquanto nos ascetas a alma pode ser comparada a um barco a remo com o qual é navegada com a ajuda da graça corrente comum de Deus e a cooperação da força dos braços do barqueiro, que vivem as virtudes infundidas no modo humano e ainda não de forma heróica. Portanto, o verdadeiro misticismo é caracterizado por uma atividade heróica ou sobre-humana por parte do homem que se exerce nas virtudes infundidas; no entanto, ele é movido antes de tudo pelo Espírito Santo, que não deve resistir ou se opor a obstáculos pela má vontade (passividade relativa). Por outro lado, o falso misticismo fala de total passividade mesmo em ação, o que leva a um erro tranquilo; ou seja, não fazer o que é dito. Mas Jesus nos disse no Evangelho que nem todo aquele que diz Senhor entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a Sua vontade. Além disso, “A fé sem boas obras é inútil” (Tiago 2:16).

1 Antonio Royo Marín OP, Teologia da Perfeição Cristã, BAC 1960, A. TANQUEREY, Compêndio di Teologia Ascetica e Mística, Proceno – Viterbo, Effedieffe, 2020 reedição.

2 São Tomás de Aquino, S. Th., II-II, q. 24, a. 9.

(Traduzido por Bruno do Imaculado)

 

Fonte - adelantelafe

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