Entre os dias 10 a 24 de outubro vindouro acontecerá em Roma mais um Sínodo dos Bispos, isto é, “a assembleia dos Bispos que, escolhidos das diversas regiões do mundo, reúnem-se em determinados tempos, para promover a estreita união entre o Romano Pontífice e os Bispos, para auxiliar com seu conselho ao Romano Pontífice, na preservação e crescimento da fé e dos costumes, na observância e consolidação da disciplina eclesiástica, e ainda para examinar questões que se referem à ação da Igreja no mundo”. “O Sínodo dos Bispos pode reunir-se em assembleia geral, isto é, na qual são tratadas questões que se referem diretamente ao bem da Igreja universal; essa assembleia é ordinária ou extraordinária; pode também reunir-se em assembleia especial, na qual são tratadas questões que se referem diretamente a uma ou mais regiões” (cann. 343; 345).
O próximo Sínodo Especial terá como tema “A Igreja Católica no Oriente Médio: comunhão e testemunho” e como lema: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma” (At 4, 32).Em 19 de janeiro foi apresentado pela Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos os ‘lineamenta’, compostos por um Prefácio, uma Introdução e três Capítulos: I – A Igreja Católica no Oriente Médio, II – A Comunhão eclesial e III – O Testemunho Cristão, encerrando com uma Conclusão Geral: Que futuro para os cristãos do Oriente Médio? “Não temas pequenino rebanho”, contendo 92 números e 32 perguntas. Aqui apresentaremos o seu objetivo e um breve ‘excursus’ histórico das Igrejas Católicas no Oriente Médio:
O objetivo da Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos é duplo: confirmar e fortalecer os cristãos na sua identidade mediante a Palavra de Deus e os Sacramentos, e reavivar a comunhão eclesial entre as Igrejas católicas não só no Oriente Médio, porque existem também ali as Ortodoxas e as comunidades protestantes. A dimensão ecumênica é fundamental para que o testemunho cristão seja autêntico e credível. “Que todos sejam um só, para que o mundo creia” (Jo 17, 21).
Por conseguinte, é necessário reforçar a comunhão a todos os níveis: no interior de cada uma das Igrejas católicas do Oriente, entre todas as Igrejas católicas e com as outras Igrejas cristãs. É necessário, ao mesmo tempo, fortalecer o testemunho que damos aos judeus, aos muçulmanos e aos outros crentes ou não-crentes.
O Sínodo oferece-nos também a ocasião para analisar a situação religiosa e social, para dar aos cristãos uma visão clara do sentido da sua presença nas suas sociedades muçulmanas (árabe, israelense, turca ou iraniana), do seu papel e da sua missão em cada país, preparando-os, assim, para serem testemunhas autênticas de Cristo. Trata-se, portanto, de uma reflexão sobre a situação atual, a qual não é fácil porque é de conflito, de instabilidade e de maturação política e social na maior parte dos nossos países.
Reflexão guiada pelas Sagradas Escrituras
A nossa reflexão será guiada pelas Sagradas Escrituras, que foram redigidas nas nossas terras, nas nossas línguas (hebraico, aramaico ou grego), em âmbitos e expressões culturais e literárias que sentimos nossos. A Palavra de Deus é lida na Igreja. Essas Escrituras chegaram até nós por meio das comunidades eclesiais, foram transmitidas e meditadas nas nossas sagradas Liturgias e são uma referência indispensável para descobrir o sentido da nossa presença, comunhão e testemunho no contexto atual das nossas Nações.
O que diz a Palavra de Deus, aqui e agora, a cada Igreja em cada um dos nossos países? Como se manifesta a providência benévola de Deus por meio de todos os acontecimentos fáceis ou difíceis da nossa vida cotidiana? Que nos pede Deus nestes dias? Permanecer, para nos comprometermos durante os acontecimentos, que depois é o da Providência e da graça divina? Ou emigrar?
Por conseguinte, trata-se – e é um dos objetivos desta Assembleia Especial – de redescobrir a Palavra de Deus nas Escrituras que se dirigem a nós hoje, que nos falam hoje e não só no passado, e nos explicam, como aos dois discípulos de Emaús, o que acontece em nosso redor. Esta descoberta tem lugar antes de tudo na leitura meditada das Sagradas Escrituras, pessoalmente, em família e na comunidade viva. Mas o essencial é que ela guie as nossas opções quotidianas na vida pessoal,familiar, social e política.
Situação dos cristãos no Médio Oriente
Breve excursus histórico: unidade na verdade
Todas as Igrejas católicas no Oriente Médio, assim como cada comunidade cristã no mundo, remontam à primeira Igreja cristã de Jerusalém, unida pelo Espírito Santo no dia de Pentecostes. Elas dividiram-se no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedônia, principalmente por questões cristológicas. Antes da divisão, ela deu vida às Igrejas conhecidas hoje com o nome de “Igreja Apostólica Assíria do Oriente” (que era chamada nestoriana) e “Igrejas Ortodoxas Orientais”, ou seja, as Igrejas coptas, sírias e armênias, que eram chamadas monofisitas. Muitas vezes estas divisões tiveram lugar também por motivos político-culturais, como mostram os teólogos medievais do Oriente pertencentes às três grandes tradições denominadas “melquitas”, “jacobitas” e “nestorianas”. Todos eles ressaltaram que na base desta divisão não havia algum motivo dogmático. Em seguida, deu-se o grande cisma do século XI, que separou Constantinopla de Roma e, sucessivamente, o Oriente Ortodoxo do Ocidente Católico. Todas estas divisões ainda hoje existem nas várias Igrejas do Oriente Médio.
Depois das divisões e das separações, foram empreendidos periodicamente esforços para reconstruir a unidade do Corpo de Cristo. Neste esforço de ecumenismo formaram-se as Igrejas católicas orientais: armênia, caldeia, melquita, síria e copta. No início essas Igrejas foram tentadas pela polêmica com as Igrejas ortodoxas irmãs, mas com frequência foram também fervorosas defensoras do Oriente cristão.
A Igreja maronita manteve a própria unidade no âmbito da Igreja universal e não conheceu, no decurso da sua história, uma divisão eclesial interna. O Patriarcado Latino de Jerusalém, instituído com as Cruzadas, foi restabelecido no século XIX, graças à presença contínua dos Padres Franciscanos, sobretudo na Terra Santa, desde o início do século XIII.
Hoje as Igrejas católicas do Oriente são sete, na maioria árabes ou arabizadas. Algumas delas estão presentes também na Turquia e no Irão. Provêm de tradições culturais e, portanto, também litúrgicas, diferentes: grega, síria, copta, armênia ou latina, o que constitui a sua admirável riqueza e complementaridade. Elas estão unidas na mesma comunhão com a Igreja universal em volta do Bispo de Roma, sucessor de Pedro, corifeu dos apóstolos (hâmat ar-rusul). A sua riqueza deriva da sua própria diversidade, mas o excessivo apego ao rito e à cultura pode empobrecê-las. A colaboração entre os fiéis é habitual e natural, a todos os níveis.
Tradução: D. Hugo da Silva Cavalcante, OSB
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