Ela viu amigos e vizinhos serem arrastados pela enxurrada
Carlyle Júnior, do R7 em Nova Friburgo | 13/01/2011 às 19h06Carlyle Júnior/R7
Rua coberta de lama em Nova Friburgo, região serrana, devastada pelas
chuvas
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A comerciante Ide Monteiro, de 60 anos, está assustada com caos e destruição de Nova Friburgo nos últimos três dias. Ela era moradora do bairro Córrego D’Antas e perdeu sua casa por causa do transbordamento de um rio que corta o lugar. Para se salvar, ficou horas agarrada em um galho de árvore.
Ide não consegue apagar da memória as horas de terror em esperava pelos bombeiros.
- Enquanto estive agarrada no galho vi amigos e vizinhos serem levados pela enxurrada. Nunca vou apagar essa imagem da minha cabeça.
Graças a uma blusa branca que ela sacudia em direção ao helicóptero do Corpo de Bombeiros conseguiu ser resgatada. Já a vizinha e os amigos não tiveram a mesma sorte.
- Eu vivo em Friburgo há 16 anos. Não esperava viver isso. Lembro que limpei minha casa de manhã e ela estava cheirosa.
Mas, em poucos minutos a água suja e barrenta que escorria do alto dos morros levou a casa de Ide. Ela e sua sobrinha Jaqueline Camargo de 39 anos estão sem banho desde a madrugada da última terça-feira (11).
- Não aguento mais ficar andando de um lado para o outro sem ter água para tomar banho. O mau cheiro da lama impregnou no meu corpo e não saiu mais.
Um brechó no centro de Friburgo serve de abrigo para Ide, amigos e familiares. Com um par de chinelos nos pés, ela anda pela cidade ao lado da sobrinha em busca alimentos e dinheiro para acomodar os novos desabrigados no estabelecimento.
- Roupas não nos faltam, afinal estamos em um brechó. Mas, as pessoas na rua estão ajudando bastante, mas ainda é pouco para quem perdeu tudo nas chuvas.
Chuvas castigam região serrana
A chuva que começou na tarde de terça-feira já deixou mais de 300 mortos e milhares de desabrigados em Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis, na região serrana do Rio. Muitas pessoas ainda estão desaparecidas e muitos bairros, completamente soterrados.
Veja fotos da tragédia
A presidente Dilma Rousseff assinou nesta quarta-feira (12) a medida provisória que libera R$ 780 milhões em créditos extraordinários para os municípios afetados pelas fortes chuvas que atingiram o Rio de Janeiro, São Paulo e outras localidades.
Problemas antigos
A população das localidades de Benfica e Vale do Cuiabá, em Itaipava, distrito de Petrópolis, na região serrana do Rio, está acostumada a sofrer com a força das chuvas. Quem mora próximo ao rio Santo Antônio sente mais os efeitos das cheias. No entanto, os relatos dos sobreviventes dizem que nunca a água chegou ao nível que alcançou desta vez.
Nério da Costa Mesquita, de 83 anos, alugava uma casa em Benfica e perdeu tudo. Só lhe restou a roupa do corpo.
- Começamos a levantar as coisas, mas não imaginamos que a água ia subir tanto. Foi muita água. Agora tenho de esperar, sem água [para beber], sem mantimento, sem nada.
O proprietário da casa de Mesquita, Nilson Moreira de Macedo, que mora no mesmo terreno, também mantinha uma oficina na área. Ele perdeu o local onde morava e todos os objetos de trabalho.
- Não afetou só minha casa, mas o local de trabalho. Moro aqui há 35 anos. Nunca vi nada assim.
Clique aqui e saiba como e onde fazer doações
O Hemorio (Instituto Estadual de Hematologia do Rio de Janeiro) informou que precisa de cerca de 300 bolsas de sangue para enviar para a região serrana, principalmente Teresópolis e Nova Friburgo. Segundo a assessoria do instituto, as cidades atingidas pelas chuvas têm grande número de vítimas que necessitam de transfusão de sangue.
O Hemorio pede para que a população compareça ao hemocentro ou a dos 26 postos de coleta de sangue no Estado. Segundo o instituto, janeiro é um mês em que, tradicionalmente, o número de doadores cai. Para doar sangue é preciso ter entre 18 e 65 anos, pesar mais de 50 quilos, estar bem de saúde e trazer um documento oficial de identidade com foto. Entre a triagem e a doação, todo o processo leva cerca de uma hora.
O Hemorio fica na rua Frei Caneca, 8, no centro. O horário de funcionamento é das 7h às 18h, todos os dias, inclusive aos sábados, domingos e feriados. Para mais informações, o hemocentro oferece o 0800-282 0708 para tirar dúvidas e agendar horário para a doação.
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