24/10/2012
unisinos - Um sínodo
é um clássico exemplo de um evento onde é a viagem, e não o destino,
que importa. Os resultados finais podem ser anódinos, mas sempre há
observações ao longo do caminho que despertam surpresa, eriçam a pele,
ou ao menos jogam algumas cartas interessantes sobre a mesa. Essas
observações, que representam uma grande variedade de experiências e de
pontos de vista, podem não estar entre as conclusões do sínodo, mas, no
entanto, fazem parte do registro.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 19-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sem ser exaustivo, eis aqui alguns exemplos.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 19-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sem ser exaustivo, eis aqui alguns exemplos.
Vida religiosa e católicos alienados
Tem-se
falado relativamente pouco sobre o papel da vida religiosa na nova
evangelização, e a primeira fase quase chegou ao fim sem se ouvir uma
única irmã. Na manhã do dia 17, no entanto, a irmã norte-americana Mary Lou Wirtz, membro das Irmãs Franciscanas Filhas de Jesus e Maria e presidente da União Internacional de Superioras Gerais,
foi inserida na lista no último minuto, e ela fez uma forte defesa dos
religiosos e religiosas como "uma presença e testemunho proféticos".
"Hoje, há pessoas da nossa fé e tradição católicas que estão sofrendo", disse Wirtz ao
Sínodo. "Algumas, quando se voltam para a Igreja no meio de sua dor,
são afastadas por atitudes de julgamento ou por questões de poder e
controle".
Nesse contexto, sugeriu Wirtz, os religiosos e religiosas podem desempenhar um papel importante para ajudar a Igreja a "entrar a dor do nosso povo".
Os
religiosos e religiosas são mais do que um "recurso", disse, citando a
linguagem usada em um documento sinodal oficial. Eles são um testemunho
vivo, que, apesar do número em declínio, estão "bem e vivos, e vão
continuar assim".
Católicos divorciados e em segunda união
Alguns participantes do Sínodo, incluindo o arcebispo Bruno Forte, da Itália, indiretamente, levantaram o cuidado pastoral pelos católicos divorciados e em segunda união, incluindo a polêmica questão da sua exclusão dos sacramentos, em seus discursos formais.
Em discussões livres e nas conversas informais, no entanto, a questão apareceu muito frequentemente.
A Ir. Paula Jean Miller, membro das Irmãs Franciscanas da Eucaristia e um dos peritos teológicos do Sínodo, descreveu as conversas em uma entrevista com o NCR do dia 16 de outubro.
A
questão, segundo ela, é "como lidar com a tensão entre manter a lei de
Cristo, do casamento como indissolúvel e como o sacramento da união
entre Deus e a humanidade, mantê-lo vivo e visível no mundo, e ao mesmo
tempo ainda fazer com que pessoas em situações difíceis se sintam amadas
e parte da comunidade e membros plenos da Igreja?".
"É um problema muito, muito difícil", disse Miller, "e muitos dos bispos estão dizendo que temos que chegar a uma solução melhor do que a que temos no momento".
Evolução e transgênicos
O tema da relação entre fé e ciência surgiu bastante durante o Sínodo, mais notavelmente no dia 12 de outubro em um discurso de Werner Arber, prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1978 e presidente da Pontifícia Academia das Ciências (como protestante suíço, Arber é o primeiro não católico a dirigir uma academia pontifícia).
Duas coisas ficaram marcantes sobre o discurso.
Primeiro,
alguns católicos hoje estão circulando a ideia do "design inteligente"
como uma alternativa tanto para o criacionismo quanto para a evolução
(ou ao menos para o "evolucionismo" como filosofia, ao contrário da
"evolução" como teoria biológica). Nesse contexto, Arber fez uma forte defesa da evolução como um fato da vida estabelecido.
"Os processos em curso da evolução do universo e da vida são agora fatos científicos solidamente estabelecidos", disse Arber, chamando esses processos evolutivos de "elementos essenciais da criação permanente".
Em segundo lugar, ele também abordou os organismos geneticamente modificados (OGM),
apesar do fato de continuarem sendo controversos entre alguns ativistas
da justiça social católicos e entre alguns bispos no mundo em
desenvolvimento.
"A Pontifícia Academia das Ciências dedicou
uma semana de estudos em maio de 2009 a esse assunto com uma ênfase
particular dada às plantas transgênicas para a segurança alimentar no
contexto do desenvolvimento", disse. "A nossa academia concluiu que os
métodos recentemente estabelecidos de preparação de organismos
transgênicos seguem as leis naturais da evolução biológica e não trazem
nenhum risco ancorado na metodologia da engenharia genética".
"Pode-se
esperar que as perspectivas benéficas para melhorar as culturas
alimentares amplamente usadas aliviem a desnutrição e a fome ainda
existentes na população humana do mundo em desenvolvimento", afirmou Arber.
Em uma coletiva de imprensa no Vaticano no dia 18, o arcebispo Sviatoslav Shevchuk, da Igreja greco-católica da Ucrânia, disse que os bispos "ouviram com grande interesse" à apresentação de Arber,
mas não houve nenhuma sequência às suas afirmações sobre os
transgênicos, porque isso não era realmente pertinente à temática deles.
Quem pode ser salvo?
Apesar
do fato de que um sínodo de bispos inclui uma lista de especialistas
teológicos, notavelmente houve pouco debate doutrinal. No início, Wuerl apresentou
quatro pilares teológicos principais à nova evangelização –
antropologia, cristologia, eclesiologia e soteriologia –, mas as
conversas do público tenderam a ser mais pragmáticas.
A plateia,
no entanto, não é o único lugar "onde a salsicha é moída". Em conversas
informais, nos pequenos grupos e em eventos ao redor do Sínodo, como
recepções e encontros, os participantes podem levantar questões e
circular ideias que, no fim, abrem caminho nos procedimentos.
Quem está fazendo isso atualmente é Ralph Martin, professor de teologia do Seminário Sagrado Coração de Detroit, EUA, e antigo líder dos círculos carismáticos. Em uma recepção na universidade Angelicum, em Roma, Martin distribuiu cópias do seu livro Will Many Be Saved? What Vatican II Actually Teaches and Its Implications for the New Evangelization [Muitos
serão salvos? O que o Vaticano II realmente ensina e suas implicações
para a Nova Evangelização], publicado pela Eerdmans. Seus apoios são
como um "quem é quem" do oficialismo católico, incluindo Dolan, Wuerl e o cardeal Francis George, de Chicago.
Em poucas palavras, Martin acredita
que os católicos se tornaram excessivamente otimistas acerca da
salvação fora da Igreja, o que desviou o vento das velas daquilo que, em
termos históricos, foi o principal motivo para os esforços missionários
– salvar almas.
"Há uma visão de mundo tácita mais ou menos
assim: largo e amplo é o caminho que leva para o céu, e quase todo mundo
está viajando por esse caminho, e estreita é a porta que leva para o
inferno, e quase ninguém vai por esse caminho", disse Martin em uma entrevista no dia 17 de outubro.
"Isso é exatamente o oposto do que Jesus nos diz sobre a situação", afirmou.
Embora reconhecendo que o Vaticano II ensinou
que os não católicos podem ser salvos, ele afirma que o Concílio não
quis dizer que isso acontece automática ou facilmente. Na verdade, diz
ele, isso é "cheio de perigos e de incertezas".
Martin me disse que espera que o Sínodo aborde isso.
"Se
deixarmos de abordar isso, estaremos ignorando uma das coisas que mais
está turvando as águas em termos de uma resposta séria ao chamado à
evangelização", concluiu.
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