quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

L’Osservatore Romano critica revista católica francesa por defender o casamento gay

19/12/2012

ihu - O jornal do Vaticano, o L’Osservatore Romano, criticou na edição desta segunda-feira a revista francesa Temoignage Chrétien por sua defesa do casamento entre homossexuais e assinalou que igualar o casamento entre um homem e uma mulher com o de duas pessoas do mesmo sexo significa atingir um dos pilares básicos da sociedade.

A informação é do sítio espanhol Religión Digital, 18-12-2012. A tradução é do Cepat.

Em um artigo duro, o vespertino da Santa Sé “lamenta” que a revista francesa tenha defendido “incondicionalmente o ‘casamento’” gay e que o tenha feito acusando de homófobos todos aqueles que se opõem a essas uniões.

O casamento – acrescenta o jornal – “não é apenas, como escreve a Temoignage Chrétien, um contrato como muitos outros, que pode funcionar ou não, mas a união institucional que está na base da família, nascida para proteger e garantir o nascimento dos filhos”.


A partir do momento em que um casal homossexual não prevê isto, acrescenta, trata-se de uma realidade diferente. Segundo o jornal, a “utopia” da igualdade, “que tantos prejuízos causou no século passado, apresenta-se sob uma nova fachada, pedindo para declarar iguais vínculos que não o são”.

“Dizer que o casamento entre uma mulher e um homem é igual àquele entre dois homossexuais constitui uma negação da verdade que afeta uma das estruturas básicas da sociedade humana, a família. Não se pode fundar uma sociedade sobre essa base sem pagar depois um alto preço”, destaca.

No artigo, assinado pela editorialista Lucetta Scaraffia, se arremete também contra a adoção por parte de casais do mesmo sexo, pois, argumenta, essas crianças, já privadas de seus pais biológicos, veem-se depois “obrigados a viver em condições que não oferecem nem sequer a simulação de uma família natural”.

Assim mesmo, critica o fato de que muitos casais gays, “desejosos de ter um filho de seu próprio sangue”, estejam propiciando “novas formas de exploração, como a compra e a venda de gametas e úteros de aluguel”.

O jornal destaca que psicólogos e linguistas estão advertindo a sociedade sobre o perigo de esvaziar de significado o próprio conceito de família, “que não se pode estirar tanto sem que se rompa, e o mesmo ocorre para a definição de mãe e de pai”.

“Ser católico é muito mais que abraçar posições culturais de moda e os responsáveis pela Temoignage Chrétien, apesar de sua defesa das uniões homossexuais, sabem bem disso”, ressalta o jornal vaticano.
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Leia abaixo a declaração da revista francesa Témoignage Chrétien, 14-12-2012, sobre a lei do casamento para todos, por ocasião das manifestações dos dias 16 de dezembro de 2012 e 13 de janeiro de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.
A homossexualidade foi perseguida ou oprimida durante longos séculos. Na realidade, trata-se de uma orientação sexual tão legítima e digna quanto a heterossexualidade.

O matrimônio é um contrato escolhido por duas pessoas mais livres e conscientes hoje do que jamais o foi. É um contrato que pode ser rompido ou renovado legalmente. Há famílias que se fundamentam fora do casamento, e 40% das crianças nascem fora do casamento.

Rejeitar esse contrato aos homossexuais seria acrescentaria uma enésima discriminação àquelas dos quais eles já foram objeto muito frequentemente. É por isso que consideramos justo que ele seja aberto àqueles – homens e mulheres – que querem dar um quadro lícito mais forte para a sua união.

Caberá às religiões refletir sobre o sentido do casamento religioso, mas seria um grave erro político colocar um contra o outro. Lembremos, enfim, que as mesmas pessoas que se orgulham das virtudes da união civil hoje, depois de terem rejeitado o PaCS [Pacto Civil de Solidariedade], muitas vezes com as mesmas palavras, são os primeiros responsáveis por uma radicalidade gerada pelo seu fechamento às liberdades individuais. Esperamos que a lição sirva.

Não acreditamos que o casamento para todos irá dissolver a sociedade. O divórcio não fez com que o casamento desaparecesse. Um número muito grande de divorciados se casa novamente. Se o casamento para todos é um modo de integração suplementar na sociedade, então não é preciso hesitar.

Consideramos que o projeto de lei atual constitui um avanço real. Distinguimos a conjugalidade, a parentalidade e a filiação. O direito de toda criança de conhecer as suas origens e a sua filiação é um direito essencial, exceto pela impossibilidade ou no caso de força maior de natureza patológica.

Enfim, pedimos a todos que abram os olhos para uma realidade que é a solidão de milhões de pessoas, em situação de indigência material, afetiva e psicológica às vezes terrível. Em vez de se interrogar abstratamente sobre supostas desordens antropológicas de uma abertura do matrimônio a uma parte necessariamente reduzida da população, não seria melhor colocar todos os nossos esforços sobre a desordem antropológica, bem real desta vez, de uma sociedade cujas formas de consumo, de produção e de partilha são tão pouco respeitosas à pessoa humana e à sua dignidade?

A humanidade cresce quando os cidadãos se recusam a sacralizar os laços de sangue e dão a precedência aos laços de fraternidade que os unem. Assim, o que os une, mesmo dentro da família, procede da adoção. Cristo na cruz dizia a João: "João, eis aí a tua mãe", e à sua mãe: "Mulher, eis aí o teu filho". Não é a paternidade biológica, não são os laços de sangue que nos tornam irmãos e irmãs. O nosso DNA único e comum é um amor fraterno que desloca as fronteiras dos nossos preconceitos e dos nossos medos para mais longe.

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