Bispo observa que, na Ásia em geral, uma cultura de 'vergonha' impede que vítimas e famílias falem sobre a pedofilia
IG - A Igreja Católica inaugurou um centro internacional
online contra a pedofilia nesta quinta-feira, no encerramento de um
encontro de quatro dias com o objetivo de pôr fim a décadas de abusos
sexuais e ocultação.
Simpósio do Vaticano:
1º dia: Vaticano discute sobre abuso de menores por sacerdotes2º dia: Vítima irlandesa de padre pedófilo conta seu drama
3º dia: Casos de pedofilia custaram mais de US$ 2 bi à Igreja Católica
Cardeal Reinhard Marx participa de coletiva ao fim do simpósio sobre abuso sexual infantil em Roma
O novo Centro de Proteção à Criança terá sua sede na Alemanha, com
filiais na Argentina, Equador, Gana, Índia, Indonésia, Itália e Quênia,
buscando reunir pesquisas e outras maneiras de prevenir o abuso de
crianças por membros do clero.
O centro de 'e-learning' "é apenas uma parte da renovação da Igreja,"
disse o Cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique, em uma coletiva de
imprensa. "Esse momento histórico nos obriga a uma atitude, ao mesmo
tempo, de humildade e ação... A perda de credibilidade está longe do
fim, mas reconstruiremos nossa credibilidade passo a passo."
Após os quatro dias de debate, 200 líderes da Igreja escutaram uma
palestra sobre as diferenças culturais na Ásia diante do escândalo da
pedofilia. Essa reinão teve um papel, segundo vários participantes, de
formação de muitos bispos, que precisam trocar experiências sobre um
assunto que ainda é tabu.
Muitos temas, como a violação de deficientes ou o tratamento das
vítimas de abusos e de criminosos, foram abordados de maneira direta.
Desde maio do ano passado, bispos do mundo inteiro foram ordenados
pela Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé a desenvolver, no
período de um ano, dispositivos de luta contra a pedofilia, em
conformidade com os requisitos de Roma e de colaborar com a justiça
civil.
Esse simpósio, organizado pela Universidade Jesuíta, é uma etapa para
ajudar as conferências episcopais a cumprir este prazo, fornecendo
diretrizes claras e informações.
O arcebispo de Manila, Luis Chito Tagle, reconheceu nesta
quinta-feira que as conferências episcopais da Ásia ainda não colocaram
em ação as novas disposições, que por vezes são confrontadas com
dificuldades e com a não motivação de alguns bispos.
Quando são em pequeno número, por exemplo no Laos e no Camboja,
simplesmente não há condições de responder de forma rápida às
recomendações do Vaticano, observou.
Um especialista brasileiro e o arcebispo de Manila explicaram que as
diretrizes do Vaticano podem ser mal interpretadas pelos padres e fiéis.
Segundo o professor Edênio Valle, psicólogo conselheiro dos bispos
brasileiros, eles "não sabem o que devem fazer" contra a pedofilia,
"tolerada culturalmente".
"Nenhuma medida eficaz foi prevista pela igreja brasileira em curto, médio ou longo prazo", explicou Valle.
O bispo Tagle observou que na Ásia em geral, uma cultura de
"vergonha" impede que as vítimas e suas famílias falem sobre o abuso
pedófilo. Diante da imprensa, Tagle, nomeado no fim de 2011 arcebispo da
maior diocese da Ásia explicou que uma vítima dificilmente iria expor o
seu caso à justiça e procuraria de preferência a própria igreja.
Outra reação comum é a relutância: "Um pai deve entregar o seu
filho?", é uma reação que se ouve entre os bispos, quando se trata de
denunciar uma conduta de um padre.
De acordo com Tagle, o celibato imposto aos sacerdotes da Igreja
Católica deveria seria mais bem explicado, implicitamente reconhecendo
que é um problema. "Alguns acreditam que o celibato é apenas uma regra
que uma igreja conservadora decidiu manter por causa da tradição",
lamentou.
Reinhard Marx, arcebispo de Munique, admitiu que "os últimos dez
anos, vários líderes da igreja passaram a considerar prioridade proteger
as instituições e esconder a terrível verdade em vez de reconhecê-la em
todo o seu horror".
É precisamente a partir de Munique que deve ser gerado o centro
on-line, acessível para o mundo inteiro, incorporando os conhecimentos
mais atualizados sobre as múltiplas dimensões do problema da pedofilia.
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