sexta-feira, 15 de agosto de 2025

A Assunção da Virgem Maria

A Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, tendo completado o curso de sua vida terrena, foi elevada em corpo e alma à glória celeste. Na Assunção de Maria, contemplamos o que somos chamados a realizar no seguimento de Cristo Senhor e na obediência à sua Palavra, ao final de nossa jornada terrena.

A Assunção da Virgem Maria 

 

Homilia do Papa Bento XVI na Solenidade da Assunção da Virgem. 15 de agosto de 2009

A solenidade de hoje conclui o ciclo de grandes celebrações litúrgicas nas quais somos chamados a contemplar o papel da Bem-Aventurada Virgem Maria na história da salvação. De fato, a Imaculada Conceição, a Anunciação, a Maternidade Divina e a Assunção são etapas fundamentais, intimamente inter-relacionadas, através das quais a Igreja exalta e louva o destino glorioso da Mãe de Deus, mas nas quais também podemos ler a nossa própria história.  

O mistério da concepção de Maria evoca a primeira página da história humana, mostrando-nos que, no plano divino da criação, a humanidade deveria ter tido a pureza e a beleza da Imaculada Conceição. Esse plano, comprometido, mas não destruído pelo pecado, foi restaurado e reconstituído pela Encarnação do Filho de Deus, anunciada e realizada em Maria, para a livre acolhida da humanidade na fé. Finalmente, na Assunção de Maria, contemplamos o que somos chamados a realizar no seguimento de Cristo Senhor e na obediência à sua Palavra, ao final da nossa jornada terrena. 

A etapa final da peregrinação terrena da Mãe de Deus nos convida a olhar para o caminho que ela percorreu em direção à meta da eternidade gloriosa

No trecho evangélico que acabamos de proclamar, São Lucas narra que Maria, após o anúncio do anjo, "saiu e foi às pressas para a montanha" para visitar Isabel (Lc 1,39). Com isso, o evangelista deseja enfatizar que, para Maria, seguir sua vocação, dócil ao Espírito de Deus, que realizou nela a encarnação do Verbo, significa trilhar um novo caminho e sair imediatamente de casa, deixando-se guiar somente por Deus. Santo Ambrósio, comentando a "pressa" de Maria, afirma: "A graça do Espírito Santo não admite demora" (Expos. Evang. sec. Lucam, II, 19: pl 15, 1560). A vida da Virgem é guiada por Outro — "Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lucas 1,38) — moldada pelo Espírito Santo, marcada por acontecimentos e encontros, como o de Isabel, mas sobretudo pela sua relação muito especial com o seu filho Jesus. É um caminho em que Maria, conservando e meditando no seu coração os acontecimentos da sua vida, descobre neles de forma cada vez mais profunda o misterioso desígnio de Deus Pai para a salvação do mundo. 

Além disso, seguindo Jesus de Belém até o exílio no Egito, na sua vida oculta e pública, até os pés da cruz, Maria vive sua ascensão constante rumo a Deus no espírito do Magnificat, aceitando plenamente, mesmo no momento de escuridão e sofrimento, o plano de amor de Deus e alimentando em seu coração o abandono total nas mãos do Senhor, de modo que ela seja um paradigma para a fé da Igreja (cf. Lumen gentium, 64-65). 

Toda a vida é uma ascensão, toda a vida é meditação, obediência, confiança e esperança, mesmo em meio à escuridão; e toda a vida é essa "pressa sagrada", que sabe que Deus é sempre a prioridade e nada mais deve criar pressa em nossa existência. 

E, finalmente, a Assunção nos lembra que a vida de Maria, como a de todo cristão, é um caminho de seguimento, de seguimento de Jesus, um caminho com uma meta muito precisa, um futuro já traçado: a vitória definitiva sobre o pecado e a morte, e a plena comunhão com Deus, porque — como diz São Paulo em sua Carta aos Efésios — o Pai "nos ressuscitou e nos fez sentar com Ele nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Ef 2,6). Isso significa que, com o batismo, fundamentalmente já ressuscitamos e estamos sentados no céu em Cristo Jesus, mas devemos alcançar corporalmente o que o batismo já começou e realizou. Em nós, a união com Cristo, a ressurreição, é imperfeita, mas para a Virgem Maria já é perfeita, apesar do caminho que a própria Virgem teve que percorrer. Ela já entrou na plenitude da união com Deus, com seu Filho, e nos atrai e nos acompanha em nosso caminho. 

Assim, em Maria assunta ao céu, contemplamos aquela que, por um privilégio singular, se tornou participante, em corpo e alma, da vitória definitiva de Cristo sobre a morte. "Concluída a sua vida terrena", diz o Concílio Vaticano II, "foi assunta em corpo e alma à glória celeste e entronizada pelo Senhor como Rainha do universo, para se conformar mais plenamente ao seu Filho, Senhor dos senhores (cf. Ap 19,16) e vencedor do pecado e da morte" (Lumen gentium, 59). Na Virgem assunta ao céu, contemplamos o coroamento da sua fé, do caminho de fé que Ela indica à Igreja e a cada um de nós: Ela, que em cada momento acolheu o Verbo de Deus, foi assunta ao céu, isto é, ela mesma foi acolhida pelo Filho na "morada" que Ele nos preparou com a sua morte e ressurreição (cf. Jo 14,2-3). 

A vida humana na Terra — como nos recordou a primeira leitura — é um caminho constantemente percorrido na tensão da luta entre o dragão e a mulher, entre o bem e o mal. Esta é a situação da história humana: é como uma viagem num mar muitas vezes tempestuoso. Maria é a estrela que nos guia para o seu Filho Jesus, o sol que brilha sobre as trevas da história (cf. Spe Salvi, 49) e nos dá a esperança de que precisamos: a esperança de que podemos vencer, de que Deus venceu e de que, com o Batismo, entrámos nesta vitória. Não sucumbimos definitivamente: Deus ajuda-nos, guia-nos. Esta é a esperança: esta presença do Senhor em nós, tornada visível em Maria elevada ao Céu. "Ela (...)" — leremos em breve no prefácio desta solenidade — "é o conforto e a esperança do vosso povo, ainda peregrino na terra"

Com São Bernardo, cantor místico da Santíssima Virgem, a invocamos assim:

"Nós vos suplicamos, ó Santíssima Virgem Maria, pela graça que alcançastes, pelas prerrogativas que merecestes, pela misericórdia que gerastes, concedei que aquele que por vós se dignou compartilhar da nossa miséria e fraqueza, possa, por vossa intercessão, participar das suas graças, da sua bem-aventurança e da sua glória eterna, Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, que está sobre todos, Deus bendito pelos séculos. Amém" (Sermo 2 de Adventu, 5: pl 183, 43).

Homilia do Papa São João Paulo II na Solenidade da Assunção da Virgem. 15 de agosto de 1998

1. "Bem-aventurada aquela que creu, porque se cumprirão as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor!" (Lucas 1:45). 

Com estas palavras, Isabel acolheu Maria, que viera visitá-la. Esta mesma bem-aventurança ressoa no céu e na terra, de geração em geração (cf. Lc 1,48), e de forma singular na solene celebração de hoje. Maria é bem-aventurada porque acreditou imediatamente na palavra do Senhor, porque aceitou sem hesitação a vontade do Todo-Poderoso, que o anjo lhe revelara na Anunciação. 

Podemos ver na jornada de Maria de Nazaré a Ain Karim, conforme narrada no Evangelho de hoje, uma prefiguração de sua singular jornada espiritual, que, começando com o "sim" no dia da Anunciação, culmina precisamente em sua Assunção ao céu, em corpo e alma. É uma jornada rumo a Deus, sempre iluminada e sustentada pela fé. 

O Concílio Vaticano II afirma que Maria "progrediu na sua peregrinação de fé e conservou fielmente a união com o seu Filho até à cruz" (Lumen Gentium, 58). Por isso, com a sua beleza incomparável, agradou tanto ao Rei do universo que agora, plenamente associada a Ele em corpo e alma, resplandece como Rainha à sua direita (cf. Salmo Responsorial). 

2. Na solenidade de hoje, a liturgia convida a todos a contemplar Maria como a "mulher vestida de sol, tendo a lua por pedestal e coroada com doze estrelas" (Ap 12,1). Nela brilha a vitória de Cristo sobre Satanás, representada em linguagem apocalíptica como "um grande dragão vermelho" (Ap 12,3). 

Esta visão gloriosa, porém dramática, lembra à Igreja de todos os tempos o seu destino como luz no Reino dos Céus e a consola nas provações que ela deve enfrentar durante sua peregrinação terrena. Enquanto este mundo perdurar, a história será sempre o teatro do confronto entre Deus e Satanás, entre o bem e o mal, entre a graça e o pecado, entre a vida e a morte. 

Os acontecimentos deste século, que agora se encerra, também trazem consigo uma eloquência extraordinária sobre a profundidade desta luta, que marca a história dos povos, mas também o coração de cada homem e mulher. Ora, o anúncio pascal que acaba de ressoar nas palavras do apóstolo Paulo (cf. 1 Cor 15,20) constitui o fundamento de uma esperança segura para todos. Maria Santíssima, elevada ao Céu, é imagem luminosa deste mistério e desta esperança. 

3. ... Maria, glorificada em seu corpo, permanece hoje como uma estrela de esperança para a Igreja e para a humanidade, na jornada rumo ao terceiro milênio cristão. Sua estatura sublime não a distancia de seu povo e dos problemas do mundo; pelo contrário, permite-lhe vigiar eficazmente sobre os acontecimentos humanos, com a mesma solicitude com que obteve o primeiro milagre de Jesus durante as bodas de Caná. 

O livro do Apocalipse afirma que a mulher vestida de sol "estava grávida e gritava com dores de parto" (Ap 12:2). Isso nos lembra de uma passagem do apóstolo Paulo de fundamental importância para a teologia cristã da esperança. Na Carta aos Romanos, lemos: "Sabemos que toda a criação geme e sofre dores de parto até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente, desejando a adoção de filhos, pela redenção do nosso corpo. Pois fomos salvos em esperança" (Rm 8:22-24). 

Ao celebrarmos a sua Assunção ao céu, em corpo e alma, peçamos a Maria que ajude os homens e as mulheres do nosso tempo a viver com fé e esperança neste mundo, buscando o Reino de Deus em todas as coisas; que ajude os crentes a abrirem-se à presença e à ação do Espírito Santo, Espírito criador e renovador, capaz de transformar os corações; e que ilumine as mentes sobre o destino que nos espera, sobre a dignidade de cada pessoa e sobre a nobreza do corpo humano. 

 

Fonte - infocatolica

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...