Os protestantes modernos estão mais distantes de Lutero, Calvino e Zwingli do que esses revolucionários originais estavam do catolicismo do qual se separaram.
Por Mark Haas
Hoje, 31 de outubro, é o “Dia da Reforma”, que comemora a infeliz divisão entre protestantes e católicos em 1517. Quando olhamos para a turbulência do século XVI, tendemos a imaginar os reformadores protestantes como homens que rejeitaram o catolicismo por completo. No entanto, uma análise mais atenta revela algo mais matizado — e até irônico.
Martinho Lutero, João Calvino, Ulrico Zuínglio e Tomás Cranmer defendiam crenças profundamente católicas, muitas das quais são negadas pelos protestantes modernos. Seus próprios escritos mostram que os primeiros reformadores não estavam tão distantes de Roma quanto seus herdeiros espirituais costumam supor.
Lutero e a Presença Real
Consideremos a doutrina da Eucaristia. Hoje, muitos cristãos evangélicos interpretam as palavras de Cristo "Este é o meu corpo" (Lucas 22:19) como meramente simbólicas. Mas o próprio fundador do Protestantismo, Martinho Lutero, jamais as viu dessa forma. Pregando sobre João 6, Lutero declarou: "Ali temos a afirmação categórica que não pode ser interpretada de outra maneira senão como a de que não há vida, senão somente a morte, separada de Sua carne e sangue, se estes forem negligenciados ou desprezados" (Que Estas Palavras de Cristo, "Este é o Meu Corpo", Ainda Permanecem Firmes Contra os Fanáticos , 1527).
Para Lutero, embora rejeitasse a doutrina católica da transubstanciação, a presença de Cristo na Eucaristia era mais do que um símbolo. O Corpo e o Sangue do Senhor eram verdadeiramente dados e recebidos. Thomas Cranmer, o arquiteto da liturgia anglicana, também afirmou que a presença sacramental de Cristo era “real e eficaz” para o crente. Compare isso com a visão de muitos protestantes modernos — que veem a Ceia do Senhor como pouco mais do que uma refeição memorial — e a ironia se torna clara: os reformadores eram mais sacramentais do que seus sucessores.
De fato, durante os primeiros 1.500 anos após Cristo, todos os cristãos acreditavam que Jesus estava verdadeiramente presente na Sagrada Eucaristia.
Devoção Mariana
Outra continuidade notável diz respeito à devoção à Virgem Maria. Para muitos protestantes de hoje, a devoção mariana é descartada como "católica demais". Mas os próprios reformadores a honraram de maneiras que podem surpreender os evangélicos modernos.
Lutero a elogiou como “a mulher mais sublime e a joia mais nobre do cristianismo depois de Cristo”. João Calvino admitiu que ela recebeu “a mais alta honra” de Deus ao ser escolhida para gerar o Filho. Zwingli foi além, insistindo que a estima por Maria deveria crescer junto com o amor por Cristo.
Vale ressaltar que nenhum dos reformadores questionou sua virgindade perpétua. Zwingli escreveu com veemência: "Creio firmemente que Maria... no parto e após o parto permaneceu para sempre uma Virgem pura e intacta" (Uma Exposição da Fé , 1524).
Até mesmo Lutero, em 1544, chamou de "artigo de fé" que ela permanecesse virgem após o nascimento de Cristo. Em contraste, muitos protestantes modernos se revoltam até mesmo com a sugestão de sua virgindade perpétua, mostrando o quanto se distanciaram de seus fundadores.
Confissão e Absolvição
A confissão é outro exemplo. Lutero, que como monge às vezes se confessava várias vezes ao dia, nunca abandonou a prática. Em seus Artigos de Esmalcalda, ele insistiu: “Não permitirei que ninguém me tire a confissão privada, e não a trocaria por todos os tesouros do mundo” (Artigos de Esmalcalda, 1529).
Para ele, o conforto de ouvir a absolvição pessoal em nome de Cristo era essencial. Compare isso com os dias de hoje, em que a maioria das tradições protestantes abandonou completamente a confissão sacramental, substituindo-a por noções vagas de "ir diretamente a Deus". Aqui, novamente, os reformadores soam mais católicos do que seus sucessores.
Os Sacramentos e a Tradição Apostólica
É também revelador que os magistrais reformadores — Lutero, Calvino e Zwingli — não descartaram a teologia sacramental. Lutero manteve o Batismo e a Eucaristia como verdadeiros sacramentos instituídos por Cristo. Calvino reconheceu o Batismo, a Eucaristia e até mesmo uma forma de Penitência. Nenhum deles sugeriu que os sacramentos fossem meros símbolos, como muitas igrejas evangélicas fazem hoje.
Mais notável ainda é o respeito deles pela tradição. Lutero, embora rejeitasse os abusos, recorria aos Padres da Igreja. Calvino encheu suas Institutas com referências a Agostinho. Zwingli reconheceu a continuidade do nascimento virginal e do ensinamento apostólico.
Por que a separação?
A encíclica papal Exsurge Domine foi a resposta oficial do Papa Leão X às 95 Teses de Martinho Lutero, em 1520. A resposta aborda diligentemente 41 pontos de preocupação levantados por Lutero. Os 54 pontos restantes não eram motivo de preocupação para a Santa Sé, pois não envolviam escândalo. Portanto, nenhuma explicação foi necessária. Os pontos em questão foram abordados e, posteriormente, corrigidos pela Igreja.
O ponto de conflito imediato não foi a devoção a Maria, a crença na Eucaristia ou a confissão. Foram os abusos relacionados às indulgências, ao papado e às questões de autoridade. Esses abusos foram reconhecidos e corrigidos pela Igreja. A divisão nunca deveria ter acontecido. É hora de nossos irmãos e irmãs protestantes retornarem e voltarem para casa.
Isso levanta a questão: Por que a divisão?
Lições para hoje
Nos 500 anos que se seguiram, o protestantismo fragmentou-se em dezenas de milhares de denominações, muitas vezes contradizendo-se em doutrinas básicas. Enquanto isso, a Igreja Católica continua a proclamar uma só fé e uma só vida sacramental. A advertência de São Paulo aos Coríntios permanece verdadeira: “que todos vocês estejam de acordo e que não haja divisões entre vocês” (1 Coríntios 1:10). O próprio Cristo orou “para que todos sejam um” (João 17:21).
A ironia é inegável. Os reformadores estavam mais próximos do catolicismo do que muitos protestantes de hoje, e, no entanto, as divisões se multiplicaram além de qualquer coisa que pudessem ter imaginado. A Igreja Católica, apesar de todas as suas falhas humanas, permanece o único corpo que mantém unidas a Presença Real, a devoção mariana, a confissão sacramental e a tradição apostólica — justamente aquilo que Lutero, Calvino, Zwingli e Cranmer afirmaram.
A mensagem principal não é romantizar os reformadores, mas reconhecer que a verdade católica é mais duradoura do que as disputas passageiras da história. Se os primeiros reformadores conseguiram manter essas convicções católicas, talvez os protestantes modernos também possam redescobri-las. O convite permanece: voltem para a plenitude da fé, para a Igreja Católica, onde o Corpo de Cristo continua a nutrir, curar e unir.
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Fonte - crisismagazine

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