[bibliacatolica]
6 fevereiro 2012Fonte: http://voxfidei.blogspot.com/
Tradução: Carlos Martins Nabeto
É preciso estar no mundo da lua para não perceber a frequência com que os vampiros aparecem na cultura popular atual:
Um
dos programas de televisão mais populares dos últimos anos foi “Buffy, a
Caça-Vampiros” (Buffy, the Vampire Slayer). O livro de Anne Rice,
“Crônicas do Vampiro” (Vampire Chronicles), continua sendo amplamente
lido. O canal HBO apresenta atualmente um programa sobre vampiros
chamado “True Blood”. Wesley Snipes protagonizou “Blade”, uma série de
três longa-metragens sobre vampiros. E um dos filmes de maior sucesso
ultimamente é “Crepúsculo” (Twilight): uma história de amor entre
adolescentes mortais e vampiros. Como explicar esse interesse permanente
nesta matéria?
É óbvio que a astuta apresentação do mercado tem
muito a ver com o sucesso desses programas, porém, creio que existam
também outras razões. Na ordem espiritual há uma lei, semelhante à lei
da conservação de energia, que expresso desta maneira: “quando se suprime o sobrenatural, o ser humano busca expressá-lo de uma forma indireta ou distorcida”.
Nos últimos 50 anos, temos presenciado a atenuação da visão bíblica do
mundo, que em alguns ambientes foi totalmente suprimida.
Em outras
oportunidades, queixei-me do Secularismo entediante e sem graça que
simplesmente põe de lado tudo o que é espiritual, o sobrenatural e o
transcendente. Esta separação da dimensão religiosa é incentivada pela
cultura do consumismo que nos ensina de mil maneiras que o prazer
sensual e a riqueza material são as chaves da felicidade. Para a
mentalidade secular, Deus é, quando muito, uma força distante e
indiferente; Jesus, um guru; e a vida eterna, uma infantil fantasia.
No
entanto, pela lei que expressei acima, o sobrenatural não pode ser
suprimido. Instintivamente se procura a Deus e um mundo que transcenda o
âmbito da experiência comum; somos naturalmente preparados para isso e
por isso o nosso desejo – deformado pela cultura que nos cerca – produz
uma versão distorcida dessa transcendência, uma espécie de
espiritualidade de segunda categoria. É aí que surge na cultura o mundo
dos vampiros! Apreciemos uma característica deste universo alternativo:
Longe
de beber o sangue das suas vítimas, o que distingue os vampiros é a
imortalidade: eles retornam da morte e são eternamente jovens. Embora a
ideologia materialista que nos rodeia insista que não somos nada além de
animais bastante inteligentes que se dissolvem na morte, no fundo
sabemos que somos mais do que isso. Em nós existem – como disse
Cleópatra na obra de Shakespeare – “nostalgias imortais”, pois somos
ligados – queiramos ou não – ao Deus eterno que existe fora do tempo.
Quando se suspende o sentimento religioso da imortalidade, produzimos
estas raras alternativas imaginárias, como esses vampiros que não podem
morrer. Digo “alternativa” porque a autêntica imortalidade não tem nada a
ver com a vida sem fim neste mundo; ao contrário, tem mais a ver com
ser transportado para fora do tempo, para o âmbito eterno de Deus.
Contudo, quando estamos espiritualmente vazios, a alternativa mórbida do
mundo dos vampiros nos fascina.
Há pouco tempo, encontrei uma
frase magnífica de Anne Rice, a autora que mencionei acima e que
escreveu uma série de novelas que iniciaram toda esta moda de vampiros.
Ela dizia que o personagem de Louis, o gênio torturado entrevistado em
sua já famosa primeira novela, é uma evocação de muitos amigos que ela
teve nas décadas de 1960 e 1970, pessoas mergulhadas na miasma do
secularismo pós-cristão. Como o vampiro da estória, não podiam encontrar
a saída para a sua situação. A angústia existencial do vampiro de Anne
Rice corre em paralelo com a angústia da geração secular, sedenta de
todas as coisas que a sua cultura lhes negou. E o que torna a observação
de Anne Rice mais fascinante é que ela mesma encontrou o caminho
através da miragem secularista de sua geração e chegou, assim, em
Cristo. Há apenas 10 anos, Anne Rice reencontrou-se com a vívida
imaginação e a profundidade intelectual da fé de sua juventude e, a
partir de então, tem dedicado o seu trabalho totalmente ao Senhor. Até
agora publicou dois volumes de uma série sobre a vida de Jesus, contada
em 1ª pessoa, e seu texto mais recente é o começo de uma nova série de
novelas sobre os anjos. Também garantiu que, apesar dos pedidos de
muitos dos seus admiradores, nunca mais voltará a escrever outra novela
sobre vampiros. O que me resulta fascinante aqui é que quem tornou
“chique” os vampiros conseguiu passar desta falsa visão do sobrenatural
para adotar com entusiasmo a verdadeira visão.
O Catolicismo de
Anne Rice me recorda o Catolicismo que desempenha um papel importante na
novela original de Bram Stocker sobre Drácula. Stoker, um irlandês do
século XIX, inseriu a sua lenda dentro da narrativa do pecado, da graça e
da redenção. No relato de Stoker, Drácula havia amaldiçoado a Deus e
caiu em uma condição infernal (o que explica a sua aversão ao
Crucifixo). O professor Van Helsing, um cientista e fiel devoto (sim,
definitivamente é possível ser ambos!), ajuda o vampiro a encontrar a
salvação. Nesta novela, os temas católicos abundam: a Eucaristia, a
Missa, a Vida Eterna etc. Com efeito, no final do século XIX era
possível encontrar o relato de vampiros dentro do marco da História
Cristã. O que encontramos hoje é um triste declínio, onde os contos de
vampiros são o pálido substituto de um robusto Cristianismo.
—–
O Pe. Robert Barron é autor de “Why Is Everyone Crazy About Vampires?” (Por que Todos estão Loucos pelos Vampiros?), publicado pela Catholic New World, de 19.10.2009. Foi ordenado em 1986 pela Arquidiocese de Chicago. Possui Mestrado em Filosofia pela Universidade Católica da América e Doutorado em Teologia pelo Instituto Católico de Paris. É professor de Teologia Sistemática na Universidade de St. Mary of the Lake, Mundelein Seminary. É autor de: “And Now I See: A Theology of Transformation” (Agora eu Enxergo: uma Teologia de Tranformação), “Thomas Aquinas: Spiritual Master” (Tomás de Aquino: Mestre Espiritual), “Heaven in Stone and Glass: Experiencing the Spirituality of the Great Cathedrals” (Paraíso em Pedra e Vidro: experimentando a espiritualidade das grandes catedrais), “Eucharist (Catholic Spirituality for Adults)” (Eucaristia – Espiritualidade Católica para Adultos), “Priority of Christ” (A Prioridade de Cristo), “Toward a Postliberal Catholicism” (Rumo a um Catolicismo Pós-Liberal) e “Word on File: Proclaiming the Power of Christ” (Palavra no Arquivo: Proclamando o Poder de Cristo). Utiliza o seu canal no YouTube para atingir uma maior audiência, oferecendo valiosas lições de uma fé viva pela indicação de coisas que podemos aprender a partir da observação de personagens populares da TV e do cinema.
O Pe. Robert Barron é autor de “Why Is Everyone Crazy About Vampires?” (Por que Todos estão Loucos pelos Vampiros?), publicado pela Catholic New World, de 19.10.2009. Foi ordenado em 1986 pela Arquidiocese de Chicago. Possui Mestrado em Filosofia pela Universidade Católica da América e Doutorado em Teologia pelo Instituto Católico de Paris. É professor de Teologia Sistemática na Universidade de St. Mary of the Lake, Mundelein Seminary. É autor de: “And Now I See: A Theology of Transformation” (Agora eu Enxergo: uma Teologia de Tranformação), “Thomas Aquinas: Spiritual Master” (Tomás de Aquino: Mestre Espiritual), “Heaven in Stone and Glass: Experiencing the Spirituality of the Great Cathedrals” (Paraíso em Pedra e Vidro: experimentando a espiritualidade das grandes catedrais), “Eucharist (Catholic Spirituality for Adults)” (Eucaristia – Espiritualidade Católica para Adultos), “Priority of Christ” (A Prioridade de Cristo), “Toward a Postliberal Catholicism” (Rumo a um Catolicismo Pós-Liberal) e “Word on File: Proclaiming the Power of Christ” (Palavra no Arquivo: Proclamando o Poder de Cristo). Utiliza o seu canal no YouTube para atingir uma maior audiência, oferecendo valiosas lições de uma fé viva pela indicação de coisas que podemos aprender a partir da observação de personagens populares da TV e do cinema.
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