Por Mons. Juan Straubinger
I
"Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro", diz o Anjo a São João Evangelista, após lhe revelar os mistérios do Apocalipse (Ap 22,7). Portanto, é uma bênção guardar essas palavras. Observe que guardar não significa cumprir, pois não se trata de mandamentos; é uma questão de guardar. Guardar — ou "guardar", como diz o latim — significa conservar as palavras no coração, como fez a Santíssima Virgem Maria com as do Evangelho (Lc 2,19 e 51). Este é o significado da expressão de São Paulo quando nos diz: "Habite em vós ricamente a Palavra de Deus" (Cl 5,16). Além disso, o segredo de toda Palavra de Deus consiste precisamente nisto: guardá-la ou preservá-la é o que a leva ao cumprimento, como afirma claramente o salmista: "Guardei as tuas palavras no meu coração, para não pecar contra ti" (Sl 28,11).
Esta bem-aventurança, transmitida pelas misteriosas palavras da Profecia do Apocalipse, estende-se a todos, como fica claro desde o início (Ap 1:3): “Bem-aventurado aquele que lê e ouve as palavras desta profecia e guarda as coisas que nela estão escritas, porque o tempo está próximo.”
Esta afirmação de que “o tempo está próximo” é repetida diversas vezes na profecia e é apresentada como a razão de sua existência: “Não seles (isto é, não escondas) as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo” (XXII, 10). Compare isso com o que Deus diz a Daniel, ao contrário, falando desses mesmos tempos do retorno de Cristo: “Mas tu, Daniel, guarda para ti cestos de palavras e sela o livro até ao tempo determinado; muitos o examinarão e tirarão dele muita doutrina” (Dn 12, 4).
Essa comparação de ambos os textos nos leva à conclusão de que, se então, no tempo de Daniel, algumas profecias deviam ser seladas, hoje é necessário, ao contrário, que as conheçamos. Se assim fosse, se o esplendor das maravilhas de bondade e grandeza que Deus revelou ao homem fosse conhecido por todos os cristãos; se soubessem que São Paulo nos revela mistérios ocultos de Deus que nem mesmo os anjos conheciam (Ef 3,9 e 10), como seu interesse e amor pela religião aumentariam! Enquanto isso, hoje os bispos europeus (Bispo Landrieux de Dijon, Bispo Girbeau de Nîmes, etc.) lamentam a inadequação do ensino catequético, por ter se tornado "uma soma de mandamentos e um catálogo de pecados, desprovido de contato com a pessoa de Cristo", que é o Mestre e como tal é mostrado nas Escrituras.
O Anjo do Apocalipse compara aqueles que guardam as palavras desta profecia aos profetas (Ap. XXII:9), e Deus atribui tamanha importância insuperável ao conhecimento desta Revelação que, além das bem-aventuranças já citadas, encerra este Livro, que é o ápice de toda a Revelação divina, com estas terríveis ameaças: "Agora, eu advirto a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as pragas escritas neste livro. E se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que estão escritas neste livro" (Ap. XXII:18 e 19, texto grego).
II
Diante destas palavras de Deus, confirmamos claramente o que já sabíamos do Evangelho: que no cristianismo não há nada que permaneça um mistério reservado a poucos eleitos. "O que eu sussurro ao vosso ouvido, pregai sobre os telhados", disse Cristo em suas instruções aos Doze Apóstolos (Mt 10,27). Ao sumo sacerdote que o interroga sobre sua doutrina, ele diz: "Falei abertamente ao mundo... e nada disse em segredo... interrogai aqueles que me ouviram" (Jo 18,20 ss.). Portanto, quando a Igreja nasceu, no momento da morte do Redentor, o véu que escondia os mistérios do Templo rasgou-se de alto a baixo (Mc 15,58).
É tempo, então, de que o véu que os impede de conhecer Aquele que é a Luz caia dos olhos dos nossos irmãos; e de que desapareça a incompreensão que afasta as almas da fonte da Água Viva, como se fosse veneno.
Ainda hoje, apesar de tantas palavras insistentes dos Sumos Pontífices recomendando a leitura diária da Bíblia, há quem ouse dizer com ousadia que essas coisas são perigosas, como se a Palavra de Deus, que é "purificada sete vezes" (Sl 11,7), pudesse conter veneno corruptor, quando o Espírito Santo disse que ela "transforma as almas... e dá sabedoria às crianças" (Sl 18,8), e Cristo ensina que elas a entendem melhor do que os sábios (Mt 11,25). Ai daqueles que afastam as almas da Palavra de Deus! A eles, aos falsos profetas, São João Crisóstomo aplica aquela terrível maldição de Cristo contra os sacerdotes de Israel, que ocultaram a Sagrada Escritura, que é a chave do céu. “Ai de vós, homens da Lei, que guardastes para vós a chave da ciência! Vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam para entrar” (Lucas 11:52).
III
Se para muitos a Bíblia em geral deixou de ser o livro da espiritualidade, quanto mais o Apocalipse? Já no século VII, o Quarto Concílio de Toledo foi forçado a excomungar os padres que não a explicassem todos os anos nas Missas, da Páscoa ao Pentecostes (Enchiridion. Biblicum nº 24). O que diriam os Padres do Concílio se vissem como o Apocalipse se tornou hoje o livro menos lido e mais esquecido da Bíblia?
“Bem-aventurado aquele que lê e ouve as palavras desta profecia” (Apocalipse 1:3). Leiamos, então, sem medo, a tremenda e dulcíssima profecia do Apocalipse. Tremenda para os traidores de Cristo; dulcíssimo para “aqueles que amam a sua vinda” (2 Timóteo 4,8) e aspiram aos mistérios da felicidade prometida nas Bodas do Cordeiro. A respeito deles, São Jerônimo diz: “O Apocalipse de São João contém tantos mistérios quanto palavras; e pouco digo com isso, pois nenhum louvor se compara ao valor deste livro.”
Notemos que não lê-lo e não crer nele é precisamente o sintoma de que essas profecias estão prestes a se cumprir, como disse Cristo: “Como aconteceu no tempo de Noé, assim será no tempo do Filho do Homem: comiam e bebiam, casavam-se e celebravam casamentos, até o dia em que Noé entrou na arca. E veio o dilúvio e os destruiu a todos. Como aconteceu nos dias de Ló: comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam casas. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu e os consumiu a todos.” (Lucas XVII:26-29).
Leiamos o Apocalipse. E o que não entendemos, leiamo-lo repetidamente, e estudemo-lo, e busquemos sacerdotes piedosos e bons livros que nos expliquem, não segundo as ideias dos homens, mas segundo a luz da própria Sagrada Escritura. Esta ocupação de decifrar os mistérios de Deus é a única digna dos sábios, diz Sirácida (XXXIX, 1 ss.). Não pela curiosidade doentia daqueles que tentam adivinhar os acontecimentos políticos deste ou daquele país, mas pelo desejo de conhecer e admirar cada vez mais os sublimes desígnios de Deus para o homem, e de poder extrair deles um fruto crescente de caridade.
Leiamos especialmente o Apocalipse durante o tempo do Advento, no qual a Santa Igreja deseja preparar-nos, como se vê em toda a liturgia, para a segunda vinda de Cristo triunfante. Desde a primeira antífona das Matinas, a Mãe Igreja clama, como se fosse uma trombeta de triunfo: "Ao Rei e Senhor que há de vir, vinde, adoremos-o."
IV
A primeira Encíclica de Sua Santidade Pio XII confirma a nossa compreensão dos conceitos que delineámos. O Papa começa recordando o 40º aniversário da consagração do gênero humano ao Coração de Cristo por Sua Santidade Leão XIII, e declara que deseja "fazer do culto ao Rei dos Reis e Senhor dos Senhores (Ap. XIX, 6) a oração do intróito deste Nosso Pontificado". Ele então faz uma declaração verdadeiramente transcendental com as seguintes palavras: "Não poderíamos talvez aplicar (ao nosso tempo) a palavra reveladora do Apocalipse: Tu dizes que sou rico e abundante e não preciso de nada; e tu não sabes que és miserável e miserável e pobre e cego e nu"? (Ap. III, 17)
Além dessas referências ao Apocalipse, o Sumo Pontífice expressa sua convicção de que estamos "no início das dores anunciadas por Jesus em seu discurso escatológico" (Mt. XXIV, 8). Um apelo tão veemente do Papa deveria despertar as consciências cristãs "para que compreendam que a Parusia, ou segunda vinda de Cristo, é verdadeiramente o alfa e o ômega, o princípio e o fim, a primeira e a última palavra da pregação de Jesus, que é sua chave, seu desenvolvimento, sua explicação, sua razão de ser, sua sanção; que é, em suma, o acontecimento supremo ao qual tudo o mais se refere e sem o qual tudo desmorona e desaparece" (Cardeal Billot, La Parousie, 9).
O Cardeal Primaz do nosso país nos deu um exemplo desse interesse pela Parousia de Cristo e pelo livro escatológico que a explica, ao adotar como lema em seu brasão a palavra que encerra e resume todo o Apocalipse: "Vem, Senhor Jesus!"
In: Straubinger, Monsenhor Juan. Espiritualidade Bíblica, Plantín, Buenos Aires, 1949, pp. 183-188.
Fonte - peregrinodeloabsoluto
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